Estou preso num hiato do tempo ou, melhor, estou preso no próprio tempo, um tempo que não se esvai de mim, que de mim não passa. Ele persiste, teima em permanecer, em ficar. Como uma obsessão ele fica, vai ficando...
Ligo a música. Ela me transporta, me leva... E vou... Aqui, onde me trouxe a música, me deleito; vejo, ouço, encontro a quem já há tempos não encontrava, a quem já partiu já nem sei há quanto tempo. Amigos, familiares, mendigos do portão da escola, eles revivem, estão aqui comigo agora, embalados e trazidos pela música que ora ouço...
Eu a conheço, a música. Eu a quero aqui comigo, eu a escolho, porque é ela minha máquina do tempo, a que me transporta a lugares onde com prazer, alegria e felicidade já estive. Se pudesse o teria parado, o tempo, para que jamais passasse e os levasse de mim...
Insisto na música, a toco novamente, a escolho repetidas vezes... É ela quem fende os portais que apenas a aceleração da luz, dizem, poderia romper. Olho lá fora e vejo o dia que se vai esvaindo; uma tarde melancólica cuja luz fere o céu azul turquesa, triste e cálida, mais ainda ao som daquela música a tocar na mente, na memória, quase no ouvido, quase no mundo real. Uma sonolência me acode e quero desfalecer como um desejo de morte sufocado, suscitado por essa nostalgia profunda, por essa certeza inconsolável e impotente...
Nem a noite que chega, completamente estabelecida e negra, é tão cruel e dolorosa como a tarde chorosa e inexorável; a tarde, a agonia; a noite, o sono permanente e sereno, como a eternidade da saudade e da inexistência, bálsamo da dor do amor que ficou...
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