As manchetes dão conta de que o Neymar xingou um torcedor ao final e
durante as comemorações, ainda em campo, pela vitória da seleção olímpica de
futebol frente à seleção da Alemanha. E não somente as manchetes, mas um vídeo
gravado n’algum telefone portátil de outro torcedor próximo ao lugar onde
ocorreu o entrevero também circula por aí para quem quiser ver a cena.
Assisti ao curto vídeo por várias vezes, mas confesso – não consegui ouvir da boca do jogador o xingamento inusitado. O áudio da filmagem não conseguiu captar o que o jogador dizia. Como não sou dado à leitura labial, não “vi” nenhum dos hipotéticos palavrões ditos por ele.
Contudo, a imagem
é clara – o homem estava endiabrado. Foi e voltou duas ou três vezes à beira das
cadeiras onde estavam os torcedores e, bufando como um animal enfurecido, se
esgoelava e gesticulava para eles.
(Já crescia em mim a impressão de que o Neymar se parecia com o Cristiano Ronaldo. Sim, para mim o Neymar seria o nosso Cristiano Ronaldo sem as afetações narcisistas e acrescido da deselegância e falta de polidez e decoro.)
A certa altura ele soca a bancada de defronte as cadeiras derribando algum objeto que lá estava. Ouve-se apenas a comemoração dos torcedores clamando carinhosamente seu nome, felizes com a vitória do escrete brasileiro. Seu surto destoava gritantemente do que bradava a torcida e mesmo do momento de comemoração. Dir-se-ia uma atitude inteiramente inoportuna, uma aberração, um disparate.
Quem pensa que foi só isso, engana-se. A coisa foi pior, bem pior. O jogador tinha amarrada à cabeça uma fita branca onde estava escrito “100% Jesus”. A ação de desequilíbrio foi um fragoroso atentado contra a natureza do Cristo, cuja mansidão permanente revelava Seu caráter amoroso e compassivo. Neymar publicamente pisava a mansidão da Divindade e nem por uma fração de segundo se deu conta do ato tresloucado. (Ao que consta, Jesus enfureceu-se em vida apenas uma mísera e solitária vez, contra os vendilhões que ocupavam o templo e o transformavam em praça de comércio.) A natureza da índole do jogador foi, assim, exposta para o mundo todo ver e rever quantas vezes quiser.
Agora, vejam os leitores como o futebol é um esporte esquisito. Quem de mim duvidar, duvidará por sua conta e risco. As olimpíadas estiveram aí por três ou quatro semanas. Inúmeras modalidades esportivas estavam competindo e assistiram-se incontáveis disputas. Ao mais desavisado e casto espectador e torcedor deve ter transparecido a extravagância que é o futebol. Sim, o futebol, que assim não era, de repente tornou-se o esporte onde, hoje em dia, tudo acontece. No futebol tudo é diferente dos outros esportes. Minto. Não é no futebol – é no futebol brasileiro.
O futebol brasileiro, que um dia pretendeu ser o melhor do mundo para sempre e contrariando o princípio da efemeridade de Buckminster Fuller, está literalmente acabado. Nada é o melhor para sempre e, é bem possível, nada permanece ruim indefinidamente. Assim, os ex-bons estão péssimos. Basta assistir a quinze minutos de um jogo da nossa seleção para se perceber que o melhor já passou; que as repetidas safras de craques que permeavam constantemente nossos campos minguou; e que, é verdade, aqui e ali surge um ou outro bom jogador, mas a nossa massa crítica de estrelas está longe de ser atingida já faz um bom tempo. Neymar é um desses raros que se destaca com a bola no pé, mas nada que encante e que nos lave a alma. Diante de tantas nulidades, seu futebol ganha certa importância ao ponto de torná-lo necessário. Eis aí tudo.
O que chamo de esquisito em nosso futebol é justamente quando se junta a mediocridade com a boçalidade num único atleta. Sim, porque não existe o troglodita em casa que se torne um lord na rua. Ou o sujeito é ou não é. E não me venham com a desculpa de que os ânimos estavam exaltados, ou a de que a juventude invariavelmente carrega consigo esses arroubos de homem das cavernas. O Brasil viu no passado inúmeros jovens jogadores que se portavam como verdadeiros cavalheiros em campo, na vitória e na derrota. Quem já assistiu a um Falcão jogar, sabe do que estou falando; quem já viu a atitude e o futebol de um Ademir da Guia há de entender onde quero chegar; e nem falo de Pelé que esse é conhecido até em Plutão. Mané Garrincha, que nasceu humilde, viveu humilde e morreu mais humilde ainda, subia a serra para jogar com os peladeiros de Pau Grande, sua cidade natal ainda que já fosse a sensação do momento.
