Sou um homem
de frases.
Nada me
impressiona mais do que uma boa frase. A frase inicia e termina, constrói e
destrói, aproxima e afasta – a frase tudo faz, tudo realiza, tudo transmite. A
frase comunica.
Há frases e
frases, diga-se. Quem não há de gostar de um fraseado melódico, tirado de um
instrumento que sofre? que devaneia? que paira? A frase musical tudo diz sem
dizer uma mísera palavra. A palavra solta, isolada, nada é, exceção feita à
palavra-frase, ela própria a frase a tudo dizer. Assim, anelo a frase vital,
essencial, pedra-de-toque do que vai na alma, quer seja bom, quer seja mau. E, vejam,
não há frase mais pungente do que a sem palavras – o silêncio. O silêncio
responde a altura as mais rasteiras palavras, as mais estapafúrdias idéias, os
mais grotescos assaltos à nobreza de sentimentos vários.
A frase
imprime na alma do ouvinte ou leitor, como marcador de gado, idéias indeléveis,
sentimentos inextinguíveis e perenes. Após ela saímos doridos e mudos como as
vacas de pasto, a ruminar a frase tão estupenda, tão lancinante, tão... A frase
que nos tatua a alma é uma nódoa, indestrutível como uma lembrança marcante.
Outro dia –
não faz tempo – ouvi uma, dirigida a mim. Era assim, imperativa e seca: -“Joga
limpo!” Eu não estava a jogar jogo algum.
Deixemos de
lado o contexto. As frases não requerem o contexto ou, melhor, nelas ele já vem
embrulhado, como um pacote completo. As doces frases são doces desde a origem,
e emanam mel dos lábios que as pronunciam. E, vamos e venhamos, há lábios de
mel e lábios de fel; e há também lábios aquosos, cujo neutro sabor não fecha
portas nem corações, diferentemente da frase de fel sabor.
A frase que
ouvi beira o imperativo categórico exemplificado na ordem do Deus Único, -“Não
matarás!”. Há nela uma nota por demais repleta de arrogância ou de
incredulidade, se se levar em conta o que ela diz. “Joga limpo!” é o que se diz
a quem presumidamente está a jogar sujo, ou, dito de outro modo, a quem está
usando de subterfúgios e estratagemas. Mais ainda. “Joga limpo!” se diz, quando
não há ludismo evidente, a quem está jogando com a vida, ela como uma partida
em que se vêem as pessoas como adversários a serem vencidos ou derrotados.
Em suma: “Joga
limpo!” é uma acusação, quase uma condenação.
Não me lembra
que tenha dito algo. Se falei, errei. A muda frase teria sido a melhor
resposta, tamanha minha indignação.
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