Os
amigos hão de se lembrar que o Fábio Motta voltou a ser surfista.
Aos 53 acorda cedinho para aproveitar os swells
da praia do Titanzinho. Outro dia, não faz muito tempo, o homem
havia sumido sem dar explicações. E, sim, tinha explicações.
Dizia: –“Trabalho muito”...! Seus amigos concluíram que eram
todos uns vagabundos. Sentiam-se como inúteis parasitas da
sociedade. Sim, tinham tempo de se encontrar para jogar conversa
fora, tomar uns drinques, reclamar da vida... Fábio Motta não tinha
tempo para isso.
Eis
que, subitamente, surgiu o nosso Fábio Motta. Dir-se-ia ser um novo
homem e até um novo ser. Com
efeito, ressurgiu. Ressurgiu
magro, esbelto, as faces bronzeadas, o ventre escavado... O
cabelo ainda tinha aquela tonalidade acaju e, diria mais, estava
ainda mais acaju. Comprou pranchas de vários tamanhos, sungas,
sungões, pés de pato, toucas de nadador e acho até que um novo
carro dotado dos inúmeros acessórios que
facilitam
o transporte de toda essa tralha.
Preparou-se para pegar ondas havaianas, as maiores do planeta,
embora, ao que me conste, as do Titanzinho não se comparem com
aquelas. Ainda assim quis se preparar. Sabe-se lá... Vai que um dia
o aquecimento global derrete uma gigantesca calota polar e faz subir
o nível dos oceanos... Não hesitou – matriculou-se num curso de
apneia. Os leigos amigos se entreolhavam e queriam saber: –“Apneia”??
Somente o Mesquita, outro surfista da velha guarda, sabia do que o
homem falava.
Minto. O Sérgio Moura também já foi surfista. Entendia o jargão.
Quando se encontravam, Motta e Sérgio Moura, era um palavreado
danado na gíria do surf. Quando a eles se juntava o Mesquita, aí é
que a coisa pegava fogo. Dizia o Motta: –“Estou fazendo um curso
de apneia”. Os outros perguntavam: –“Que diab'é isso”? E
ele respondia: –“É para aumentar o fôlego”! E assim o nosso
amigo se reequilibrava nas pranchas e aprendia a segurar a respiração
para não se aperrear nos caldos resultantes das quedas que levava.
Afinal, 53 são 53!
A repaginada do amigo fora tão marcante que eu já nem entendia o
que o homem dizia. “O mar 'tava gordo, brother!”... “Fulando é
o mó ka”!... “Sexta-feira só deu merreca”... Eu mudo estava,
mudo permanecia. No Titanzinho, a praia que costuma agora frequentar,
se envolveu com a comunidade, gente humilde e pobre, e até se tornou
conhecido pelas caridades e ajudas que presta aos moradores. As
gangues do lugar lhe abrem as portas e não o incomodam. Enfim, ao
que parece Fábio Motta parou de trabalhar. Suspeito que tenha se
aposentado. Nunca mais falou em escritório, em cheques a receber, em
clientes novos ou antigos... Hoje em dia só uma coisa lhe interessa
– a prática de seu esporte favorito. Bem se vê que a guinada foi
de 180 graus.
Eu disse que ele nunca mais falou em escritório? Foi um engano de
minha parte. Ele falou de sua nova estagiária, uma jovem moradora da
comunidade do Titanzinho. Verdade é que falar da estagiária não é
a mesma coisa que falar do escritório, mas é só se fazer uma
forcinha que é possível relacionar uma e outra coisa. Orgulhoso,
outro dia publicou na rede social uma fotografia onde ele e a
estagiária estão lado a lado, ela com um sorriso de orelha a
orelha, ele com uma expressão facial tão ou mais enigmática que a
da Gioconda do Da Vinci... E isso fazendo aquele conhecido sinal de
hang loose em que deixa-se
apenas o dedão e o dedo mindinho erguidos enquanto o indicador,
o dedo médio e o anelar ficam para baixo. Tenho
que admitir – na foto o meu amigo Fábio Motta está a cara do
Gerard Butler em Chasing
Mavericks. A diferença
é que o Butler ensinava Jonny Weston a pegar ondas, enquanto não se
sabe ainda o que o nosso Motta tem ensinado à estagiária.
Antigamente o nosso Motta fazia
muita propaganda de seu negócio de seguros. Com a nova fase, o
negócio pode até ir pro beleléu que ele nem se importa. Hoje o que
o move é a propaganda de seu esporte. Tanto é que, não satisfeito
em divulgar a sua nova estagiária na rede social, resolveu também
divulgar sua performance sobre as ondas. Foi
o que pude comprovar há dois ou três dias. Abro a rede social e
vejo lá, estampada, uma fotografia de um surfista descendo numa onda
dentro daquela parte formada por sua base e o enrolar de sua crista,
mais conhecida como “tubo”. Os amigos faziam comentários e
estimulavam o surfista: “Valeu, Fábio Motta”! “O homem 'tá
entubando muito bem”! “Dá-lhe, Fabão”!
O diabo é que na foto o surfista
está de costas para a câmera, de modo que é impossível ver-lhe o
rosto. Começaram, então, os comentários maldosos: “É montagem”!
“Não é o Fábio”! “O cara tem uma tatuagem; Fábio não tem
tatuagem”... e por aí a coisa foi tomando vulto. O Sérgio Moura,
aparentemente um exímio conhecedor do esporte, foi taxativo – não
seria o Fábio Motta descendo na onda. O Tomasim, atento observador
de detalhes de imagens por ser fotógrafo amador mas não menos
competente, dizia: “Há mesmo uma tatuagem próxima ao cofrinho
do homem”, ao que o Sérgio insistia: “Mostra a cara, mostra a
cara”!
Ao final das contas, não se sabe se o surfista é ou não é o Motta. Por isso, vai aqui uma pergunta a ele: Fábio Motta, tu és mesmo um tube rider ou
não passas de um prego?
Sim, porque até agora a
negrada 'tá jurando que tu és, no mínimo, um maroleiro.
Corre à boca miúda que
tu fazes mesmo é muita onda!...
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