Óbvio é que o momento é de Copa do Mundo e não há como negar que o clima é de festa. A Fan Fest da FIFA, instalada em regime permanente ali no Aterro do Ideal, é a prova disso. Os jogos, razão de ser de toda essa parafernália, estão, em sua maioria, sendo disputadíssimos, e temos visto gols marcados ao apagar das luzes em estádios lotados de torcedores alegres e irreverentes. Em repartições públicas instituiu-se o ponto facultativo e até o feriado em dias de jogos da Seleção Brasileira a fim de facilitar a participação de toda a Nação na festa do esporte mais popular do planeta.
Porém, quedê as notícias do O Povo e do Diário do Nordeste sobre os assassinatos na Grande Fortaleza? Por exemplo: - hoje saiu, no Diário, a notícia sobre o assassinato de um comerciante em São Benedito além de outros sete homicídios em outros municípios do Estado (http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/policia/comerciante-e-morto-a-tiros-1.1043221). Sobre mortes em Fortaleza, nada.
No O Povo de hoje apenas a opinião de algumas “autoridades” sobre o que fazer para coibir a crescente violência no transporte público da capital. Sobre os assassinatos no “território da paz” e outros bairros conhecidos por seus elevados índices de assassinatos, nada. Concluo o seguinte: - ou os bandidos estão a cooperar com as autoridades, dando um tempo em sua sanha homicida, ou são os jornais os grandes colaboradores das autoridades. Caso a segunda hipótese se confirme, fica patente a canalhice e a venalidade de nossos jornais.
Ora, vejam os caríssimos e escassos leitores que isso não seria propriamente uma novidade, e muito menos uma excentricidade à brasileira. Há um precedente inusitado na crônica do futebol. Enquanto por aqui interrompem-se as atividades criminosas para que a Copa do Mundo prossiga sem sobressaltos no presente, no passado um jogo de futebol interrompeu uma guerra. Sim, foi em 1969 na África, mais precisamente no ex-Congo Belga. Duas facções de concidadãos congoleses matavam-se em conflito quando o Santos de Pelé lá foi jogar. Que fizeram os combatentes de parte a parte? Resposta: - depuseram as armas para assistir o craque. Não houve combates àqueles dias.
Em 1975, no mês de abril, uma guerra envolvendo cristãos, judeus e muçulmanos estava para começar no Líbano quando o rei do futebol lá foi jogar. Que atitude tomaram os líderes desses povos à expectativa de ver em campo o maior jogador de futebol de todos os tempos? Resposta: - adiaram o início do conflito.
Bem se vê que, ainda que não haja um craque excepcional como Pelé a jogar nesta Copa do Mundo, é bem possível que os bandidos e o Estado tenham, de fato, selado um armistício temporário e que, por isso, tenha-se a sensação de que a paz reine por aqui e alhures em todo esse rincão.
Portanto, não se anime o povo nativo dessas paragens: - é uma questão de tempo. Em breve, infelizmente, tudo voltará a ser como antes. Antes que os ufanistas e os simpatizantes da corja petista comecem a tentar colher dividendos da relativa paz e segurança que ora gozamos, deve-se esperar o final do Mundial. As causas e os fomentos da violência estão arraigados em nosso meio e não será um campeonato mundial de futebol que irá trazer a estabilidade e a paz permanente que tanto anelamos.
Além disso, não se precipitem a canalha política e a militância petista e seus simpatizantes com o sucesso que tem sido o evento futebolístico. O futebol em si é considerado há muito o ópio do povo. Vive-se, no presente instante, um circo de proporções gigantescas, com doses cavalares de entorpecentes administradas às gentes e ao povo, aquele mesmo que foi às ruas protestar por tudo o de ruim que tem o país, está ainda mais entorpecido do que de costume.
Então, é de se esperar o sucesso da Copa. Ela representa uma irrealidade que nos tange para longe de nossos graves problemas sociais, econômicos e estruturais. Seguramente eles não deixaram nem deixarão de existir da noite para o dia. Não são problemas voláteis. Estão aí escondidinhos somente esperando a hora para retornar com sua face cruel. Quando retornarem de sua libação, num futuro bem próximo, testemunharão a destruição paulatina das arenas, a deterioração galopante das pouquíssimas obras e melhorias que foram feitas, e serão obrigados a encarar a velha e boa violência da vida real. Vamos aguardar?
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