Sempre pensei que a inspiração há de ter um limite. Sim, não é para sempre que o artista estará cheio daquilo que o move, da energia que o leva a produzir sua arte outrora tão apreciada e cheia de... energia. Os exemplos são vários. Tanto que, como na vida biológica, some o artista de cena. Então, nesse momento, por alguma razão que foge a uma explicação hipoteticamente necessária, pensamos naquele artista que anda sumido. “Onde anda o Elton John que nunca mais compôs uma daquelas suas músicas marcantes?” É um exemplo. Assim, cadê o Elton John?, pergunto agora. Creio que os escassos leitores me entendem...
Fiz o comentário
acima porque há tempos não escrevo. Não que queira me comparar a gigantes da
literatura ou coisa que o valha, nada disso. Não chego nem perto. Pelo simples
fato de ter deixado de produzir aquilo que seria minha catarse, minha válvula
de escape, minha pilhéria do dia-a-dia, pensei que, também eu, um escritorzinho
de quinta “catigoria”, teria me esvaziado da energia que me impelia a escrever.
E isso não é bom. Afinal, ando cheio de sentimentos, de paixão, de amor, de
vontade de vida... de saudades... sim, saudades. Disse alguém, acho que uma
criança, que saudade é o amor que fica. Só em citar o Elton John já demonstra
meu grau e tipo de saudade. Eu complementaria a linda definição de saudade acrescentando
que, se o amor é algo que fica, é porque algo não fica. Algo se foi. Algo partiu.
Algo não mais existe.
Aprendi que a
vida é perda. Na vida, tudo perdemos. Aos poucos ou de uma só vez. À medida que
perdemos, crescem as saudades. Nunca morre os que ou o que perdemos, até que
morramos nós mesmos. Nossa memória, e somente ela, mantém vivas nossas perdas. Nossa
última perda, a da própria vida, leva-nos ao profundo sono no qual as memórias
se vão e com elas as saudades. Nossa própria morte é o alívio final. Sofrem os
que nos choram, e aí com eles ficam nossos amores, vivos em suas memórias de
sofridos viventes.
Conclui-se, com essas
breves e parvas reflexões, que aprender a viver é o mesmo que aprender a lidar
com as perdas. Se pararmos de nos torturar e deblaterar sobre as perdas,
viveremos melhor. Mas... e daí? (Acaba-me de chegar, na rede social e enquanto
escrevo, a notícia da morte de um amigo.)
O que ocorreu foi
o seguinte.
Amorim ja completou 60. É homem com 60 anos nos
couros há mais de 6 meses. Vamos e
venhamos, o que significa ter 60 anos? Dizia o meu querido amigo Raimundo
Araújo, das bandas dos Montes Claros nas Minas Gerais, que tem gente que não
sabe nem quando está com fome. Eis aí, de fato e de vera, na definição implícita
de maturidade de meu Raimundo, o que significaram ao Amorim seus rasos 60 anos
(o leitor vai me permitir uma emoção mais que sincera) – porra nenhuma! Indo
direto às vias de fato, a maturidade emocional do Amorim aos 60 anos seria igual
ou ainda pior que a de um garoto de 15 anos. (Seria igual, estou na dúvida, às
de um de 12?)
Tudo bem, tudo
bem... não sejamos tão radicais. Vamos contemporizar...
Como posso eu emitir uma opinião tão contundente sobre o amigo?, indagará
alguém. Como resposta direi apenas o seguinte: o homem segue fazendo o que
sempre fez desde exatamente os 15 anos de idade. Se precisar dizer mais, direi.
Mas fiquemos com esse único e mísero critério. Fazer o mesmo desde os quinze
anos não funciona nem para escovar os dentes, que dirá para tomar decisões,
fazer ou não fazer “cagadas”, chorar ou não chorar como uma criança de 5, pagar
as contas, etc. etc. etc.
Pois foi nesse
cenário que sobreveio a grande catástrofe – um suposto amigo do Amorim a “defender-lhe”
dos verdadeiros amigos que tentavam, a pedido do próprio, ajudar-lhe na tomada
de algumas decisões. O detalhe aí é a busca do Amorim por ajuda. Ninguém se
intrometeu voluntariamente e se arvorando o direito de interferir na vida do
querido amigo. Assim, disse o “deblaterador”, se achando o máximo defensor do
amigo em perigo iminente de sério risco diante de... amigos: “E deixem o Amorim
tomar suas decisões. Ele é adulto e
conhecedor de sua vida.”
Não há dúvidas que o homem é adulto. Afinal, tem
mais de 60 anos. Que conhece sua vida, idem, tanto que sabe ter feito um monte
de merda a vida inteira. O que o “deblaterador” não sacou, e não sacou porque
talvez ele próprio também ainda beba nas aguas impuras da imaturidade, foi que falta
ao Amorim a lição que ensina a perder. Por mais que a vida lhe bata na cara –
já perdeu pai e mãe – o homem não atinou, não atina. O outro, o falso amigo, de
que serve? A nada, eis a resposta. Uma lamúria. Uma lástima.
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