sexta-feira, 14 de junho de 2013

Paz para todos!

               Entre ideias e ideias, entre alertas e manifestações de “apoio” do Governo do Estado, foi ontem para as ruas o Movimento Fortaleza Apavorada. As ideias que assombraram o movimento foram e ainda são, posto que ele não esteja enfraquecido ou morto, tão ou mais assustadoras que o Fantasma do Palácio da Abolição. Do Palácio o Fantasma incomoda com sua retórica coativa, ao passo que as ideias incomodam por sua futilidade, inanidade e inutilidade. E por que condeno as ideias que assombram o Fortaleza Apavorada? A resposta é muito simples: - o Movimento não é um movimento de ideias, não propõe ideias, não condena ideias nem se propõe a inventar a roda. O Movimento é o grito de terror e de dor de quem já sentiu na própria pele a dor e de quem sente na pele a dor alheia. Todos os que na alma e no coração se sensibilizaram com a quase anomia que campeia em nossas ruas, situação posta à evidência pelos absurdos, múltiplos e inacreditáveis casos de violência que vêm penalizando ricos e pobres, se aglutinaram em torno da dor e do medo. O Movimento é simplesmente isso. Nada além.
                A conseqüência direta e imediata de quem sente dor e medo é gritar e fugir da fonte de dor. É uma reação medular, impensada, e até afetiva segundo a tipologia geral das ações sociais de Max Weber. A dor do ser humano é mais complexa do que a do animal, porquanto amiúde vai além do físico. A dor do ser humano que é violentado é também moral e psíquica. Contra a primeira há os lenitivos, os antálgicos, os analgésicos, os procedimentos cirúrgicos, os comas e tudo o mais que nos abaixe o sensório e a sensibilidade. A dor moral e psíquica é insondável, inescrutável, imponderável. Quem pretender minimizá-la ou desdenhá-la comete ato a mais doloroso, contribuindo ainda para a crueldade da agressão.
               Então, avise-se aos senhores cheios de ideias: - o Movimento Fortaleza Apavorada é para os que sentem dor e medo, sentimentos primitivos despertados pelo instinto de sobrevivência. As ideias que os senhores nos acusam – faço parte do Movimento – ter ou não ter e que nos colocam como alvo de vossas maldosas e mordazes críticas são, repito, inúteis. Vejam que não estou a criticá-las em si. São as idéia$ que movem o mundo, e não pretendo aqui testar a tese de sua vacuidade; mas pretender que tenha ideias o individuo que está a se contorcer de dor física, moral e psíquica já é demais. Se os senhores criticam a falta de ideias do Movimento, têm o direito de o fazer, mas não escondem aí sua insensibilidade. Se seu positivismo só aceita a frieza da ciência, aliem-se ao Governo e a seus assessores na busca de medidas práticas a serem tomadas contra esse estado de coisas. O Estado é a instituição em que o cidadão comum deposita sua confiança para a lida com a questão da segurança pública. É matéria constitucional. Cobrar do povo para que ele colabore tecnicamente com a solução de problema social relacionado com o dever precípuo do Estado é como querer que o paciente forneça ao médico o protocolo para o tratamento de seu câncer de estômago.
               Aos senhores cheios de ideias deve ser dito que o Movimento Fortaleza Apavorada não é exclusivo. Pelo contrário, ele é inclusivo. Os que sugerem tal premissa são aqueles que ainda surfam nas hipócritas ideias comunistas que de comunistas nada têm. Se o Movimento surgiu no seio da classe média é porque é ela quem detém a consciência política do papel do Estado nas questões sociais, mas daí afirmar, como muitos têm afirmado categoricamente, que o Movimento é alheio à pobreza, à precária educação e a todas as mazelas e estratagemas da politicalha brasileira é, no mínimo, indecente e injusto. Como estrato social que mais paga impostos no país, a classe média sente no bolso o resultado do incesto entre a classe política brasileira e boa parte da classe C e D, porque são essas que freqüentemente e conhecidamente vendem seu voto por dá cá aquela palha. Todos sabem: - o povo não é santo, o povo nada tem de santo. O político que quer se eleger no Brasil sabe muito bem de quanto precisa para comprar seu passaporte ao cargo que pretende. Portanto, não me venham os senhores defender aqueles que não se aculturaram, mas que de bobos nada têm. O Movimento Fortaleza Apavorada pretende, apenas, segurança para todos, e sabe que isso só acontecerá se o Governo implementar um plano que faça cair a níveis “normais” os assaltos e assassinatos em todos os bairros da cidade. Alargando a semântica do que cantou o Tom Jobim, é impossível ser feliz sozinho.
                A inclusividade do Movimento Fortaleza Apavorada está implícita, embora para os bambambans das idéias seja a exclusividade que assim esteja. Bem se vê que o sujeito só enxergará o que sua bagagem cultural consinta, caso não se permita o exercício da soma do pensamento com o questionamento de si mesmo e com a afetividade e sensibilidade. O ser humano só logra sua plenitude quando à sua razão alia-se o coração e seu conjunto afetivo. Como disse Stephen Convey, a inteligência não é santa.
               O que ficou, mais uma vez e infelizmente, evidente com a manifestação do Fortaleza Apavorada foi a péssima qualidade da informação que a imprensa local passou e vem passando sobre o Movimento. É ela, a imprensa, uma das entidades que cobra, indevidamente como parece claro, propostas concretas por parte do Fortaleza Apavorada para o problema da segurança pública. Nessa cobrança está clara a voz do Governo, falando através de uma imprensa vendida e tendenciosa e, portanto, irresponsável. Além disso, a disparidade de informações fornecidas pelos dois maiores jornais locais a respeito do número de pessoas presentes na manifestação denotam seu descaso e falta de compromisso em fornecer a informação correta. Um dos periódicos chega maliciosamente a sugerir que a manifestação levou incômodo a hospital próximo ao Palácio da Abolição, levantando a suspeita de, mais uma vez, estar esta imprensa falando pelo Governo
              O fato – e contra fatos não há argumentos, como já disse em texto anterior – é que a manifestação se mostrou um ato cívico de alto nível, demonstrando a capacidade de mobilização ordeira e pacífica do povo de Fortaleza. Presentes idosos, crianças, jovens, adultos, homens e mulheres, todos pediam apenas uma coisa para todos os habitantes de nossa cidade e de todo o Estado do Ceará: PAZ!      

Um comentário:

O NARCISO DO MEIRELES

Moravam numa bela casa no Parque Manibura.  Ela implicava com ele quase que diariamente. Era da velha guarda, do tempo em que o homem saía c...