Quanta
diferença! Os diretores dos hospitais geridos pelo governo do Estado pediram
demissão de seus cargos. O motivo: a secretaria de saúde vem, cada vez mais, centralizando
a gestão(http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2016/04/07/noticiasjornalcotidiano,3599310/diretores-do-hgf-e-do-hospital-do-coracao-entregam-cargos.shtml).
Em outras palavras, é a secretaria da saúde, ou o senhor secretário – que nem
mesmo é profissional da área –, quem tem tomado as decisões e quem tem direcionado
os recursos para onde quer e bem entende. Os senhores diretores nada decidem,
nada podem fazer e nada fazem de fato, ainda que sejam eles a estar na linha de
frente da batalha diária dessas unidades de saúde e quem sentem na pele suas
deficiências e necessidades.
Suscitam-se
aqui algumas reflexões. Em primeiro lugar, para que serve diretor que não
dirige? Segundo, por que temos um secretário de saúde que não é profissional de
saúde? Terceiro, a quem interessa a gestão centralizada? Quarto, por que a
gestão centralizada? longe da realidade dos hospitais?
A
matéria do jornal O POVO de
05/08/2015 levanta algumas suspeitas sobre tudo isso (http://www.opovo.com.br/app/politica/2015/08/05/noticiaspoliticas,3480924/henrique-javi-assume-secretaria-de-saude-do-ceara.shtml).
O que mais espanta não chega a ser as suspeitas, mas a inação da sociedade e de
seus representantes ante ao que parece ser uma aberração, mais uma, na administração
pública. Leia-se a reportagem e entenda-se o que estou a dizer. Ao que parece,
mais uma vez puseram os lobos a tomar conta das ovelhas. O resultado não
poderia ser outro – estão comendo as pobres ovelhinhas que, de tão indefesas e
puras, estão minguando no rebanho. Com mais um pouco e teremos lobos gordos e
ovelhas inexistentes. A caçada anda solta e os campos estão banhados com o sangue
dos inocentes. Nem um pio da sociedade; nem um grito de socorro; nenhum ai...
Os entes da Justiça calam-se solenemente até hoje causando, como diria Nelson
Rodrigues, um silêncio ensurdecedor.
E
por que “quanta diferença!”? Porque os colegas que estavam diretores nos
hospitais estaduais fizeram exatamente aquilo que se espera que se faça quando
se “está” em determinada função pública e se vê confrontado com a perversão de
seus princípios. (Há que se presumir que um ser humano tenha princípios.) Diferem,
por exemplo, de outros “colegas” da gestão de hospitais municipais que comem na
mão do prefeito e seus asseclas e sentem-se confortavelmente aboletados em suas
cadeiras giratórias, já que suas consciências não lhes incomodam minimamente. No
momento presente, em particular, os recém ex-diretores dos hospitais estaduais
são médicos de renome e reputação ilibada e estavam apenas dando sua valiosa
contribuição na gestão da medicina pública. Não pretendiam ir além disso. Não abandonaram
suas clínicas na pretensão de seguirem na função. Em outras palavras, não são
ou eram “carreiristas”, diferentemente de muitos dos diretores dos hospitais
municipais cuja reputação é, no mínimo, duvidosa e cuja atuação junto ao
paciente tende a ser nula, além de, freqüentemente, gastarem seu tempo a fazer a
politicalha corrente, cujo maior efeito é exatamente a péssima gestão que se
tem visto nesses hospitais.
Digo isso e
faço tal comparação justamente por integrar o corpo clínico de hospitais que se
encontram sob as duas gestões. De fato, não há diferentes gestões – há princípios
e a ausência deles. É gritante a diferença da cultura hospitalar entre o
hospital cujos gestores têm princípios e o hospital cujos diretores são deles
destituídos. No município, a gestão está falida com a anuência dos médicos de
seu corpo clínico, ao passo que, no Estado, o corpo clínico resiste
estoicamente às inúmeras e repetidas tentativas dos canalhas da administração
pública em fazer com o hospital e sua cultura o mesmo que fizeram e fazem os
gestores do município. Daí porque entregaram seus cargos os ilustríssimos
diretores dos hospitais estaduais. Não há como não se encher de júbilo ante a
atitude desses corajosos colegas que não se renderam silenciosos à incompetência
e ineficiência e, acima de tudo, ao massacre de seres humanos doentes vítimas
de um sistema de saúde que promove a dor, a mutilação e a morte.
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