É cruel
o envelhecer.
Mal comecei e
já faço uma pausa para um comentário. Não sei se já observaram as pessoas
portadoras da trissomia 21. Se não, sugiro que os leitores pensem no personagem
de Tom Hanks em Forrest Gump,
película de 1994 dirigida por Robert Zemeckis.
Forrest
é basicamente um sujeito de inteligência limitada. Em criança, sua mãe se viu
obrigada a “sair” com o diretor da escola onde queria matriculá-lo justamente
porque ele se recusava a recebê-lo como aluno. O ato de prostituição da séria
senhora abriu as portas para aquele garoto tímido e retraído cujo baixíssimo QI
não se adequava aos requisitos da instituição. Por outro lado, Forrest cresceu
leal, amoroso, manso, doce, dono de uma infinita capacidade de amar e de criar
fortes laços afetivos com todos os seres humanos com quem se relacionou. Não
era portador da trissomia 21, mas era como se fosse...
Diz o
Stephen Convey que “a inteligência não é santa”. A frase, longe de abarcar
todos os seres dotados de alguma inteligência, aponta justamente para aqueles
que a têm em menor quantidade, em menor fulgor, limitada, e nos evidencia
aquilo que a vida não se cansa de tentar nos mostrar enquanto seguimos teimando
em não enxergar – a imensurável beleza da inocência, da pureza do caráter e do
espírito.
(Ia
fazer um breve comentário e acabei por cansar o leitor com uma divagação tola.)
No
último sábado aconteceu mais um encontro dos amigos Maristas formados no
longíquo ano de 1979. Hoje homens e mulheres acima dos 50 – homens e mulheres
de meia-idade –, gastaram a noite a relembrar a juventude numa típica tertúlia
dos anos '70. Houve até quem fosse trajado a caráter, exibindo calças
boca-de-sino, sapatos cavalo-de-aço e chinós black
power. A trilha sonora, desnecessário dizer, foi toda ela uma playlist do que se ouvia nqueles gloriosos e
inesquecíveis anos para nós dourados. O ambiente foi decorado de modo a
reproduzir a atmosfera da época o que, digamos logo, foi o quesito mais
difícil já que aos dias de hoje seria literalmente impossível alugar para uma
festa em casa uma luz negra, item característico e indispensável às tertúlias
daqueles anos. Faltou, portanto, e por culpa da distância no tempo, a luz
negra. É bem verdade que usava-se naquele tempo, quando os recursos do anfitrião
eram limitados, enrolar uma luz comum em papel rôxo no intuito de produzir uma
imitação da luz negra, mas creio que nem mais o tal papiro seja hoje possível
achar.
O
encontro reservou aos presentes, como sempre, uma ebulição de emoções. Não é sempre
que se revê periodicamente amigos e conhecidos de 40 anos atrás. Passa o tempo,
mas não passa a emoção de revê-los; passa o tempo, mas é nossa vontade que não
passe mais; passa o tempo e a saudade não se esvai... Pois é justamente aí que
está a crueldade do envelhecer – envelhece o corpo enquanto o espírito da
criança irrompe de suas profundezas como a larva do vulcão que acorda de seu
prolongado e profundo sono.
Assim,
vemos nesses encontros não o homem ou a mulher de meia idade, mas a inocente e
pura criança que conhecemos, correndo nos pátios e corredores como se a vida
fosse infinita. O tempo presente nada mais é do que o momento seguinte em que
fisicamente mudou a criança sem jamais ter mudado sua essência e seu core. É bem possível que haja, é
verdade, várias camadas suporpostas a essa essência e onde, ao invés de dormir
a criança, lá ela se oculta e se esquiva, como se temesse ser revelada. Um e
outro tipo existe entre nós, pululando pelas estradas da vida. Porém, tão logo
se vejam uns à frente dos outros, imediatamente se revelam independentemente do
tipo, destemidas e desejosas de anunciar sua presença. Foi assim no último
sábado e sempre assim será todas as vezes em que se aproximem.
Chamou-me a atenção neste meeting um achado inesperado, assaz curioso e,
por que não dizer, cômico. Infelizmente não tenho como provar e justamente por
isso é que peço aos amigos que tenham em seu poder fotografias do evento que as
escrutine com cuidado em busca dos detalhes que passo a expor.
Observem, por exemplo, o garçom que servia uísque. (Havia dois garçons: um
circulava servindo uísque e o outro permanecia no bar preparando coquetéis.)
Pois o do uísque chamou-me a atenção tão logo lhe pus os olhos. Era um jovem de
rosto pouco mais ou menos afilado, de tez morena e cabelos encaracolados. Usava
óculos de grau cuja armação remontava às que se usavam nos anos '50 e '60. Vestia a um passeio completo preto. Olhei e pensei: –“Conheço esse cara”! Daí a
poucos segundos matei a charada – senador Magno Malta. O cara era a cara do
senador Magno Malta! Faltavam-lhe apenas os olhos claros, o que não comprometia
a semelhança como um todo, e sobravam-lhe os óculos, já que o parlamentar não
os usa. Daí em diante passei a notar outras semelhanças entre nossos amigos e
alguns famosos.
Observem, por exemplo, a semelhança entre o nosso Sérgio Moura e o Lulú Santos,
não somente pelas cãs mas pelo formato do rosto e porte físico. A vantagem
estética pende claramente para o nosso Sérgio, já que o Lulú ganhou com os anos
umas bochechas enormes, ao passo que o amigo segue com as faces regulares.
Diria até que o Lulú seria uma caricatura de nosso Moura.
O meu
amigo Bacana, Antônio Torres Braga, notei – tem uma semelhança incomum com o
Timothy Hutton. O ator tem olhos claros, mas apenas isto faltou ao Bacana para
se parecer mais com o artista, sem esquecer que o marista fez também na vida
suas “novelas” e “artistagens”. Gente não famosa também tem o direito às
comédias da vida privada, ora pois...
Outra que me
pareceu uma similitude surpreendente foi a do nosso grande e querido
cardiologista Ricardo Pereira Silva com o ator Sylvester Stallone. Conversando
animadamente com ele percebi, subitamente, e principalmente ao sorriso, a
parecença brutal e incontestável com o ator e criador de “Rocky, o lutador”.
Uma vantagem para o nosso Ricardo é a musculatura facial ágil e em pleno
funcionamento, ao contrário da do Sylvester que ainda sofre as sequelas de uma
paralisia.
Faltou
à tertúlia outro que muito se parece com um famoso, o nosso Fábio “Menotti”
Motta. Sua semelhança com o ex-técnico da seleção argentina já foi comentada
antes
(http://umhomemdescarrado.blogspot.com.br/2015/08/menotti-motta-e-as-tres-raparigas.html)
e faço o comentário apenas para lhe puxar as orelhas pela ausência
injustificável.
Enfim,
à medida que passava a hora notava cada vez mais semelhanças entre os nossos e
os famosos, mas termino por aqui para que não saiam a dizer que eu estava de
pileque e vendo coisas demais. Mas posso garantir ao Jorge Bastos e sua
Virgínia, nossos anfitriões – que o uísque estava bom, isso estava!
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