Foi o senhor Luiz Brignoni, antigo paciente do ambulatório,
quem chegou anunciando o terremoto italiano. Falou em 38 mortos e uma centena
de desaparecidos. Ele, uruguaio que é, exclamava:
–“Algo horrible! Horrible!”
Somente depois de dois dedos de prosa sobre o triste
evento natural ele veio confessar-me os males que o afligem...
Chegando ao condomínio dou de cara com o Mateus, o
italiano mais brasileiro que conheço, emigrado há muito da Lombardia. Ao me
ver, chamou meu nome como a me anunciar para um discurso, naquele modo italiano
bem pouco discreto e bastante efusivo:
–“Ferrnánndo”!...
A julgar pelo sorriso aberto, a tragédia não
parecia lhe afetar nem um pouco. Não fosse eu a trazer à baila o assunto, nosso
fortuito encontro se resumiria a seu brado retumbante e ao abraço que trocamos:
–“Soubeste do tremor em Itália”?, indaguei.
Ele serenou o semblante demonstrando um leve pesar
e disse:
–“Sim... em Peruggia, na Umbria”...
...e saiu a anunciar o número de mortos e
desaparecidos até então. Dali entramos no elevador. (Moramos no mesmo andar.)
Pouco antes de a porta se abrir ele bradou, com
aquele vozeirão italianado:
–“Bem podia ter sido em Nápoles! aquela vergonha,
aquele lugar vergonhoso...”!
Não pude deixar de gargalhar diante daquela
revolta nativa por certa região de sua terra, como aqui também fazemos a
propósito de um ou outro lugar do país. Saí a lembrar-me de “Gomorra”, do
italiano Roberto Saviano – “a história real de um jornalista infiltrado na
violenta máfia napolitana”. Concluí que ele há de ter lá suas razões.
E nós? Estaríamos necessitados de um desses?
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