Tive hoje, ao
ler a coluna do Airton Monte, a grata surpresa de descobri-lo um
antiapologético das corridas de carros e dos próprios carros. Admito: estou com
o Airton e não abro. Mesmo nos gloriosos tempos do Airton Sena era um pé no
saco ver toda uma nação ao pé da televisão babando e ensurdecendo ao rugido
daqueles motores estrepitosos. E como havia os aficionados!... Parecia que
entendiam de motores, regras, estratégias, o diabo. De minha parte, detestava
tudo aquilo.
Direi
apenas que difiro do Airton Monte por um simples detalhe – não detesto tanto
assim os carros. Eles ainda me fascinam, ainda me dão vontade de amarrar-lhes
um barbante à dianteira e sair a puxá-los como quando em criança. Entretanto ,
veio habitar em mim aos poucos, com o passar dos anos, a nítida certeza da não
necessidade desses brinquedos na vida de alguém. Essa verdade é relativa,
concordo, antes que me queiram servir o fígado à moda acebolada. É só
contabilizar o tangível no que diz respeito ao carro em nosso meio para
elucidar se ele é uma necessidade em cada caso.
O
carro é caríssimo! Tome-se um carro dito popular. Cerca de quarenta por cento
de seu valor corresponde a impostos e taxas. Na Índia e na China esse valor é
vinte por cento; na Argentina e Estados Unidos, vinte e quatro por cento; na
Europa trinta por cento. Some-se a manutenção, seguro, consertos que a
manutenção não preveniu, multas, depreciação, etc., eis aí quanto custa ter o
carro. Se comprá-lo financiado, computem-se os juros do banco. Ia esquecendo as
taxas de licenciamento anuais, dentre os quais os impostos para ter o carro – lembrem-se do Imposto
sobre Propriedade de Veículos Automotores.
Aos
comunistas – podem acreditar, ainda existem tais seres! – somemos mais valor,
ou melhor, mais custo ao carro. Bem se vê que um carro pode ganhar uma nova e
exuberante dimensão.
Existem carros
e carros. O carro dá status, aí está
o que queria dizer. Não falo de um Uno Mille, que esse é sinal de tudo menos de
status. Falo dos carrões, dos que tudo
têm em acessórios, cheiros, conforto, potência, design, e, como não poderia
deixar de ser, preço. Carrões têm acima de tudo preço. Têm mais custo, são mais caros ainda. São verdadeiras
residências móveis. Alguns, de fato, custam mais que um apartamento. Esses não
servem apenas de meio de transporte – são verdadeiros símbolos de sucesso,
virilidade, poder, abastança, opulência. Preenchem o vazio da vida. E, se a vida
anda vazia, por que não preenchê-la com um desses lindíssimos modelos do
mercado? Tudo isso é o que há de intangível acerca desse tão apreciado objeto
de nosso dia-a-dia. Não há dinheiro que pague. Valem, portanto, todos aqueles
custos elencados a princípio.
Ao Airton
Monte aviso que radicalizei. Há quase seis anos vivo sem carro. Descompensei,
como se diz no jargão médico. O que supostamente perdi em conforto ganhei em
liberdade, ao contrário do que muitos pensam. E tenho contribuído com a
natureza, devo lembrar. Devo assentir que caiu deveras o meu status, até que chegue o dia em que
andar de táxi volte a ter o seu it,
como noutros tempos. Por outro lado, passei a parecer o que não sou, quando
outrora também parecia o que não era, resguardadas as abissais diferenças de
uma e outra época. Afinal, posso alugar vez ou outra um carrão, caso me acuda
um dia a necessidade imperiosa de uma máscara.
O diabo é ter
de aceitar as caronas inevitáveis que me dão os amigos quando saímos às farras.
Suponho que não seja por dó de mim, mas porque adoram a minha humilde e
resignada companhia.
Fernando Cavalcanti, 11.06.2010
Se precisar de carona, pode ligar, hahahaha. Sua companhia vale muito!!!
ResponderExcluirSe você bater conta a conta o custo de um taxi chega bem perto de possuir um carro, só que você passa a ter um trambolho que você não pode colocar no bolso em determinadas situações. Aí vem o problema, estacionar, principalmente proximo a hospitais e restaurantes. Não se iluda meu amigo, você vai acabar precisando de um...
ResponderExcluirEstou há 8 anos sem carro, meu querido amigo. Já "internalizei"; já "incorporei". Até de frescão eu ando! A pé então...
ExcluirConcordo Fernando....
ResponderExcluirPassei longos 4 anos sem automóvel.Andei de "buzú","frescão e carro alugado.Até crédito em determinadas "topics" fui possuidor.
No entanto meu caro Fernando,todo estes benefícios acima só faz mesmo sentido se residirmos no quadrilátero delimitado pelas avenidas Br.de Studart/Virgilio Távora e Beira-Mar/Antonio Sales.Esta é a Fortaleza dita bela e coincidentemente chamada de (grande) Aldeota.