Seu Honorato foi logo dizendo:
–“Doutor, tô só os queixos"...
Aqui no Ceará, “estar só os queixos” tem um sem número de significados, a maioria deles relacionada ao estado físico da pessoa. Por exemplo, ela pode estar muito cansada; ou muito doente; ou muito abatida. Às vezes a pessoa diz “estar só os queixos” numa forma de brincadeira, como um chiste, ou para quebrar o gelo. Seu Honorato, apesar da idade e de estar de volta para uma consulta médica, queria fazer pilhéria.
Emendei:
–"O cabra que tem 90 anos tem mesmo que estar só os queixos”...
Ele riu-se e concordou. Examinei-lhe e perguntei, como sempre faço quando ele vem:
–“E como vão as menininhas do bairro? Ainda dando mole”?
Ele riu-se a valer. Quando veio a primeira vez, perguntei-lhe se ainda namorava. Para minha surpresa, admitiu convicto:
–"Quase toda semana, doutor!" A filha, que sempre o acompanha, diverte-se um bocado com nossa facécia. Presumo que veja no pai, nesses momentos, uma vitalidade insuspeita. O amor que dura uma vida há de durar para além da morte.
Dali a pouco ele retruca:
–“Isso aí num pode parar nunca; a gente só para quando morre”...
Quando concluí a prescrição, ele disse, assumindo suas inexoráveis alterações fisiológicas:
–"Doutor, o homem só é gente até os 50”...
Mesmo assim, voltei a perguntar:
–“E as menininhas”?...
Rindo novamente, passou de um lado ao outro nos lábios as pontas dos dedos unidos no conhecido gesto que significa “estou com todo mundo no papo”. E saiu pela porta andando lentamente, o corpo recurvado, combalido mas não entregue à desistência.
–“Doutor, tô só os queixos"...
Aqui no Ceará, “estar só os queixos” tem um sem número de significados, a maioria deles relacionada ao estado físico da pessoa. Por exemplo, ela pode estar muito cansada; ou muito doente; ou muito abatida. Às vezes a pessoa diz “estar só os queixos” numa forma de brincadeira, como um chiste, ou para quebrar o gelo. Seu Honorato, apesar da idade e de estar de volta para uma consulta médica, queria fazer pilhéria.
Emendei:
–"O cabra que tem 90 anos tem mesmo que estar só os queixos”...
Ele riu-se e concordou. Examinei-lhe e perguntei, como sempre faço quando ele vem:
–“E como vão as menininhas do bairro? Ainda dando mole”?
Ele riu-se a valer. Quando veio a primeira vez, perguntei-lhe se ainda namorava. Para minha surpresa, admitiu convicto:
–"Quase toda semana, doutor!" A filha, que sempre o acompanha, diverte-se um bocado com nossa facécia. Presumo que veja no pai, nesses momentos, uma vitalidade insuspeita. O amor que dura uma vida há de durar para além da morte.
Dali a pouco ele retruca:
–“Isso aí num pode parar nunca; a gente só para quando morre”...
Quando concluí a prescrição, ele disse, assumindo suas inexoráveis alterações fisiológicas:
–"Doutor, o homem só é gente até os 50”...
Mesmo assim, voltei a perguntar:
–“E as menininhas”?...
Rindo novamente, passou de um lado ao outro nos lábios as pontas dos dedos unidos no conhecido gesto que significa “estou com todo mundo no papo”. E saiu pela porta andando lentamente, o corpo recurvado, combalido mas não entregue à desistência.
Agendei-lhe o retorno para daqui a um ano. Voltará?, pensei. E concluí: – sem dúvida aqui estará em um ano. Não é à toa que se chega aos 90.
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