Não sei se viram, deu no jornal.
(Devo admitir: - passei um tempão sem ler esses tediosos e repetitivos periódicos, mas a disponibilidade de tempo foi a razão de meu lamentável retrocesso.)
Pois, como ia dizendo, deu no jornal que vão retirar as árvores do canteiro central das avenidas Santos Dumont e Dom Luís. É parte de um plano “emergencial” para tentar melhorar o trânsito naquelas regiões da cidade. Segundo a matéria, as árvores serão transplantadas para outros locais ou calçadas das próprias avenidas. A região, caso a vegetação seja removida para outros locais, ficará sem o verde.
Deu também que 11 vereadores e 17 deputados estaduais esticaram o carnaval e não apareceram na quinta, depois das festas, para trabalhar. Estou ansioso pela edição de sexta. Nela há de vir a informação sobre a freqüência desses senhores ao trabalho ao último dia da semana. Se soubesse da presepada desses malandros homens públicos, teria também esticado e não teria ido trabalhar. Dirá alguém que os digníssimos parlamentares tudo podem, ao passo que eu... quem sou eu? Um reles funcionário público que o governo detesta. Se faltasse, cortariam o meu ponto e descontariam de meu salário, fazendo uma boa economia para os cofres governamentais. Em resumo: - eu, sozinho, sairia perdendo.
Na área da (in)segurança a novidade é que durante o carnaval mataram 71 pessoas no estado do Ceará. A autoridade da pasta da segurança, à divulgação dessa informação, tomou a atitude mais inusitada possível: - indignou-se, na pessoa não sei se do secretário da pasta ou se de outro graúdo de lá. Achou o homem que a comparação desse número com o do ano passado é indevida porquanto a festa ocorreu em datas diferentes. Vê-se bem como o mau gestor adora surfar na maionese do falso tecnicismo para tentar justificar o injustificável. Enquanto se discute as técnicas estatísticas, morre-se cada vez mais. E sobre as causas da insana violência nem um pio.
O que fica bem evidente com todas essas matérias, mais uma vez, é o verdadeiro retrocesso a que me deixei submeter ao voltar a ler jornais. Até porque nossa realidade é a mais palpável possível. De boca em boca nossas mazelas nos chegam ao colo, sem a menor necessidade de esforço da leitura dessas mídias inúteis. Isso sem falar em seu conhecidíssimo estilo chapa-branca.
Por exemplo, vamos à realidade. Outro dia, não faz tempo, conheci um médico das forças especiais da Organização das Nações Unidas, ONU. Brasileiro, filho único de embaixadores, concluiu o curso de medicina na Inglaterra, se não me engano, por força da mobilidade extrema de seus pais. Estávamos à uma mesa de bar e eu, como colega, morria de curiosidade em saber sobre seu estilo de vida. Relatou-me algumas de suas missões em zona de guerra. Diante de tais relatos, vi-me aterrorizado e concluí: - a guerra moderna, onde se usam armas de poder letal incomensurável, é a mais notória evidência de desumanidade e desamor. Como nunca, em tempo algum, o homem deixou de guerrear, pode-se deduzir facilmente que do ser humano não se pode esperar muito. Em seu relato ficou evidente que médicos em zona de guerra servem a uma atividade muita conhecida de nós, brasileiros: - a atividade de fazer de conta que se está fazendo algo.
Dirá alguém que estou sendo duro, que não é bem assim, que a presença dos médicos nessas zonas é necessária e faz a diferença, etc. etc. etc. Em suma: - uma lengalenga medonha, como também nos é bastante característico. Pergunto: - qual será a taxa de mortalidade dos feridos nessas zonas? Ninguém sabe. Ou se sabe, mas não se divulga. Por exemplo, no Ceará se sabe que a taxa de mortalidade pelas lesões provocadas na intenção de matar é altíssima. Dizem até que ultrapassa a de zonas de conflito armado declarado. A diferença é justamente essa: - lá o conflito está declarado. O sujeito chega pro outro e diz: -“Segura aí que lá vai tiro”!... E o outro vai em casa, pega sua pistola e cava ali perto uma trincheira a fim de se defender do inimigo confesso.
Aqui não. Ou, como querem nossos sociólogos esquerdistas, os excluídos estão a vir sobre a “elite” a fim de cobrar sua histórica dívida. Só que os esquerdistas brasileiros são a elite da elite e não se consegue entender como a elite está a investir sobre si mesma. Fica, então, uma bruma onde se tem a impressão de que todos os gatos são pardos.
Eu não ia dizer nada disso. Eu ia dizer que, hoje pela manhã, tencionava submeter um pobre cidadão lesionado em acidente de motocicleta a uma amputação. (A propósito, a população de jovens mutilados no Estado cresce quase que diariamente. Geralmente são jovens vitimados pela falta de oportunidades e solenemente desprezados pela mesma elite esquerdista que vocifera e "reivindica" o ressarcimento da histórica dívida social. Você, caro leitor, que pensa que isso não te diz respeito, saiba que é você quem está pagando essa conta.) Há quase doze anos no poder, o governo esquerdista não tomou as medidas que, de fato, quitariam, no prazo médio e longo, a referida dívida. Apenas medidas para se perpetuar indefinidamente no poder: - medidas populistas e inúteis. O país segue pior que aos tempos da direita.
Como ia dizendo, a operação que pretendia realizar quase não foi possível porque a sala de recuperação pós-anestésica estava lotada – de fato, abarrotada – de pacientes lesionados por arma de fogo antes de ontem em tumultos de rua. Os tumultos ocorreram no contexto de uma partida de futebol chamada de "clássico rei". Torcedores dos dois times, qual homens das cavernas de tribos rivais, transformaram as ruas em praça de guerra. Oito pessoas chegaram logo depois ao hospital vitimadas por ferimentos por arma de fogo. Mais uma vez é o dinheiro que sai do bolso do trabalhador que vai financiar os gastos excessivos com o resultado da também inútil violência de nosso dia-a-dia.
E por falar em dinheiro, ia dizer que, após o resultado das eleições da Unimed Fortaleza, lembrei-me de uma frase de Robert Kiyosaki, conhecido guru das finanças. Dizia ele várias vezes em seus livros: -"Dinheiro é um assunto emocional". Foi o seguinte.
Poucos dias depois da derrota da chapa situacionista, cruzo ali no corredor do hospital com um amigo, integrante daquela e participante da diretoria da gestão anterior. O salário do amigo era o quê?, uns vinte mil reais. Pois garanto aos estimados leitores: - o homem nem me viu. Passou a quinze centímetros de mim e não me viu. Também pudera. Vinha cabisbaixo, macambúzio, sorumbático... Dir-se-ia ser a personificação da tristeza e da melancolia. Antes uma potência de felicidade e bom humor, agora a encarnação da angústia e da dor...
Agora pergunto: - tem ou não razão o Kiyosaki?
Fernando, ótimas observações. Pode passar 1 ano sem ler ou ouvir o jornal, que quando o fizer, os fatos serão os mesmos, mudando apenas os personagens. E publique o seu texto novamente que estará atual.
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