sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

CÉREBRO DE TITICA

Foi somente depois que vi que me esqueci de abordar, na crônica de anteontem, a “crise” financeira a que o senhor Agamben, “uma das dez mais importantes cabeças pensantes do mundo”, se referiu em sua entrevista.
            Antes, porém, nos debrucemos sobre o fato de o sujeito ser, dentre quase 7 bilhões de cérebros, um dos dez mais importantes. Comecemos definindo o que seja algo ou alguém importante. Para isso, recorro ao pai-dos-burros, a fim de evitar cair na armadilha de dar uma definição pessoal e tendenciosa. Diz lá o seguinte: “que ou quem tem valor ou mérito; que ou quem tem poder; o que mais interessa”.
            Assim, concluímos sem demora que o que o filósofo pensa tem algum poder ou interessa mais do que o que pensam os outros quase sete bilhões de cérebros que habitam este mundo. Ainda é possível que o que ele pense tenha mais valor e mais mérito do que todos os outros. O diabo é que, pela entrevista que ele deu e pelo que ele disse na entrevista, das duas uma – ou o homem estava de pileque, ou havia cheirado umas “carreirinhas” (http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/06/deus-nao-morreu-ele-se-tornou-dinheiro.html). Ele acha que a “crise” é só um muxoxo do capitalismo, uma ideia imposta por ele para lograr seus objetivos indizíveis.
Vejamos o caso da Grécia, por exemplo. (Evitemos a “crise” brasileira, por enquanto.) Este país, a Grécia, faz parte do bloco europeu que adotou moeda única, o euro (€). São vários países que resolveram fortalecer suas economias com a criação de um Banco Central único. Sabe-se que a saúde financeira de um sistema ou de bloco econômico pressupõe equilíbrio fiscal, controle da tendência inflacionária e câmbio livre. Os gregos fizeram tudo ao contrário e, em suma, gastaram e gastam mais do que arrecadam. Para cobrir os rombos em suas contas, tomaram dinheiro emprestado e não honraram seus compromissos. O resultado: – os países do bloco que fizeram o dever de casa vieram em socorro dos gregos a fim de evitar o colapso do sistema. 
Mais recentemente, o Banco Central Europeu tem pretendido que o governo grego deposite os bilhões de euros que deve. O diabo é que o partido de extrema esquerda grego, o Syriza, assumiu o poder e suspeita-se que, com isso, o calote está em vias de se concretizar. O calote é justamente o que prega o senhor Agamben e seus simpatizantes. Digno de nota é o fato de não ser o capitalismo o responsável por essa situação. Há aqui uma crise que o capitalismo não criou. Quem a criou foi a gastança desenfreada.
Imagine se em casa gasto tudo o que ganho e ainda uso o cheque especial. Os anticapitalistas dirão que o cheque especial é uma mazela do capitalismo opressor e escravizante. Sairiam às ruas em protesto, levando bandeiras vermelhas e gritando palavras de ordem contra o cheque especial, tudo no intuito de promover o calote aos bancos que lhes emprestaram dinheiro.  
E a crise brasileira? A mesma coisa. Gastança desenfreada, apesar dos trilhões de arrecadação em impostos. Arrecadam-se dois trilhões, gastam-se quatro. Ainda há quem ache que é uma injustiça a conta não fechar. Não bastasse a crise criada por gestores e governos corruptos, populistas e inconseqüentes, vem este senhor cabeça mais importante do mundo anunciar que o capitalismo é o deus que não morreu, é o deus que não dá trégua, é o deus ao qual todos injustamente se submetem, é o deus que oprime e que cria pobreza. Ora, tenha a santa paciência!...  
Querem a verdade? Mais idiota que o senhor Giorgio Agamben é aquele que paga tributo a seu brilhante cérebro de titica...!

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