De outra feita eu dizia que o sujeito hoje em dia vai ao toalete e, incontinenti, publica o notável ato na rede social. Um amigo comentou: "-Veio para ficar, e já se incorporou ao cotidiano de muita gente!" E arrematou: -"Nós, por exemplo!" O diabo é que, para anunciar os perigos e criticar a exposição excessiva das pessoas na rede social, é necessário estar na rede social. Nada mais lógico – está todo o mundo lá! Seria uma estupidez de quem pretende tais intentos ir anunciá-los no aterro sanitário. Somente os urubus que, ao que me conste, não estão inscritos na rede social, ouviriam o bem intencionado arauto.
De fato, há pessoas que gastam seu dia na rede social. Para elas a rede veio para ficar e faz parte de seu cotidiano. Meu amigo está coberto de razão em sua constatação. Já ao afirmar que, para "nós", a rede faz parte do cotidiano, equivocou-se redondamente o amigo.
"Nós" é a primeira pessoa do plural de uma conjugação verbal. Inclui alguém e "eu". Então, venho informar em alto e bom som: "eu" não tenho a rede social como parte de meu cotidiano. Há dias que nem lá vou. Aliás, a rede social, em minha humílima opinião, é, sob todos os aspectos, um pé no saco. Que me desculpem os amigos apreciadores da fruta, mas questão de gosto não se discute. E até se discute, sim, mas não haverá possibilidade de acordo que não seja a aceitação do outro com seus caprichos e idiossincrasias. Assim, mais uma vez anuncio em alto e bom som: estou mais para um old fashioned guy que aprecia a conversa olho no olho ao vivo e a cores. Quem não tem tempo, ou não pode, ou não quer, paciência. Que fiquem na rede social.
E não me venham de lá os afoitos afirmar que lá posto meus textos, como se quisessem me acusar de incoerência. Não o será. Essa é uma das poucas utilidades da rede social – a divulgação de algo. E mesmo assim confesso – não é sem um certo grau de arrependimento que faço tal divulgação.
A rede social tem muita gente sabida, "inteligente", "entendida". Essa gente tudo combate, tudo complica, tudo empanca, tudo dificulta. E se se reclama de sua agressividade, insensibilidade e insensatez, o que diz essa gente? Diz o óbvio. Diz que a gente não tolera "críticas". Assim, já começo a pensar seriamente em evitar a divulgação de qualquer coisa, desde um anúncio de sabonete a um conto humorístico. Outro dia postei um texto onde relatava um hilário episódio ocorrido com um amigo – algumas dessas pessoas sabidas demais fez beicinho e cara feia. Pior pra elas. Municiaram-me com mais temas para escrever.
Assim, antes de parar de postar na rede social digo a essa gente sabida o que Nelson Rodrigues dizia aos então novos e "entendidos" diretores de teatro: -"Sejam burros! Sejam burros!"
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