Hoje abro o jornal e o que vejo? O
Piauí quer tomar terras do Ceará. Outro dia escrevi aqui mesmo – ou terá sido
noutra parte? – que o magnífico vizinho estaria a invadir o Ceará dada a
quantidade de imigrantes, temporários ou definitivos, aqui vivendo. Pois hoje,
em matéria estampada à primeira página, a certeza.
O
Piauí entrou na justiça contra nós querendo reaver sabe-se lá quantos milhares
de quilômetros quadrados que reclama serem seus. Acusa-nos de tê-los tomado ou
deles nos apropriado indevidamente.
Já
me decidi: segunda-feira próxima, ao encontrar amigos e conhecidos piauienses
por aí, onde quer que seja, lhes avisarei que estamos em guerra e que,
doravante, qualquer ato suspeito da parte deles será considerado hostil. Como bom
soldado que sou, não posso permitir ao inimigo vantagens indevidas. Minhas suspeitas
prévias se confirmaram sem a menor sombra de dúvida. Se meu blog fosse mais
lido, ou lido por maior número de pessoas, teriam me dado ouvidos e não estaríamos
passando tamanho vexame. Eis aí tudo. Paciência. Creio ser ainda possível uma
eficaz defesa.
Também,
no mesmo periódico, outras notícias de interesse supremo, mas que minha memória
teima em não lembrar. O interesse não é meu, é óbvio; se fosse, lembraria. A propósito,
havia um bom tempo que os jornais não despertavam meu interesse. Com efeito, hoje
o fez de forma puramente casual, quando passei defronte a uma banca de
revistas. Não fosse isso e a importante nova sobre a guerra que se avizinha
seria por mim ignorada. Estou, desde então, tão logo fiquei ciente, a limpar
meus fuzis, metralhadoras, pistolas e bazucas. Guardo comigo verdadeiro arsenal
desde os tempos da caserna. Os piauienses não perdem por esperar...
Sei,
sei, dirão que ainda não existe uma declaração de guerra, e é verdade. Porém,
todos sabem o que acontece quando um estado é assaltado por ímpetos imperialistas
e desejos expansionistas. Assim bem ensina Churchill nos primeiros capítulos de
seu “Memórias da segunda guerra mundial”. E não só ele, mas qualquer autor de
capítulo que trate da história das guerras. Assim, urge o armamento geral e
irrestrito.
Serão
também necessários os espiões, milhares deles. Há piauienses insuspeitos entre
nós e é preciso desmascará-los. Se deixados livres a agir podem representar
nossa derrota. Tenho cá comigo alguma idéia de quem seriam esses infiltrados, e
já a estratégia para capturá-los. E devo alertar aos cearenses que hoje habitam
território inimigo que se acautelem – devem estar sendo, da mesma forma,
considerados olheiros indesejáveis e alvo fácil do serviço de contra-espionagem
piauiense. Devem retornar, numa retirada heróica, o mais rápido possível!
(Lendo a
matéria vem-nos a enorme, quase incontrolável, vontade de rir.)
Vou tirar do baú a minha baladeira e a uma espingarda de ar comprimido e começar a treinar, para quando a guerra começar.
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