Há tempos não leio meu próprio blog e confesso – me esqueci
completamente que tenho um blog. Os amigos mais chegados dirão que estou a
fazer pilhéria, que isso não tem o menor fundamento etc. etc. O fato é que está
ele lá. É só conferir. Há quanto tempo não lhe acrescento uma frase, uma
vírgula, um ponto de exclamação? Diria até que bem merecia que lhe ocupasse
hoje uma página inteira com um enorme ponto de interrogação. Sim, porque há uma
questão aqui. E grave, diga-se de passagem. Por que, em nome de todos os
santos, esqueci-me de meu blog?
Haverá alguém a
argumentar que tenho republicado antigos textos à rede social, e direi que,
sim, é verdade. Entretanto, devo dizer que o fiz com a automaticidade de um
robô. É possível que a atitude tenha sido consequência de um tipo de ato falho
ou coisa que o valha. Contudo, nada disso apaga o fato incontestável – a última
página do blog permanece lá, sem acréscimos, sem atualizações. Aos dias de hoje
tal “atitude virtual” há de levantar nefandas suspeitas sobre o destino do
autor. Vejam, por exemplo, a rede social. Em cem anos estará repleta de perfis
defuntos. O sujeito tem lá a sua página e, súbito, morre. Dali em diante
cessa-lhe também a vida virtual. É possível que o mesmo não ocorra se morrer
apenas na virtualidade, mas as suspeitas serão inevitáveis, repito. Assim,
antes de mais nada, afirmo categoricamente: estou vivinho da silva.
(Há amigos que jamais nasceram para a vida das
redes sociais. São nonatos virtuais. Jamais deram as caras em qualquer “sala”
virtual. Estão livres das exposições alheias e resguardados de suas próprias.
Nem todo mundo quer ver a nudez dos outros; nem todo mundo cede ao ímpeto de
propagar-se a si mesmo arrojadamente e inescrupulosamente.)
Percebo agora que não era nada disso o que eu
queria falar. Voltemos ao assunto do blog, e volto à pergunta – por que me
esqueci dele? Penso, penso, penso... e concluo sem delongas – não faço a menor
ideia. Sim, não faço a menor ideia do porquê desta amnésia particular. Não me
fez falta sua ausência. Dele não senti saudades. É provável que também ele não
tenha se dado conta de meu sumiço. Paciência. Pior que isso – os leitores, o
mínimo que pude angariar, não perceberam. Como eu disse, há aqui uma grave
questão.
Pior está o Temer com o pepino da “crise
penitenciária” brasileira. Ora! Não há crise penitenciária! Há, isso sim, uma
gravíssima crise na segurança pública que se arrasta há décadas e ninguém,
nenhum governante, teve coragem de a encarar por puro populismo. O Temer, com
sua baixíssima popularidade, tem todas as credenciais para dar o pontapé
inicial. É mais ou menos óbvio que sua atuação tem limites aqui. Com um Código
Penal imprestável e um sistema judiciário mais imprestável ainda, não há muito
o que Temer possa fazer, mesmo do alto de sua elevadíssima impopularidade, de
quase 90%.
Bem se vê como o destino nos ensina as lições mais
inesperadas da vida. Aprendemos recentemente que a pior qualidade que um
político pode ter é a alta popularidade. Quem diria...! Quanto mais elevada a
popularidade de um governante, menos ele fará, menos será capaz de fazer. Ao
sujeito muito popular falta a coragem de fazer o que deve ser feito, donde se
conclui que governar é um exercício de fomentar o ódio presente a fim de,
talvez, quem sabe, colher o amor futuro. Ou pelo menos o respeito futuro. Acima
de tudo, temos aprendido que governar exige responsabilidade,
equilíbrio e senso de alteridade. O povo, as massas, os ajuntamentos são ignorantes,
irresponsáveis e cruéis. Demanda do governante a que satisfaça seus instintos
mais primitivos e a que tome as decisões mais inconsequentes e insensatas, o
que reforça a necessidade imperiosa da impopularidade governamental. Não nos
esqueçamos: as massas se esgoelavam e gritavam exalando ódio e babando pelo
canto da boca – “Crucifica-o! Crucifica-o!”
Minha grave questão, repito, é o blog. Eu disse
que tenho um blog esquecido. Na verdade, tenho três. O mais recentemente esquecido
torna-se agora objeto dessas reflexões, uma vez que nele concentro minhas
impudicas e reprováveis reflexões, ou onde deposito umas poucas histórias do
dia-a-dia. Os outros? Quem porventura der com eles à busca de um assunto
qualquer, há de imaginar que o autor já é morto e que seus ossos há muito jazem
secos numa campa quente e úmida...
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