Recentemente quis o destino que estivesse de frente
a dois entes absolutamente estranhos. Diria até serem eles imiscíveis, algo
como o óleo e a água. Mas... quem são eles? Respondo: – são eles “o
entendimento” e “a verdade dos fatos”. O que aconteceu foi o seguinte.
Um amigo, em interessante diálogo com não sei quem,
quis lucubrar sobre a possibilidade de “a verdade dos fatos” ter dono. Imaginem.
Ele supôs, em sua “pureza” de amigo que,
se o sujeito se acha dono da verdade dos fatos, agirá conforme a autoridade
advinda de tal possessão ou, dito de outra forma, agirá conforme seu
entendimento. Seria como se... sei lá... aos amigos tudo fosse permitido. (Já
estou cá a fazer valer a minha posse da verdade que diz que, sendo amigo, tudo
pode.)
Falando assim
parece não fazer sentido o que foi dito ao início. Se o entendimento e a
verdade dos fatos são mesmo imiscíveis, então eles seriam mutuamente exclusivos.
Daí pergunto: – como, então, pode o sujeito, dono da verdade dos fatos, agir
conforme seu entendimento? Bingo! Pois – pasmem! – é exatamente o que acontece.
Não se vai muito longe sem antes se ter o vislumbre
da explicação do porquê isso ocorre. Com efeito, ela se apresenta clara como
água: – ninguém, agora ou em tempo algum, é dono da verdade, inda mais da
verdade dos fatos. A propósito, a expressão “verdade dos fatos” é uma imensa
tautologia, um brutal pleonasmo, uma inexorável redundância. Contra fatos não
há argumentos, diz a fria sabedoria popular. Falar-se na verdade dos fatos
seria como se referir à “verdade verdadeira”. O fato simplesmente é.
E ponto final. A pessoa que age baseada em seu julgamento próprio e pessoal
nunca estará agindo com base nos fatos, eis a grande conclusão. Dizia Hugh
Prather que “o erro é um lembrete de que não estou lidando com os fatos”.
O problema é que viceja por aí a ideia de que cada
ser humano, cada um de nós, tem a sua verdade, sendo ela irretocável,
inviolável e absoluta. Por aí se vê que, supondo que todos pensem pensamentos
de toda sorte, que todos desejem desejos de todo tipo, que todos sintam
sentimentos de toda origem e fins pessoais, a suposta verdade de cada um é tudo,
menos a “verdade dos fatos”; é tudo, menos a “verdade verdadeira”.
Eu ia dizer qualquer coisa, fazer um comentário
imbecil – sou bom em comentários imbecis – mas, arrefeci. Fiquei quieto. No
final, só pude concluir o seguinte – a evidência brutal da diminuta e ao mesmo
tempo enorme diferença entre a única e irrevogável verdade dos fatos e nossas bilhões
de diminutas e insignificantes verdades individuais. Indo além, diria que
nossas microscópicas verdades individuais abrigam apenas e tão-somente nossos
inflados e pobres egos, na luta para sobreviver. A pergunta que me faço é: –
sobreviver a quê? Só posso supor que lute para sobreviver à nossa consciência
ou, melhor dizendo, à consciência individual de cada um de nós.
Voltemos ao “entendimento” ou, melhor, falemos dele.
Digo, o amigo admoestava o outro sobre o perigo de a verdade dos fatos se
confundir com o entendimento pessoal. A conversa carregava algo de alucinatório,
algo de imponderável, algo de intangível... parecia uma espécie de delusão
verborreica, uma espécie de surrealidade, dado o bizarro daquele momento.
Ora, aquele que se referiu à “verdade dos fatos”
quis, claramente, enfatizar seus argumentos, deixar claro não se tratar de uma
opinião, de um entendimento pessoal.
Baseava-se, unicamente e exclusivamente, nos fatos.
Tudo isso, esse “palavrório” todo, vem à guisa de
demonstrar para onde certos diálogos são levados. Como ele, o diálogo, tem um
componente mínimo de dois indivíduos, pode, em determinado momento, a certa
altura, passar a ser conduzido por um deles, tendo em vista a perda do fio da
meada por parte do outro. Vejamos um exemplo.
Os comunistas. Não, não... Vejam o Carlos
Marighella. O que direi sobre este senhor pode, a seguir, ser usado como uma
figura de linguagem sobre o comunismo.
Este senhor escreveu um livro, “Manual do
Guerrilheiro Urbano”, acessível a quem quiser na rede mundial de computadores, que
trata sobre como matar pessoas naquilo que levaria à vitória de sua ideologia na
guerra que considerava “religiosa” contra o resto do mundo. Bem dito, uma vez
que sua guerra não tem território específico. E tem: – em todo o território do
planeta Terra deve ou deveria viger o comunismo. Para quem não sabe – e acreditem:
muita gente não sabe – tudo é de todos e nada é de ninguém. Uma ressalva sobre
esse “tudo”. Na ideologia comunista esse “tudo” é a miséria geral e irrestrita,
escapando dela somente os que perambulam em torno do poder central. Não sei se
me fiz entender... Há mais. Aqui não estamos falando de bens materiais somente.
Há o principal, o mais importante, a ser subtraído do ser humano – sua
liberdade ou a supressão dela. Como há duas liberdades, a física e a não-física
– mental, espiritual e emocional –, à supressão do direito de ir e vir se
associa a supressão do pensamento e todas as consequências dele, tendo como
pano de fundo a miséria endêmica.
É histórico o que aconteceu à população cujo país
se deixou dominar por esta nefasta ideologia – os extermínios em massa, os
assassinatos em massa antes do grassar da bancarrota econômica e da miséria
geral. Não se trata de uma opinião,
minha ou de quem quer que seja – é histórico, repito; são fatos, são verdades
levadas a inúmeros tratados e livros por autores de diversas nacionalidades e
origens, muitos deles ex-comunistas ferrenhos que se renderam à dura realidade
contra a quimera que lhes foi vendida (https://umhomemdescarrado.blogspot.com/2015/12/os-crimes-do-comunismo-excerto-do.html).
Assim, estamos diante de fatos históricos que
referendam a natureza assassina e desumana dessa ideologia que, repito,
pretende dominar todos os seres humanos da face da Terra. Sim, não há meio
termo para comunistas. Para eles só há vida e “direito” a ela no comunismo. Fora
isso, resta somente a morte para os “rebeldes”.
Agora pergunto, a
propósito do amigo que inquiria do outro se não seria o caso eliminar o
comunista que está em vias de subverter a ordem e já agindo conforme reza sua
cartilha: – não seria legítima defesa? A pergunta do amigo era baseada em fatos
ou, melhor dizendo, na verdade que se lastreia em fatos. O outro, seu
interlocutor, já saiu com a justificativa de que, feito isto, seria um
flagrante uso do entendimento pessoal para agir criminosamente tal qual o real
criminoso, o criminoso de fato; como se o exercício da legítima defesa tornasse
um inocente que reage semelhante em maus bofes ao que faz uso de cartilha que
manda odiar o ser humano e matá-lo tão logo tenha a oportunidade.
Como disse o José
de Alencar ao final de “Iracema”, tudo passa sobre Terra, ao que eu completo,
numa conclusão nada poética – tudo passa numa cabecinha humana...