Eis que estou ali no Hospital Geral e encontro o meu querido amigo Marcílio Adjafre. Pergunto-lhe: -"E o Canadá"? (Esteve recentemente no Canadá visitando a filha que lá estuda.) Respondeu-me: -"Uma maravilha. Anda-se a toda hora e não se vê um policial. Como aqui". Bem claro está que, aqui, estamos necessitados de mais policiais, ao passo que, no Canadá, nem necessários eles são.
Adjafre queria falar da Andréa, uma colega de turma que lá reside há vinte anos. Falou da Andréa, de como vive bem por lá com seus filhos e seu marido. Eis que, de tanto falar do Canadá, lembrou-se de outro contemporâneo da faculdade, o amigo Helly Ellery. Também o Ellery tem uma filha que estuda no Canadá e frequentemente é visto por lá.
Helly é um muito amado amigo, mas tem um defeito gravíssimo: - é comunista. Falar que o homem tem uma filha a estudar no Canadá e que lá vai com frequência chega a confundir o pobre observador dessa vida louca. Comunistas deveriam pôr seus filhos a estudar em Cuba, ou na Venezuela, ou... onde mais? que outros países comunistas existem? A China não conta. A China inventou o comunismo capitalista, ou o capitalismo comunista, ou seja lá o que for que eles fizeram para politicamente oprimir o povo ao mesmo tempo que demonstram todo mês ao mundo a pujança de sua economia. Assim, o meu querido Helly seria mais coerente se pusesse a filha a estudar na Venezuela, ou em Cuba, ou – vá lá! – na China. (Só agora lembro que faltou a Coréia do Norte.)
(Não resta a menor dúvida de que o senhor Hugo Chavéz foi dos poucos comunistas coerentes que se viu por esses tempos. Fez questão de ir tratar-se em Cuba. Lá foi duas ou três vezes, se não me engano, buscar cuidados médicos para o câncer que o matou recentemente. Os nossos grandes comunistas, por exemplo, tratam-se por aqui mesmo, mas não se utilizam da rede pública. Preferem o Albert Einstein ou o Sírio Libanês que seus seguros saúde lhes garantem, pagos com o dinheiro do contribuinte. Vejam que os comunistas desta terra, entre os serviços públicos de saúde de seus irmãos ideológicos e nossos excelentes hospitais particulares alimentados por gordos "recursos capitalistas", preferem os últimos.)
Ontem, no IJF, o meu amigo Ciro Ciarlini foi categórico: - o Brasil não é um país viável. O "culpado" disso, segundo ele, é o homem conhecido como "o patriarca da Independência", José Bonifácio de Andrada e Silva. De fato, o jornalista e escritor Laurentino Gomes bem o demonstra em sua trilogia 1808, 1822 e 1889. Para o Bonifácio, que depois foi para o ostracismo e morreu amargurado, a manutenção de Dom Pedro I no Brasil importava por duas razões: - frustrar a pretensão portuguesa de levar o país de volta ao status de colônia e, após a Independência, mitigar a tendência de fragmentação do império em várias nações. Pois ele conseguiu manter a unidade nacional e, graças a isso, o país é hoje esse enorme território ingovernável, inadministrável e, por conseguinte, inviável como nação.Terá razão o Ciro? Há uma incoercível suspeita de que, sim, tem razão o Ciro.
Veja-se, por exemplo, o que se vive hoje no país. Dois facínoras assaltaram um cidadão que estava pilotando sua motocicleta na rua. (Quando se fala em assalto, implícito está o uso de violência e/ou de grave ameaça.) Queriam tomar o veículo do outro. Os bandidos usavam, eles próprios, uma motocicleta. O garupa portava uma arma de fogo e a apontava para o cidadão, que tudo registrou porque usava, na ocasião, uma câmara de filmagem acoplada ao capacete. Toda a cena foi gravada. Não há o que opinar. O fato está lá tal qual sucedeu.
Quando o marginal senta à motocicleta alheia, recebe voz de prisão de certo policial que estava próximo e assistia à cena. O bandido, então, lhe aponta a arma. O policial, não tendo outra alternativa, efetua dois disparos e o derruba. Segundo consta, atingiu-lhe no membro inferior e no abdômen. Em seguida, checa a situação do baleado, solicita socorro médico e pede reforço policial para o local.
Onde está o norte? Como sabermos se agiu certo o agente da lei? (Observem que o agente da lei tem regras a seguir até mesmo na abordagem de um declarado marginal em ação flagrantemente delituosa!) Há o Código Penal. Em seu artigo 23 diz ele que "não há crime quando o agente pratica o ato: II- em legítima defesa; III- em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito".
Qual foi a minha surpresa quando vejo, estarrecido, a matéria dando conta da punição do policial! O governo do estado – o fato aconteceu na província de São Paulo – entendeu que o agente da lei não agiu de acordo com a mesma. A essas alturas nem se sabe o que farão com o marginal assaltante. Paira a forte suspeita de que será tratado com todas as honrarias de injustiçado histórico.
O Ciro tem toda razão. Pobres dos que ainda pensam e têm alguma esperança de que vinguemos como nação. Diz o velho ditado: - a esperança é a última que morre... mas morre. A minha se esvaiu para sempre ao testemunhar este horrível episódio. (Atentem: o horrível não é o bandido baleado durante sua ação criminosa. Horrível, tétrica, apavorante e indignante é a punição do policial que atuou em legítima defesa e em cumprimento do dever. Qualquer dúvida quanto aos rumos do país será fruto de uma esperança infundada e recalcitrante.)
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