Madame Serjão se aquietou.
(Há leitores que
sequer imaginam quem seja Madame Serjão, razão pela qual me sinto impelido a
lhes dar uma explicação bem sucinta e direta: Madame Serjão é o meu querido
amigo Sérgio Moura.)
Antes da votação do
processo de impeachment da presidente Dilma pela Câmara Federal, o homem era considerado
– ele se considerava – o analista político.
E fazia previsões. Poucos dias antes da sessão no parlamento, vaticinou:
–“Ela não
cai”. (Referia-se à presidente da República.)
Tudo isso acontecia na rede social. (Saibam que a
realidade da rede social é mais real que a vida real. Esta se tornou quase como
uma existência onírica, como um daqueles sonhos tão vívidos dos quais nem nos
damos conta de ter acordado quando toca o despertador.)
Toda previsão lacônica soa solene e podíamos, ainda
que ausentes das vistas uns dos outros, quase perceber em Madame Serjão a
profundidade e seriedade de seu olhar. A profecia caiu como uma bomba. Nossas esperanças
de um Brasil melhor se esvaíam como água entre os dedos, e os participantes da
rede se condoíam em ais e gemidos. Eu mesmo, confesso, quase não preguei o olho
a noite inteira.
(É, de fato, uma coisa que não se explica – Madame
Serjão não acertava uma.)
Veio a votação e o país inteiro percebeu a verdade
incontestável – Dilma Rousseff está com os dias contados em seu cargo. É verdade
que ainda não caiu, mas a cada dia e mesmo em reuniões de condomínio sente-se
nos ossos a inexorabilidade de sua queda. O povo foi às ruas, vibrou com a
decisão dos deputados, comportou-se civilizadamente, e o país acordou no outro
dia respirando o puro ar da esperança. Aguarda-se agora a decisão do Senado.
Neste mesmo dia, o dia seguinte ao da votação, o silêncio
de Madame Serjão era maior que o que reina no espaço sideral. Acabaram-se as
predições e os vaticínios. Sentindo um certo incômodo com a quietude do amigo e
imaginando-lhe sentado à sua mesa redonda usando seu turbante cor-de-rosa
diante de sua bola de cristal, enviei-lhe uma mensagem provocativa. Ele respondeu
sucinto:
–“Ainda faltam
o Senado e o STF”.
"De fato", pensei. Mas não senti na resposta aquela contumaz
convicção de Madame. Desapareceu e escafedeu-se, por assim dizer, a Madame
Serjão convicta, peremptória, positiva, pedante até. Sumiu. Como disse ao
início, aquietou-se. De lá para cá nenhuma previsão fez, nenhum palpite arriscou.
Andou aí, soube depois, montando banca de apostas para adivinhar o placar. Contra
suas próprias certezas, não quis apostar a favor de sua profecia. Preferiu admitir
a derrota de Dilma na Câmara e ater-se apenas e tão-somente ao placar da surra.
A novidade que corre é a de que ganhou a aposta, um
almoço regado a um Chianti em
restaurante chique. Ou seria uma cervejada com batatas fritas ali na Zena? Não
me recordo. E para punir ainda mais o perdedor convidou-me a acompanhá-lo a
fazer parte da farra por conta do pobre e incauto apostador. Não sei é como vai
fazer para cobrir as minhas despesas, já que não participei da banca. Vai ver
já apostou na derrota da mulher no Senado. Definitivamente, parece que, além de
Dilma Rousseff, Madame Serjão também está no fim de seu período de glória. Ou já
morreu, inumaram e ainda nem percebi...
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