Era psicóloga.
O marido, neurocirurgião brotado
em família de médicos, demorava-se no leito. Haviam acabado de acordar de uma
noite de sono profundo e reparador.
– “Não vais trabalhar”?, ela quis saber, no
vai-e-vem entre o quarto e o banheiro
Tirando os lençóis do rosto, ele disse, com as
palavras saindo de um longo bocejo:
– “Sinto-me meio cansado... não sei...”
Mal completara a frase, pulou da cama e disse:
– “Vamos à luta!”
– “Então vou preparar um café pra gente...”,
retrucou ela com um sorrisinho meio amarelo.
Dali a pouco ele chega à mesa e se depara com um
desjejum de hotel cinco estrelas. Era capricho de mulher apaixonada.
– “O seu carro está atrás do meu”?, perguntou ele
mordendo o bico do pão.
Era um prédio com duas vagas na garagem para cada
apartamento, desses em que as vagas são alinhadas, como numa fila.
- “Está, sim. Você pode ir no meu. Quando eu sair,
uso o seu”.
Estava resolvido. Ele podia sair antes dela. Não
tinha problema. Se estivesse apressado, claro. Neurocirurgião anda sempre
apressado, é o que se pensa a princípio. Ou talvez não. Ele não parecia ter
pressa. Não ia operar ninguém. Combinaram de cada um sair no tempo que cada um
demorasse para se aprontar, tomar banho, escovar os dentes, se vestir...
Ao final de uma hora ele estava de maleta na mão,
bem vestido, cheirando a um Lacoste comprado no freeshop de Standsted dois ou
três anos atrás.
-“ Tô indo”..., e lhe beijou a testa, ela ainda
sentada à mesa tomando café preto.
Era cedo. Ele só voltaria ao fim do dia.
***
Ele teve sua rotina de praxe no trabalho. Ao longo
do dia não havia recebido mensagem alguma da mulher. Poder-se-ia dizer que era
algo meio estranho, fora do padrão. Ou nem tanto, já que, como psicóloga, tinha
o consultório para dar conta. Ainda assim, lhe pareceu esquisito, já que
habitualmente ela lhe enviava pelo menos uma mensagem ao longo do dia querendo
saber como ele estava.
Voltava para casa por volta de 20 horas, após um
consultório laborioso e cansativo. Ansiava revê-la, jantarem juntos, contarem
reciprocamente sobre seu dia.
Ao adentrar o estacionamento do prédio concluiu que
ela já havia voltado para casa, já que seu carro estava lá. A curiosidade lhe
instigava. Por que razão incapacitante passara o dia numa ausência
fantasmagórica e aparentemente interminável?
Ao abrir a porta já foi chamando seu nome. O
apartamento não era grande, de modo que ela ouviria seu chamado de qualquer
aposento onde estivesse.
Nenhuma resposta. O silêncio era absoluto. Foi
direto para a suíte; ela poderia estar no toalete de porta fechada.
O quarto estava bem arrumado como se a funcionária
tivesse passado por lá para fazer uma limpeza geral de rotina. Mas, não era dia
da limpeza. Seguramente nenhuma funcionária lá estivera. Tirou o telefone
portátil do bolso na busca de uma mensagem dela. Nada. Tampouco uma chamada não
ouvida e não atendida. O aparelho estava no silencioso. Ela poderia ter ligado.
Melhor seria ligar para ela e saber se estava tudo
bem. Cidades não muito seguras sempre levantam suspeitas quando de ausências
prolongadas e inexplicáveis.
O telefone chamou até cair na caixa postal.
Ligou para o consultório. Ela poderia estar lá
atendendo algum paciente e não estaria podendo falar ao telefone, mas a
atendente foi taxativa – ela ligara bem cedo pela manhã cancelando toda a
agenda do dia. Não aparecera por lá.
O próximo passo foi ligar para a sogra, que morava
noutra cidade. Pelo menos com a mãe ela teria falado. E, de fato, falara. Há
poucos minutos. Dissera estar tudo bem, tudo em ordem, tudo nos conformes. Ele
se furtou a lhe dizer que presumia haver algo errado, já que ela sumira... para
ele, somente para ele. A mãe saberia de algo? Das razões de ela estar agindo
assim? Ele não fazia a menor ideia, já que não brigavam, não discutiam, tratavam-se
bem e com respeito, enfim, sua relação seria perfeita.
Resolveu
descansar e esperar. Mais cedo ou mais tarde tudo viria à tona. Pelo menos
sabia nada de mais ter-lhe acontecido. Tomou uma ducha e deitou-se para um sono
reparador.
***
Uma semana se passou e nada de notícias dela. Não
que ele não tivesse tentado por várias e várias vezes. O telefone chamava até
desligar e ela não atendia. No consultório a atendente informou que ela
cancelara todas as consultas por tempo indeterminado, mas que já voltaria a
atender na semana seguinte, dali a três dias. Ele pensou em lá ir para
conversar com ela, mas considerou que não seria um lugar muito apropriado para isso.
Aguardaria. Lembrava-se de que ele estava com o carro dela. O dele estava
parado no estacionamento do prédio desde que ela sumira. Em algum momento ela
viria resolver.
***
Num domingo o telefone tocou. Era ela.
– “Vou passar aí amanhã para pegar as minhas coisas...”
– “Mas, Odila, o que está havendo”?
– “Passarei quando você já tiver saído para trabalhar,
tá bem”?
Ele ficou mudo, sem saber o que dizer. Alguns segundos
se passaram e ela completou:
– “Não quero mais... não vou mais voltar... já deu...
aproveito e pego meu carro.”
E desligou.
Doutor Alarico até hoje não sabe o que se passou com
sua esposa Odila.
Situação Parecida aconteceu com um amigo de trabalho que, por coincidência era também meu vizinho no velho e saudoso condomínio Princesa Isabel. E um dia ele me falou: quando casar novamente vou sempre levar minha esposa para sair aos finais de semana: jantar, cinema, teatro, passear na beirar mar ou abrir um vinho convida-la pra compartilhar e pensar menos em trabalhar…foi assim com meu Velho amigo Ricardo que continua casado até hoje, com outra pq anterior já se fora há muito tempo….
ResponderExcluirAlguns casam e outros sabem casar...
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