Já nem queria mais discorrer sobre futebol ou assuntos a ele relacionados, ainda que muito me divirta com os cenários descritos de seres humanos completamente alucinados por este esporte tão comum e popular. Todavia, escreveu-me o Gaudêncio, amigo imensamente amado e lúcido, discordando de minhas palavras e idéias expostas nos textos anteriores. Longe de mim pretender angariar seguidores ou discípulos, até porque para os ter seria necessário tornar-me mestre ou coisa que o valha, coisa que não sou. Ainda bem que existem os que discordam, os teimosos e os burros.
A discordância de meu amigo é basicamente a seguinte. A felicidade da torcida do Ceará no circo do futebol vem a bem de sua saúde. Em outras palavras – quem é feliz tem saúde, como ele, que é Ceará; e quem é infeliz é doente, como o Sérgio Moura ou o Luís Junior, que torcem pelo Fortaleza. Diz mais – que todos podem escolher se querem ser feliz ou não, arbitrando torcer pelo time que lhes traz alegria ou tristeza. Em suma, meu amigo sugere, com a cara mais deslavada do mundo, que os torcedores que estejam a sofrer em demasia virem a casaca. Admitem-se, pela sua lógica, os que são indiferentes: ou torçam pelo Icasa ou pelo Ferroviário. Esquece o amigo que o futebol, como qualquer esporte, ou até mesmo a vida, é como a cópula - uma hora se está por cima, noutra se está por baixo, o que permite concluir que um dia se é triste noutro se é feliz, ou que um dia se é o touro noutro se é a vaca.
Ele discorda que todos os torcedores sejam apaixonados ou baderneiros. Só uma parte o é. De fato, só alguns torcedores saem a quebrar objetos ou agredir pessoas. Com efeito, só alguns torcedores isolam-se à distância a se fazerem inacessíveis à galhofa alheia.
A classificação do Ceará tem tido um impacto tão grande na capital que hoje à tarde, na 87ª sessão legislativa da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, o deputado Dedé Teixeira do PT, do púlpito tendo ao fundo uma enorme bandeira do Ceará, discursou sobre o feito. Até então julgava eu que ali se debatiam assuntos de elevado teor para os cidadãos cearenses. Não parece ser esse o caso.
Resta-nos agora aguardar o dia da troca – quem ficará por cima e quem ficará por baixo. Ou quantos ficarão por cima e quantos ficarão por baixo. Todas as combinações são possíveis. Nada dura para sempre. Nem as estrelas.
Fernando Cavalcanti, 25.11.2009
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