“Este belíssimo sistema do sol, planetas e cometas poderia somente proceder do conselho e domínio de um Ser inteligente e poderoso.” Sir Isaac Newton
“O fato mais incompreensível a respeito do universo é que ele é compreensível.” Albert Einstein
Não é que outro dia meu querido amigo Ciro Ciarlini e eu entramos a discordar? É comum que acordemos em quase todas as coisas sobre as quais discutimos. Afinal, ele foi premiado com uma dessas inteligências únicas, e que pulsam com a força de seu gênio. Debater com ele causa daqueles deleites que nos enchem de empáfia. E mais ainda quando há discórdia. Não a discórdia que isola, que separa, que faz romper a amizade, mas a discórdia que leva ao crescimento, à busca da verdade, à pesquisa e, por fim, ao entendimento ou aceitação das diferenças. Aqui reside a verdadeira amizade, o amor entre os que se dizem amigos.
O assunto da discórdia é considerado deveras espinhoso por grande maioria das gentes, tendo-se até dito que sobre ele não há que se discutir, posto que fosse uma questão de interpretação pessoal. Quanto mais se bate nesta tecla, mais discordo. O que vejo em verdade nessa argumentação é o indiscutível e facilmente reconhecido rosto da ignorância. Às vezes, quero crer que vejo as opiniões pessoais a prevalecer. Diz o Robert Kiyosaki que, se não puder estabelecer que algo é um fato, então é uma opinião. Verdade, sem dúvida, que no assunto em questão, o mesmo debatido por Ciro e eu, as provas dos fatos são aparentemente difíceis de serem demonstradas.
Contudo, nesta questão em particular, que está no bojo do assunto que não se discute, é fácil demonstrar a verdade. Se não, vejamos.
Tudo começou quando entramos a falar da programação genética do ser humano para a morte. Ora, em nossos genes estão a tendência para a hipertensão, o diabetes, algumas formas de câncer e outras coisinhas mais. O sinal verde para o surgimento de tais afecções ocorre em algum momento, mormente à idade avançada. Em suma, o código genético inicia o processo de morte do indivíduo, por assim dizer. Concordamos em tudinho, e até lhe servi um cafezinho para amainar a tensão e estabelecer nossa resignação diante de tão definitiva constatação.
Após o café, fiz o seguinte comentário: -“Não há dúvida que no fruto da árvore da vida, que estava no jardim do Éden, estavam substâncias que evitam tudo isso e também o envelhecimento, levando o homem a viver eternamente!” Eis que o Ciro me saiu com seguinte resposta: -“Deus é mentiroso! Proibiu Adão de comer deste fruto e do outro! O homem comeu do fruto e não morreu!” Lembrei-lhe que não, que o Senhor o proibiu de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Era-lhe permitido comer de todos os outros frutos das outras árvores, incluindo, e principalmente, do fruto da árvore da vida.
A coisa toda perdeu o controle. Ciro não só confirmava a suposta mentira de Deus – já que Adão continuou a viver após comer o fruto – como também não aceitava que eu interpretasse que Adão viveria eternamente se continuasse a comer do fruto da árvore da vida. Para ele, isso não estava lá escrito. Analisemos os textos.
O homem foi formado ao sexto dia da Criação. Está escrito assim: “E o Senhor Deus lhe deu a seguinte ordem: de toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Ainda não existia a mulher, e não há nenhuma passagem que conte que Adão transmitiu a ordem de Deus a Eva. Sabemos que ela estava ciente da ordem quando ela diz ao tentador: “Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: ‘Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais. ’” Há alguma dúvida de que ela era conhecedora da ordem de Deus? Há alguma dúvida de que ela foi informada em algum momento da ordem de Deus, embora a comunicação não venha explicitada no texto?
Ciro chama a Deus de mentiroso porque interpreta que o homem haveria de morrer tão logo comesse do fruto, como se este contivesse um veneno mortal de ação imediata. O que aconteceu foi o seguinte: “Do solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal.” Donde se conclui que as árvores da vida e do conhecimento do bem e do mal estavam no meio do jardim, uma próxima à outra, talvez vizinhas. Conclui-se também – a menos que não se queira concluir por força de uma teimosia qualquer – que o homem tinha a liberdade de escolher entre viver eternamente, com livre acesso ao fruto da árvore da vida e às substâncias que ele continha, ou não mais viver eternamente caso desobedecesse ao Senhor. Seria impedido seu livre acesso ao fruto da árvore da vida se comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Não vejo como ter dúvida sobre este ponto.
Ciro argumentava que não há passagem no texto que explicite que o homem viveria eternamente caso comesse do fruto da árvore da vida. De fato, não há tal passagem, mas há outra bem esclarecedora, após a desobediência do homem: “Então, disse o Senhor Deus: ‘Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente.” E mais: “O Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden...” E, para garantir o impedimento do acesso do homem à árvore da vida onde estava o fruto que o faria viver eternamente se o comesse continuamente, “[Deus] colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida.” Eis aí bem explícita a intenção de Deus a que o mal não prevaleceria, e que o homem ainda viveria por um tempo antes que lhe sobreviesse a morte. Tanto é que “todos os dias da vida de Adão foram novecentos e trinta anos; e morreu.”
Cumpriu-se, então, a profecia de Deus, feita pessoalmente a Adão, de que morreria se comesse do fruto da árvore da ciência do bem e do mal.
Como estivemos a debater as propriedades do fruto da árvore da vida, e como Adão viveu ainda novecentos e trinta anos, só uma conclusão é possível à luz da inteligência: como era poderoso o fruto! Se, após dele comer a última vez Adão ainda viveu esse tempo todo – bem como vários de seus descendentes – não há como não concluir que uma degeneração passou a surgir e agir no DNA humano levando às doenças e à morte. Com o passar do tempo, vivia cada vez menos o homem.
Só recentemente a ciência do homem passou a descobrir elementos que influenciam sua longevidade, e seu tempo de vida voltou a crescer. Mas nada que se compare à longevidade dos que tiveram acesso ao fruto da árvore da vida do jardim do Éden. Esse foi retirado de nós desde que o Senhor daqui o removeu.
Fernando Cavalcanti, 28.08.2010
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