sábado, 31 de outubro de 2015

OS GATOS DE LAURINHA

          Os leitores hão de convir – um apelido pode ser aperfeiçoado e até ganhar derivadas impensáveis. Tudo vai depender do objeto do apelido e da imaginação de quem o criou. Façamos, assim, uma breve recapitulação.
          Quando notou-se a semelhança entre o nosso Fábio Motta e o ex-técnico argentino Cesar Luis Menotti, cuidou-se de, daquele momento em diante, chamá-lo de Fábio "Menotti" Motta. E, querem saber?: – ele adorou. O amado Fábio Motta, digo, Fábio "Menotti" Motta, adora que se o compare a pessoas bem sucedidas, ou bonitas, ou famosas. 
          Com o passar do tempo, pouco tempo diga-se, "Menotti" Motta demonstrava cada vez mais um comportamento regressivo, em que o indivíduo parece querer voltar no tempo e ser novamente a criança levada e incansável de outrora. A bem da verdade tal comportamento já era de antes, bem antes. O amigo, que vestia-se impecavelmente como um executivo de firma de primeiro mundo, passou a usar roupas de estilo casual, calças jeans, camisas pólo e sapatos esportivos. Os cabelos, antes bem aparados e cuidados – usava, inclusive, um xampu Yamasterol para clareá-los –, agora usava-os desleixadamente, sem cortá-los. Cresciam na parte de trás da cabeça e rareavam no topo. "Teu 'telhado' está desaparecendo", diziam seus mais mordazes amigos. Adquiriu até, digamos logo àqueles que ainda não sabem, sestros e ademanes duvidosos, como o de enrolar os cabelos entre os dedos à moda de quem faz cachos. Comenta-se até que seu fígaro havia rompido com ele, uma amizade e uma prestação de serviço de quase 30 anos. Comprou, dizem, quase 10 diferentes tipos de pranchas para praticar o surf; entrou para uma escola de natação e para um curso de apneia. Tanto que esperava-se, a qualquer momento, a notícia do "Menotti" no Havaí, surfando as maiores ondas do planeta. No cômputo geral, parecia que ele desejava tornar-se uma espécie de Benjamin Button brasileiro ou um Peter Pan de sungas. 
          Pois foi justamente esse comportamento regressivo que inspirou alguns de seus amigos ao "aperfeiçoamento" do apelido. Como o amado amigo regredisse aos tempos de menino, passou-se a chamá-lo de Fábio "Meninotti" Motta. 
          (Não sei se diga... Não vou dizer. Pensando bem, por que não haveria de dizer? Pois direi: – o grande responsável por esse aperfeiçoamento na alcunha do Motta foi o Sérgio Moura, o Serjão. Em nossas confabulações durante um de nossos encontros às quintas, num desses lampejos que só o álcool inspira, Serjão me sai com essa pérola. Não havia como negar – era perfeita a adequação do termo a tudo o que o nosso Motta tem sido nos últimos tempos.)
          Na quinta passada os amigos-irmãos entraram a pensar um encontro semelhante aos nossos da quinta, mas com a participação de nossas mulheres. Iniciou-se o debate na tentativa de escolher o dia e o local . O Mesquita sugeriu uma boate no sábado, enquanto o " Meninotti" Motta preferia um barzinho. A boate é local onde o movimento começa, todos sabem, bem mais tarde. "Meninotti", ao contrário, propunha nos encontrarmos no barzinho às 19:30. "Mas... sete e meia"??, todos queriam saber. "Por que tão cedo"?, insistimos. Então o nosso "Meninotti" foi explicar a história dos gatos de Laurinha. É o seguinte.
          Laurinha cria gatos. Não podia voltar para casa muito tarde por causa dos gatos. Quem haveria de alimentá-los? Se não tomassem o leitinho da noite, antes de dormir, quem sabe o que poderia lhes acontecer?... Alguém saltou de lá – acho que o Gaudêncio ou o Mesquita – e sugeriu: —"Diga-lhe que deixe o gato na vizinha". "Meninotti" foi explicar, então, que não era somente um, mas três ou quatro bichanos. A namorada cria três ou quatro bichanos. Não é preciso dizer que não se chegou a acordo quanto a este encontro, tudo por conta dos gatos de Laurinha e do cuidado de nosso "Meninotti" Motta para com eles e, por consequência, para com a namorada. Demonstrado fica que o amor é um pacote completo. Quando se ama alguém, ama-se-lhe também as idiossincrasias, os cães e os gatos. Por isso o apelido de nosso Motta recebeu outra variante. Doravante ele também pode ser chamado de Fábio "Miaunotti" Motta. E não omitirei: – mais uma vez foi o Serjão o autor da pérola. Ele está-se mostrando um grande "joalheiro" de alcunhas.
          

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