Não sei se já
lhes contei sobre o currículo do Mesquita. Já contei? Se não, conto agora em
rápidas pinceladas. É o seguinte.
O Mesquita tem
curso superior. Não me lembra agora, mas me parece que é administrador ou
economista. Que fez o homem após o curso? Foi ser empresário. E – querem saber?
– tornou-se um empresário bem sucedido. Foi dura a batalha para chegar onde chegou. E com muitos méritos, diga-se.
Resultado: o Mesquita passou a acumular dinheiro. De tanto o amontoar, eis que
surgiu a montanha.
O Mesquita
adora esportes. Gosta de futebol – torce pelo Ceará –, gosta de ir à academia
levantar pesos e estar à frente do espelho admirando seus músculos em poses de
Mister Universo, e gosta de surf. É surfista da categoria “velha guarda”. Sobre
a prancha não se sabe como o homem se equilibra, posto que balance mais que
galhos de roseira aos ventos leves, mas ainda participa de competições do
esporte. Contudo, o que a maioria não sabe é sobre o outro esporte que ele gosta
mais ainda do que todos os que já enumerei – montanhismo. Mas, vejam, Mesquita
nunca subiu montanha alguma como alpinista. Talvez a montanha mais elevada que
tenha subido tenha sido o Corcovado, no Rio de Janeiro, e nisso se iguala à
maioria de nós bons brasileiros. E para isso há de ter-se utilizado de um carro
ou dos novos bondinhos que agora lá existem. Equipamento de montanhista ele nem
conhece. Se não entendem o que quero dizer, direi que a única paixão que o
Mesquita tem no montanhismo é a apreciação de uma paisagem em particular e em
especial, por assim dizer – o homem adora contemplar a montanha de dinheiro que
acumulou. Se pudesse nela subiria e lá permaneceria a brincar com as notas como
uma criança na banheira a brincar e mexer na água. Imaginem o Tio Patinhas –
sou do tempo do Tio Patinhas – numa de suas estórias de sucesso, em que acaba
em sua caixa-forte particular a mergulhar sob as notas como a banhar-se nelas e
com elas. Pois o Mesquita seria o nosso mais atual Tio Patinhas.
Outro dia
contei de sua tristeza por estar comprando mais um imóvel. A princípio ninguém
atentou para a razão de tão inusitada melancolia, até que o Braga, um
observador nato e perscrutador da alma humana, tudo desvendou – Mesquita se
entristecia com os freqüentes saques em sua montanha, que diminuía à sua frente
e lhe causava as cólicas mais lancinantes e atrozes. Mas não era nada disso que
eu ia falar. Falava do currículo do Mesquita. Voltemos ao currículo do
Mesquita.
O que aqui
interessa é dizer dos inúmeros e variados cursos extracurriculares que ele fez.
E não somente cursos. Fez também vários retiros. Se saísse a enumerar aqui
todos os cursos e retiros que fez o meu Mesquita, com suas respectivas cargas
horárias e temas, nem toda a memória deste computador seria capaz de comportar
tanta informação. Diga-se de passagem: o Mesquita só faz cursos acompanhado da
mulher. Até porque tudo começou com a terapia de casal que resolveram fazer
por... acho que por toda a vida. Até hoje fazem terapia de casal. Descobriram o
que eu já há muito suspeitava – o casamento é uma doença e, como toda doença,
necessita de terapia. Alguém aí já viu alguém se tratar estando sadio?
Por tudo isso
é que exultei quando, hoje, recebi uma correspondência eletrônica intitulada
“WORKSHP CURA ELETRÔNICA”. Alguns dirão que estou a debochar e peremptoriamente
afirmarei que em absoluto! Outros dirão que, se o enviaram a mim, é porque o
remetente me julga um potencial candidato a objeto da “cura eletrônica”, seja
lá o que seja isso. Devo lembrar que aos dias de hoje todos estão sujeitos a receber por engano mensagens que de outra forma jamais chegariam. Assim,
asseguro: não conheço esta senhora – foi uma senhora – que me remeteu o convite
a participar do tal workshop. Mas foi só pôr os olhos sobre a matéria e
visualizar o casal que adora fazer cursos que, segundo eles mesmos, “ajudam a
viver”: o casal Mesquita.
Ao convite
está escrito: “Esta é uma técnica muito nova, onde trazemos o fluxo de elétrons
direto do coração do Arcanjo Metátron para
os seres humanos, animais e plantas. Chama-se Cura Eletrônica porque utiliza a
Luz e a Movimentação dos Elétrons ‘Divinos’”. Perceberam? Diz mais, sobre o mecanismo através do qual a “cura eletrônica” cura os ‘doentes’ ou seus
necessitados: “esse fluxo de elétrons vai elevar a vibração, formando uma
corrente de alta freqüência, conduzindo ao despertar da consciência para as
novas realidades supra-físicas”. Vejam que o negócio não é pouca coisa! Assim,
mais que de imediato liguei em separado para o Mesquita e sua digníssima. Ela
me pediu que, encarecidamente, não pusesse pilha ao homem senão ele iria querer
fazer o exuberante e moderno workshop, fazendo até parecer que ela não goste
desses “negócios”. Já o Mesquita mostrou-se excitadíssimo com a possibilidade
de receber os “elétrons divinos”. Disse: -“Fiz um curso de Chacras!”
Respondi-lhe que ele poderia se “atualizar” e conhecer as novidades no assunto
e que poderia até se tornar professor na matéria ao final do curso, mas o aconselhei
a ter o máximo cuidado a não ser eletrocutado durante as aulas. Afinal, elétrons
“divinos” saídos direto do coração do Metátron devem ser elétrons altamente energizados
e, portanto, potencialmente letais.
Após mais umas
poucas demonstrações de entusiasmo por parte do Mesquita quanto à sua nova forma
de terapia a se desenhar, nos despedimos com a promessa de minha parte de lhe
enviar o convite que havia recebido por engano. Tudo isso se passou à tarde de hoje.
Entretanto,
não sei se sabem, mas na casa do Mesquita a última palavra a valer é dele. Diz
sempre: -“Sim, senhora!” É o que, presumo, deve ter ocorrido. Qual não foi
minha surpresa quando, ao abrir minhas mensagens há pouco, vislumbro entre elas
uma do Mesquita em resposta ao convite que lhe enviei a participar do workshop
sobre “cura eletrônica”. Disse, categórico: -“Tô fora!”
A pior
desgraça do mundo é um homem barriga branca...
AHAHHAHAHAHAHAHAHAAHAHAHAHAH..TADINHO DO NOSSO MONTANHISTA!
ResponderExcluir