É bem sabido que o homem é o conjunto de suas atitudes. É sabido também que palavras e atitudes são frequentemente inconciliáveis. O que são palavras? Resposta: - palavras nada são. Principalmente se emitidas por políticos e por gestores de instituições públicas. E mais. Palavras não são ouvidas por todos, ao passo que a atitude gera ondas de admiração, ou de indignação, que alcançam os mais remotos pontos do globo terrestre. Por exemplo, o caso do segundo assassinato perpetrado ontem nas dependências do hospital público administrado pela Prefeitura de Fortaleza, o Instituto Dr. José Frota (IJF).
A título de fazer um assustador exercício de memória, lembro aos pouquíssimos leitores de além-mar que no dia 31 de julho do ano passado um menor invadiu as dependências desse mesmo IJF e assassinou a tiros um desafeto que lá se encontrava internado (http://umhomemdescarrado.blogspot.com.br/2013/08/saudades-da-paz.html). À época, a publicação de meu texto gerou, entre alguns amigos que se alinham inteiramente com a gente do poder estadual e municipal por conta da manutenção de seus cargos, uma particular "indignação". Um deles ligou-me para me cobrar uma postura mais amena, mais amistosa para com o prefeito. Afinal, ele estaria imbuído dos melhores propósitos e intenções, e estaria fazendo o que pode, um esforço hercúleo, com o propósito de solucionar os problemas desta paupérrima e desafortunada cidade. Disse mais o meu amigo, a respeito do assassinato em plena repartição pública; disse que o assassino alvejou sua vítima fora do hospital e não lá dentro, como afirmei em meu texto. Ficou comprovado: - o crime ocorreu nas dependências do hospital. Vejam, então, que a atitude de meu amigo nada mais é do que a atitude de meio Brasil. Meio Brasil tem interesse unicamente e exclusivamente em seus próprios interesses, como é o caso com os nossos políticos. Vê-se bem que meio Brasil age exatamente da mesma forma que os políticos que elege. Assim, não admira que um seja a cara do outro, políticos e eleitores.
Agora, precisamente ontem, um homem adentrou calmamente o ambiente da Emergência do IJF e sapecou cinco – repito: - cinco – tiros de revólver naquele que queria ver morto. O resultado, segundo os propósitos do agressor, foi o melhor possível. A vítima, que ao que consta estava sendo socorrida devido a lesões sofridas em acidente automobilístico, não teve a mínima e a menor chance. Morreu quase instantaneamente.
É digno de nota o seguinte: - este é o fato. Tergiversar sobre ele é um exercício rotundo de canalhice e mau-caratismo. O sujeito não entrou atirando, nem fez reféns, nem veio acompanhado de sua gangue.
Os cinco tiros podem ser questionados. O médico legista há de contar no cadáver o número de orifícios, enquanto o pessoal da balística dirá quantas cápsulas foram deflagradas. Dirá alguém que o homem morreu em consequência das lesões causadas pelo acidente, o que é uma possibilidade, mas as testemunhas, seus socorristas, hão de contribuir para provar se prestavam atendimento a um defunto ou a uma vítima de lesões decorrentes de um abalroamento.
O meu amigo, que não é nem besta e quer defender seus interesses, assim como ametade do Brasil, há de fuçar em suas opiniões aquela que apele a meu coração, numa demonstração de boa vontade para com os administradores municipais. O diabo é conciliar os malditos, persistentes e incômodos fatos às mais diversas e recalcitrantes opiniões. (Diz o Robert Kiyosaki que, se não se pode demonstrar que algo é um fato, então é apenas e tão-somente uma opinião.)
Nada disso tem a menor importância, eis a grande verdade. A grande verdade é que esse elemento, o assassino, entrou pela porta da frente do hospital levando consigo uma arma de fogo na intenção de atirar, na intenção de matar. E logrou êxito. Temos um cadáver, mas poderíamos ter mais de um, inclusive o de um funcionário público em pleno exercício de suas funções.
