Recebi uma correspondência muito original e provocativa. Vejam seu conteúdo: o lado negro dos doze signos. Imagine-se imediatamente o que está por vir. Sou taurino e, como tal, fui direto sem escalas a ver o que haveria de tão negro sobre mim. Ainda que não acredite nessas bobagens zodiacais, a curiosidade, que matou o gato, me preencheu todo o ser e não pude resistir. O que me intrigou foi o fato de não se considerar o taurino como um curioso. Vai ver é uma característica inata de todo ser humano.
Em primeiro lugar, descobri-me um sujeito que cultiva amizades sólidas. De fato, e que confirmem lá meus mais pétreos amigos, se sou amigo, sou amigo até debaixo d’água. Amo meus amigos mais do que aos parentes. Eu os escolhi no meio do mundo, fui o responsável por cativá-los e os levei a aceitar todos os múltiplos e enormes defeitos que tenho. Eles, por sua vez, me amam à sua maneira. Devem às vezes me olhar pelas costas, mas isso não chega a ser uma traição ou uma demonstração de infidelidade. Ao contrário, é próprio do ser humano. Eu, de minha parte, tudo o que deles falei pelas costas, falei antes pela frente. O resto foi o disse-me-disse da canalha.
Depois me descobri egoísta, um sujeito que só pensa em si e que só quer para si. Ora, não é que é verdade?! Na verdura dos anos – e durante vários outros anos - meu coração era uma geléia de tão mole. E cometia os erros mais crassos da paróquia. Pairo, então, nesses longínquos anos, o sujeito de baixa auto-estima, cuja culpa vai-lhe pesar o resto da vida. E por isso dava. Dava tudo. Nada guardava para mim. Nada tinha. Tudo era para os meus. Ora, era uma obrigação! Se fosse egoísta, guardaria um naco para mim, pois não? Que nada. Nada guardava, repito. Entretanto, com o tempo escolhi-me a mim mesmo. Troquei os outros por mim. E então me tornei egoísta. Devo dizer que o termo egoísta é demais para o que sou. De fato, hoje sei que o ator mais importante desse filme que é minha vida sou eu mesmo. Sou o galã dessa fita. Não chego a nada dividir. Divido muito. Mas penso, sim, muito em mim e no meu bem-estar. Se isso é ser egoísta, então sou egoísta. Tornei-me egoísta porque passei a pensar primeiro em mim. Paciência. O zodíaco está certo novamente. E já não me pesa nenhuma culpa.
Sou também pouco dado a abandonar meus pontos de vista. Minha opinião tem mais peso. E não costumo mudar de idéia. Com efeito, sou um quebrador de paradigmas e quando se faz isso, meus amigos, não é mais possível voltar atrás. Não há possibilidade. É uma questão de decisão. Se rompo com o statu quo é porque minha opinião prevaleceu. Não há como fazer essa ruptura sem um forte e poderoso ponto de vista. Não é possível construir um palácio sobre um casebre. Há que, antes de qualquer coisa, remover primeiro a tralha. Há uma tênue porém clara diferença entre teimosia e firmeza, como é fácil perceber. A desconstrução de um modelo é um processo. Poucos nele se aventuram. Por isso a opinião destes – notadamente os astrólogos – sobre inflexibilidade. Sou tão flexível que mudei todos os conceitos sobre a maioria dos temas intrigantes, conflitantes e angustiantes da vida e do viver. E anseio continuar a fazê-lo sempre que julgar imperioso. Não é demais lembrar que tais conceitos me foram impostos desde sempre, desde quando vim ao mundo. Agora, sim: ajo como um bom taurino – não arredo o pé de meu palácio.
E me imputam a avareza como um prodigioso sinal de meu táureo comportamento. Nada poderia estar mais próximo da verdade. Após passar anos a fio enricando bancos e instituições financeiras, aprendi com louvores a gerenciar meus próprios recursos. Com isso, meu dinheiro - ganho com grande esforço, dedicação e zelo – hoje pode trabalhar para mim, sem que eu precise me matar para ganhá-lo, ainda que isto tenha suscitado em algumas pessoas próximas a vontade de me o tomar à força da chantagem e da manipulação. Fui educado sob o paradigma do endividamento. Meus bancos me adoravam. Hoje me detestam. Por isso sou taurino.
Consta que odeio perder as coisas e que sou muitíssimo ciumento. Tirando a óbvia constatação de que ninguém gosta de perder, aprendi a lição. Aprendi a perder. Mais ainda: aprendi que perder faz parte do processo de ganhar. Nada se vai ganhar se não se está disposto a perder. A não ser que queira permanecer indefinidamente onde está, se quiser ganhar terá que arriscar perder, e eventualmente perderá de fato. Neste aspecto amanheci taurino, e ao ocaso fui a outro signo que ainda não descobri qual seja. Ver a morte e seu séquito no limiar de cada dia em cada dia de cada ser humano me levou à resignação humilde da fragilidade da vida e da tolice do recalcitrar. Ora, se perco a vida já, já, por que temerei perder coisas? Deixei, assim, de ser taurino neste aspecto.
O ciúme foi a peça mais tormentosa da lista do paradigma de ser taurino. Seguramente foi a outra das conseqüências de uma baixa auto-estima, ao início. Em seguida, a falta de sabedoria em ver o ser humano como vítima de si mesmo e das provações da vida foi a responsável por tão ominoso sentimento. O tempo e a mente aberta são o antibiótico da ignorância e da cegueira da imaturidade. Eis que chegou o tempo, eis que despontou o viço das brancas têmporas. Não há baixa auto-estima há muito, porquanto ruiu o tugúrio dos maus paradigmas.
Por fim, diz o lado negro dos signos que os grandes proxenetas são taurinos. Ainda não experimentei, mas já cogitei fazer dinheiro – do qual gosto muito! – fazendo filmes pornôs. Não como ator, que não tenho dotes para tal, mas como dono da empresa. Ora, se a coisa tem mercado, só pode dar um bom dinheiro! Faltou um sócio para dividir comigo o investimento. Não fosse isso...
Eis aí, queridos amigos, um breve comentário sobre tão intrigante e etéreo “estudo” da personalidade das pessoas nascidas entre 21 de abril e 20 de maio. Espero ter contribuído para confirmar sua validade e rigor científico através de minha própria e incauta exposição. Não se furtem a me criticar e espezinhar. Eu não acredito mesmo nessas coisas: é o que diz na última frase do texto.
Ia esquecendo. Evitei falar que taurinos, segundo esse “tratado”, adoram sexo e prazeres à mesa. Para que não me interpelem em assuntos de foro tão íntimo, não vou comentar esses dois aspectos. Apenas adianto que não somos em nada diferentes, nestes dois temas, dos mais de seis bilhões de habitantes do globo. Seria uma chatice tremenda. E chatos os taurinos não somos.
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