Enfim, a sensação de vergonha se sobrepõe à vitória de domingo não pelo resultado nem pela forma como se chegou até ela, mas pelos nítidos sinais de que retrocedemos muito. E não falo apenas no futebol e do futebol. Refiro-me a toda essa falta de finesse e délicatesse promovida por atleta anfitrião considerado líder de sua equipe cujo exemplo foi o pior possível.
Assisti ao curto vídeo por várias vezes, mas confesso – não consegui ouvir da boca do jogador o xingamento inusitado. O áudio da filmagem não conseguiu captar o que o jogador dizia. Como não sou dado à leitura labial, não “vi” nenhum dos hipotéticos palavrões ditos por ele.
(Já crescia em mim a impressão de que o Neymar se parecia com o Cristiano Ronaldo. Sim, para mim o Neymar seria o nosso Cristiano Ronaldo sem as afetações narcisistas e acrescido da deselegância e falta de polidez e decoro.)
A certa altura ele soca a bancada de defronte as cadeiras derribando algum objeto que lá estava. Ouve-se apenas a comemoração dos torcedores clamando carinhosamente seu nome, felizes com a vitória do escrete brasileiro. Seu surto destoava gritantemente do que bradava a torcida e mesmo do momento de comemoração. Dir-se-ia uma atitude inteiramente inoportuna, uma aberração, um disparate.
Quem pensa que foi só isso, engana-se. A coisa foi pior, bem pior. O jogador tinha amarrada à cabeça uma fita branca onde estava escrito “100% Jesus”. A ação de desequilíbrio foi um fragoroso atentado contra a natureza do Cristo, cuja mansidão permanente revelava Seu caráter amoroso e compassivo. Neymar publicamente pisava a mansidão da Divindade e nem por uma fração de segundo se deu conta do ato tresloucado. (Ao que consta, Jesus enfureceu-se em vida apenas uma mísera e solitária vez, contra os vendilhões que ocupavam o templo e o transformavam em praça de comércio.) A natureza da índole do jogador foi, assim, exposta para o mundo todo ver e rever quantas vezes quiser.
Agora, vejam os leitores como o futebol é um esporte esquisito. Quem de mim duvidar, duvidará por sua conta e risco. As olimpíadas estiveram aí por três ou quatro semanas. Inúmeras modalidades esportivas estavam competindo e assistiram-se incontáveis disputas. Ao mais desavisado e casto espectador e torcedor deve ter transparecido a extravagância que é o futebol. Sim, o futebol, que assim não era, de repente tornou-se o esporte onde, hoje em dia, tudo acontece. No futebol tudo é diferente dos outros esportes. Minto. Não é no futebol – é no futebol brasileiro.
O futebol brasileiro, que um dia pretendeu ser o melhor do mundo para sempre e contrariando o princípio da efemeridade de Buckminster Fuller, está literalmente acabado. Nada é o melhor para sempre e, é bem possível, nada permanece ruim indefinidamente. Assim, os ex-bons estão péssimos. Basta assistir a quinze minutos de um jogo da nossa seleção para se perceber que o melhor já passou; que as repetidas safras de craques que permeavam constantemente nossos campos minguou; e que, é verdade, aqui e ali surge um ou outro bom jogador, mas a nossa massa crítica de estrelas está longe de ser atingida já faz um bom tempo. Neymar é um desses raros que se destaca com a bola no pé, mas nada que encante e que nos lave a alma. Diante de tantas nulidades, seu futebol ganha certa importância ao ponto de torná-lo necessário. Eis aí tudo.
O que chamo de esquisito em nosso futebol é justamente quando se junta a mediocridade com a boçalidade num único atleta. Sim, porque não existe o troglodita em casa que se torne um lord na rua. Ou o sujeito é ou não é. E não me venham com a desculpa de que os ânimos estavam exaltados, ou a de que a juventude invariavelmente carrega consigo esses arroubos de homem das cavernas. O Brasil viu no passado inúmeros jovens jogadores que se portavam como verdadeiros cavalheiros em campo, na vitória e na derrota. Quem já assistiu a um Falcão jogar, sabe do que estou falando; quem já viu a atitude e o futebol de um Ademir da Guia há de entender onde quero chegar; e nem falo de Pelé que esse é conhecido até em Plutão. Mané Garrincha, que nasceu humilde, viveu humilde e morreu mais humilde ainda, subia a serra para jogar com os peladeiros de Pau Grande, sua cidade natal ainda que já fosse a sensação do momento.
Enfim, a sensação de vergonha se sobrepõe à vitória de domingo não pelo resultado nem pela forma como se chegou até ela, mas pelos nítidos sinais de que retrocedemos muito. E não falo apenas no futebol e do futebol. Refiro-me a toda essa falta de finesse e délicatesse promovida por atleta anfitrião considerado líder de sua equipe cujo exemplo foi o pior possível.
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