Não é de agora, nem de hoje, nem de há uma semana, nem de há meses que o pessoal da enfermagem deste hospital IJF vem, reiteradas vezes, comunicando a seus chefes e superiores, senhoras e senhores sisudos e compenetrados, as agressões verbais e atitudes hostis de que têm sido vítimas, durante seus turnos de plantão, por parte dos pacientes-bandidos e acompanhantes-bandidos que ocupam as enfermarias deste horroroso hospital. (Atente-se que há pacientes lá internados que não se enquadram na categoria "bandido". São pessoas doentes "de doença" ou vítimas dos criminosos.)
O Código Penal brasileiro, em seu artigo 331, diz que é crime "desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela", e comina uma pena de "detenção de seis meses a dois anos ou multa" para o criminoso. As agressões e desacatos são diários, horários, quase contínuos, mas nenhum funcionário dignou-se a fazer uma queixa-crime na delegacia distrital. Por quê?, perguntarão os mais inocentes e os mais diabólicos. A resposta é simples: - o Estado não tem poder para oferecer proteção ao cidadão comum e, por conseguinte, ao funcionário público agredido e ameaçado em pleno exercício de suas funções. Esses funcionários temem, com toda razão, serem alvos fáceis à vendeta desses facínoras. Transpostos os muros do hospital, cada um que se cuide.
A partir de 31 de julho de 2013 os muros do hospital nada mais puderam deter. Aquela data – hoje tomamos plena consciência desta terrível verdade – marcou o início do impensável: - as ruas de Fortaleza transitam nos corredores do Instituto Dr. José Frota. Em menos de 1 ano dois crimes de morte por arma de fogo ocorreram nas dependências deste indigno nosocômio. Se havia alguma dúvida sobre a postura da Superintendência e da Direção do IJF quanto às queixas e súplicas de seus funcionários em seus reclames por segurança, já hoje não há mais: - covarde e abjeta é a atitude desses sisudos e compenetrados senhores e senhoras. Promessas, e promessas, e promessas... Reuniões, e reuniões, e reuniões, e reuniões... Uma atitude própria de canalhas.
A Secretaria de Saúde do Município, à qual o IJF se liga no organograma da gestão municipal, e a própria Prefeitura menos ainda fazem ou fizeram. Quiçá jamais tenham sequer tomado conhecimento dos terríveis e diários fatos que estão a ocorrer no cerne desta repartição. Se sabem e nenhuma atitude resolvente tomam, só se pode concluir o seguinte: - são criminosamente omissos. (Quem sabe de um crime em andamento e não o denuncia ou o impede tendo poderes para fazê-lo, é cúmplice.) Se os órgãos superiores nada sabem em razão da omissão dos gestores do hospital, ainda assim teriam a obrigação de saber. Em ambos os casos, os gestores do hospital são igualmente criminosos por terem conhecimento dos crimes e nada fazerem para impedi-lo.
Não chegam a ser surpresa os assassinatos nas dependências do IJF. Do jeito que vão as coisas nesta horrível cidade, com a omissão criminosa e coletiva de seus gestores; com a completa falta de segurança em ruas, avenidas, praças, transporte público, praias, shopping centers, lojas, bancos, condomínios, edifícios comerciais, hospitais particulares, etc.; com a atitude passiva da população como vaca em corredor da morte para o abate, nada há de diferente a se esperar. O crime tornou-se ubíquo; ultrapassou limites até há pouco impensáveis e intransponíveis. Ninguém está a salvo; ninguém está seguro. Este cenário se transporta ao IJF porque, sendo ele um hospital que atende vítimas da violência, ela, a violência, lá "deságua" em toda sua plenitude, em toda sua ferocidade, em toda sua nudez e hediondez.
Os gestores do IJF saibam: - seu caráter e sua consciência estão sendo testados. Caráter e consciência são diretamente proporcionais. Dos gestores públicos nada esperemos. Afinal, eles são os maiores canalhas de toda essa tragédia. Sua consciência não lhes amola nem um pouco...
Concordo com tudo aqui falado e hoje presenciei uma cena lamentável, onde um Dr. foi chamado de vagabundo.
ResponderExcluirTerá sido eu, da parte um Dr. Diretor e após ler-me o texto?
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