terça-feira, 7 de abril de 2015

BARRIGAS E SUNGÕES

          Alguns dirão que sou um obcecado e direi que, sim, sou um obcecado. Afinal, falo e falo sobre o Fábio Motta. Houve tempo em que falei a não mais poder sobre o Mesquita. Alguém há de perguntar por quê. Responderei: –“É amor”. Uma amiga se chateou comigo porque deixei de farrear, ocasião em que nos encontrávamos. Ora, amigos que são amigos não se chateam por bobagens. Vejam que falo às pampas do Mesquita e do Fábio Motta. E o que eles fazem? Respondo sem demora: – se riem. Ao contrário de minha amiga, se divertem com minhas chacotas e peripécias. O Fábio Motta não apenas se ri, mas implora a que eu escreva falando sobre ele. Digo, então, à minha amiga – seja minha amiga; não se aborreça por bobagens; amigos que são amigos não se amuam por coisas sem importância.
          Eu dizia que muito falo dos amigos que amo. O amor fraternal nos impele a esses arroubos de implicância com o amigo amado. Quer provocá-lo sem ofendê-lo; instigá-lo sem importuná-lo; expô-lo sem ridicularizá-lo; enfim, quer rir-se de nossas idiossincrasias, justamente aquelas que mais “admiramos”, ao mesmo tempo que nos pomos tacitamente à sua disposição para os devidos “revides”. Tudo na mais completa alegria e na mais completa cumplicidade.
          Amigos que se amam mexem-se entre si e mesmo que se passe longo tempo antes que se reencontrem, na vida real ou na virtualidade do mundo digital. Minha amiga, a que se aborreceu comigo, bem poderia ter minha companhia na tal virtualidade. Mas, não; preferiu encher-se de tola impaciência, de incompreensível ciúme, como é bem próprio da amizade das mulheres. Esquece-se ela que sou homem e que o cérebro do homem é diferente do da mulher; mas também esquece-se de que o coração do homem bem pode ser tão ou mais sensível que o coração feminino. Há homens que amam e sofrem como as mulheres, bom é que se diga.
          Homens amigos não se perdem em mexericos e mágoas infundadas. São diretos e, vale dizer, mais diretos e menos dissimulados que as mulheres. Mesmo em suas atitudes interesseiras frente a espécime do sexo frágil, o homem não cuida a que passem despercebidas suas intenções, sejam elas quais forem, boas ou “más”, morais ou amorais. É próprio das mulheres o ardil, a ocultação do que pensa e do que trama, o cultivo de amizade que não é amizade, o perder o sono quando o pensamento alheio está sobre si a julgá-la de forma diversa àquela que lhe interessa. Tal comportamento é, em tese, tipicamente feminino, guardadas as exceções que sempre há, sem dúvida.
          Assim, minha amiga há de compreender que não me preocupa se sentiu-se ofendida por minha relativa ausência. Caso tenha se sentido conforme parece, é bom que saiba que só ela sofre. De minha parte sigo inocente e repleto do modo masculino de pensar. Paciência. Nada posso fazer. Se me comportasse ou agisse de outra forma estaria incorrendo numa dicotomia entre o abstrato e o concreto, entre o pensamento e a ação. Seria como se pensasse em coçar o pé por vontade soberana e acabasse por coçar a cabeça por submissão à vontade de outrem.
         A título de exemplo, vejam como é difícil não se divertir com os amados amigos. O diabo é que novamente é o meu amado Fábio Motta a dar o mote à pilhéria. Antes, porém, preciso anunciar uma corrigenda em texto anterior, precisamente aquele em que pôs-se em dúvida se o surfista da fotografia seria ou não o nosso Motta. Dias depois à publicação do texto, eis que ele vem a público, na rede social, e divulga novas fotos, desta feita ele de cara para a câmera sobre a prancha de surf e descendo numa onda. É bem verdade que não seria a tão desejada Maverick, que essa não existe por esses mares, mas também não seria uma marola. Não há, então, nenhuma dúvida – Fábio Motta é mesmo um surfista ativo e engajado.
          Não bastassem os esforços do homem, velho surfista de guerra agora categoria master, em se fazer respeitar por seus mais diletos e velhos amigos, outros há que também querem aparecer na fita. O leitor dirá se tenho ou não razão.
          Passei alguns dias longe da rede social. É fato inconteste que ela, a rede social, tem o pendor de nos subtrair da vida real e de atividades bem mais produtivas e interessantes. Se alguém duvidar, que leve a cabo o seguinte experimento. Muitos dizem que vão à rede social apenas a ver as notificações mais recentes. Pois quando o fizerem à próxima vez, policiem-se. Num átimo ver-se-ão tragados por ela e perceber-se-ão escarafunchando tudo o que lá foi publicado até então. Quando perceberem que morderam a isca, já se terão passado trinta minutos, quarenta minutos ou até mais. É pagar para ver. Como se dizia antes, é batata.
          Pois foi justamente numa dessas enganosas visitas à rede social que fui por ela engolido. Após alguns dias dela afastado, vi-me, num átimo como já frisei, defronte a uma fotografia de dois sujeitos vestidos em coloridos sungões tendo por detrás de si uma piscina enorme. Era noite. Olhando melhor, reconheci – eram o Sérgio Moura e o Luís Júnior. Serjão – o Motta escreve “Sergão” – escreveu na legenda da foto que estava de volta aos treinos após 14 dias parado e a distância percorrida no treino: – 1600 metros! As barrigas mereciam um treino mais longo, devo dizer... Mas não parou por aí. O Sérgio ainda fez suspense; escreveu: –“Quem sabe posso até voltar a surfar”... (Não é surpresa pra ninguém que ele já foi surfista, de modo que é aguardar pra ver. Do jeito que a coisa vai, daqui a pouco estarão também surfando o Bacana, o Tomasinho e o Gaudêncio.)
          Já ia desligar o computador quando li um comentário anexo à foto. O Motta, todo serelepe por estar fazendo escola em seu novíssimo lifestyle, escreveu: –“Vamos nessa, Sergão...Você faz o curso e depois ingressa no clube mais seleto de apneia do Brasil. Todas as quartas de 18 às 21 horas no... Estou te esperando amanhã”! Ora, ora, ora!... A coisa é séria, pensei cá com meus suspensórios. Durante 3 longas horas, uma vez por semana, o sujeito aprende a prender a respiração.
         De mim para mim sussurrei “tenho mais o que fazer” e fui... nem me lembra agora em que fui me ocupar, mas garanto que foi bem longe da rede social. Quanto ao surf, farei uma aulas com o meu querido amigo Fernandes Filho, o Zorrinho. Com ele não tem esse negócio de rede social, não. É tudo longe de tudo e de todos. Como é mais apropriado aos principiantes. Quem gosta de platéia é ator. 

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