Alguns
dirão que sou um obcecado e direi que, sim, sou um obcecado. Afinal,
falo e falo sobre o Fábio Motta. Houve tempo em que falei a não
mais poder sobre o Mesquita. Alguém há de perguntar por quê.
Responderei: –“É amor”. Uma amiga se chateou comigo porque
deixei de farrear, ocasião em que nos encontrávamos. Ora, amigos
que são amigos não se chateam por bobagens. Vejam que falo às
pampas do Mesquita e do Fábio Motta. E o que eles fazem? Respondo
sem demora: – se riem. Ao contrário de minha amiga, se divertem
com minhas chacotas e peripécias. O Fábio Motta não apenas se ri,
mas implora a que eu escreva falando sobre ele. Digo, então, à
minha amiga – seja minha amiga; não se aborreça por bobagens;
amigos que são amigos não se amuam por coisas sem importância.
Eu
dizia que muito falo dos amigos que amo. O amor fraternal nos impele
a esses arroubos de implicância com o amigo amado. Quer provocá-lo
sem ofendê-lo; instigá-lo sem importuná-lo; expô-lo sem
ridicularizá-lo; enfim, quer rir-se de nossas idiossincrasias, justamente
aquelas que mais “admiramos”, ao mesmo tempo que nos pomos
tacitamente à sua disposição para os devidos “revides”. Tudo
na mais completa alegria e na mais completa cumplicidade.
Amigos
que se amam mexem-se entre si e mesmo que se passe longo tempo antes
que se reencontrem, na vida real ou na virtualidade do mundo digital.
Minha amiga, a que se aborreceu comigo, bem poderia ter minha
companhia na tal virtualidade. Mas, não; preferiu encher-se de tola
impaciência, de incompreensível ciúme, como é bem próprio da
amizade das mulheres. Esquece-se ela que sou homem e que o cérebro
do homem é diferente do da mulher; mas também esquece-se de que o
coração do homem bem pode ser tão ou mais sensível que o coração
feminino. Há homens que amam e sofrem como as mulheres, bom é que
se diga.
Homens
amigos não se perdem em mexericos e mágoas infundadas. São diretos
e, vale dizer, mais diretos e menos dissimulados que as mulheres.
Mesmo em suas atitudes interesseiras frente a espécime do sexo
frágil, o homem não cuida a que passem despercebidas suas
intenções, sejam elas quais forem, boas ou “más”, morais ou
amorais. É próprio das mulheres o ardil, a ocultação do que
pensa e do que trama, o cultivo de amizade que não é amizade, o
perder o sono quando o pensamento alheio está sobre si a julgá-la
de forma diversa àquela que lhe interessa. Tal comportamento é, em
tese, tipicamente feminino, guardadas as exceções que sempre há,
sem dúvida.
Assim,
minha amiga há de compreender que não me preocupa se sentiu-se
ofendida por minha relativa ausência. Caso tenha se sentido conforme
parece, é bom que saiba que só ela sofre. De minha parte sigo
inocente e repleto do modo masculino de pensar. Paciência. Nada
posso fazer. Se me comportasse ou agisse de outra forma estaria
incorrendo numa dicotomia entre o abstrato e o concreto, entre o
pensamento e a ação. Seria como se pensasse em coçar o pé por
vontade soberana e acabasse por coçar a cabeça por submissão à vontade de
outrem.
A
título de exemplo, vejam como é difícil não se divertir com os
amados amigos. O diabo é que novamente é o meu amado Fábio Motta a
dar o mote à pilhéria. Antes, porém, preciso anunciar uma
corrigenda em texto anterior,
precisamente aquele em que pôs-se em dúvida se o surfista da
fotografia seria ou não o nosso Motta. Dias depois à publicação
do texto, eis que ele vem a público, na rede social, e divulga novas
fotos, desta feita ele de cara para a câmera sobre a prancha de surf
e descendo numa onda. É bem verdade que não seria a tão desejada
Maverick, que essa não
existe por esses mares, mas também não seria uma marola. Não há,
então, nenhuma dúvida – Fábio Motta é mesmo um surfista ativo e
engajado.
Não
bastassem os esforços do homem, velho surfista de guerra agora
categoria master, em
se fazer respeitar por seus mais diletos e velhos amigos, outros há
que também querem aparecer na fita. O
leitor dirá se tenho ou não razão.
Passei
alguns dias longe da rede social. É fato inconteste que ela, a
rede social, tem o pendor de
nos subtrair da vida real e de atividades bem mais produtivas e
interessantes. Se alguém duvidar, que leve a cabo o
seguinte experimento. Muitos dizem que vão à
rede social apenas a ver as
notificações mais recentes. Pois quando o fizerem à próxima vez,
policiem-se. Num átimo ver-se-ão tragados por ela e perceber-se-ão escarafunchando tudo o que lá foi publicado até então. Quando
perceberem que morderam a isca, já se terão passado trinta minutos,
quarenta minutos ou até mais. É pagar para ver. Como se dizia
antes, é batata.
Pois
foi justamente numa dessas enganosas
visitas à rede social que fui por ela engolido. Após
alguns dias dela afastado, vi-me,
num átimo como já frisei, defronte a uma fotografia de dois
sujeitos vestidos em coloridos sungões tendo por detrás de si uma
piscina enorme. Era noite.
Olhando melhor, reconheci –
eram o Sérgio Moura e o Luís Júnior. Serjão – o Motta escreve
“Sergão” –
escreveu na legenda da foto que estava de volta aos treinos após 14
dias parado e a distância percorrida no treino: – 1600 metros! As
barrigas mereciam um treino mais longo, devo dizer... Mas não parou
por aí. O Sérgio ainda fez suspense; escreveu: –“Quem sabe
posso até voltar a surfar”... (Não
é surpresa pra ninguém que ele já foi surfista, de modo que é
aguardar pra ver. Do jeito que a coisa vai, daqui
a pouco estarão também surfando o Bacana, o Tomasinho e o Gaudêncio.)
Já
ia desligar o computador quando li um comentário anexo à foto. O
Motta, todo serelepe por estar fazendo escola em seu novíssimo
lifestyle, escreveu:
–“Vamos nessa, Sergão...Você
faz o curso e depois ingressa no clube mais seleto de apneia do
Brasil. Todas as quartas de 18 às 21 horas no... Estou te esperando
amanhã”! Ora, ora, ora!... A coisa é séria, pensei cá com meus
suspensórios. Durante 3 longas horas, uma vez por semana, o sujeito
aprende a prender a respiração.
De mim para mim sussurrei “tenho mais o que fazer” e fui... nem me lembra agora em que fui me ocupar, mas garanto que foi bem longe da rede social. Quanto ao surf, farei uma aulas com o meu querido amigo Fernandes Filho, o Zorrinho. Com ele não tem esse negócio de rede social, não. É tudo longe de tudo e de todos. Como é mais apropriado aos principiantes. Quem gosta de platéia é ator.
De mim para mim sussurrei “tenho mais o que fazer” e fui... nem me lembra agora em que fui me ocupar, mas garanto que foi bem longe da rede social. Quanto ao surf, farei uma aulas com o meu querido amigo Fernandes Filho, o Zorrinho. Com ele não tem esse negócio de rede social, não. É tudo longe de tudo e de todos. Como é mais apropriado aos principiantes. Quem gosta de platéia é ator.
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