Um amigo, hoje, reverberando o que disse tempos atrás uma amiga, "acusou-me" de escrever textos longos. Falou que a linguagem da mídia exige textos menores, condensados, de três ou quatro parágrafos no máximo. E finalizou, cuidadoso: -"Essa é uma crítica construtiva"! Agradeci.
O amigo acertou em cheio. Não escrevo textos curtos. Ele, talvez, estaria certo também se dissesse que meus textos são tediosos dada sua suposta prolixidade; mas erra ao pensar que quero espaço na mídia e que, para o conseguir, devesse usar a "linguagem" apropriada. Não quero espaço na mídia porque nela já tenho meu espaço. Mais espaço? A ambição deve ter limite.
Agora, me digam: - como escrever um texto de quatro parágrafos após assistir a matéria da TV CULTURA? (Sigam o link acima e a assistirão na íntegra.) Os comentaristas não falam senão a verdade sobre o que está a ocorrer em nosso pobre Estado do Ceará e, por extensão, ao resto do nordestão brasileiro.
No que se refere a nós, a reportagem parte do desabamento da marquise do recém inaugurado hospital em Sobral, pouco mais de um mês após sua espalhafatosa inauguração através de um show da Ivete Sangalo. O bicho custou 227 milhões de reais aos cofres públicos, aos quais se somaram mais 650 mil reais do cachê da cantora. A reportagem faz ainda referência aos 3 milhões de reais pagos ao Plácido Domingos no show de inauguração do Centro de Eventos do Ceará, ao final do ano passado. E mais: - refere-se, jocosamente e não sem razão, ao temperamento "excêntrico" de sua Excelência, o governador Cid Gomes – que eles alcunharam de "El Cid" –, quando ordenou que se parasse o jato onde viajava à cabeceira da pista para descer rapidamente a fim de não se atrasar a um compromisso agendado.
Afora a comparação ao guerreiro castelhano Rodrigo Díaz Vivar, que viveu no século XI e é, até hoje, alvo de lendários protagonismos, o resto do relato dos comentaristas é fato. Tudo isso sobre milionários cachês é a mais pura verdade. Por isso os comentaristas passaram a mirar sua artilharia na direção dos que concedem a "El Cid" toda a sua liberdade para fazer o que bem entende: - o "Legislativo" cearense, lotado à Assembléia de deputados estaduais, o tribunal de contas do Estado (TCE), e o povo, o velho povo.
Segundo esses sérios jornalistas, nossa Assembléia é uma igreja cujo deus é o governador: - todos dizem "amém!", com exceção de um único deputado. (Pensei logo no Heitor Férrer, mas pode bem ser outro.) É possível que a bancada da oposição seja composta por mais gente, mas o que se sabe é que os governantes brasileiros estão destituídos e pobres de oposição, e no Ceará isso tem ficado cada vez mais evidente através desses fatos.
Os conselheiros do tribunal de contas aprovarão os gastos de El Cid? É óbvio que sim!, concluíram os debatedores, com poucas chances de que estejam errados. Até agora lá funciona outra igreja, cujo deus é o mesmo, e onde a última palavra é "amém!" mais uma vez.
Por último, e principal responsável por toda essa lambança e desgoverno, o povo, que reelegeu "El Cid" para seu segundo mandato logo no primeiro turno das últimas eleições.
De quebra, a reportagem fala da penosa situação de pobreza em que permanece esse velho Estado do Ceará e de sua principal e maior cidade, Fortaleza, com seus pouquíssimos bairros ostentosos e portentosos de riqueza ao lado de bairros pobres e miseráveis, a grande maioria. (O engraçado é que eu já falei tudo isso inúmeras vezes!)
Não me recorda agora se foi falado sobre a imprensa local e seu papel no vicejar de nossa eterna politicalha. Se não falaram, deixo o registro: - a imprensa local é folhetim de todas as nossas "igrejas". Pode até não falar "amém!", mas está sempre no "culto".
Os nobres comentaristas encerram a matéria falando das Alagoas e da cidade onde nasceu o atual e recentemente eleito presidente do Senado, o senhor Renan Calheiros: Murici. A pobreza lá é endêmica, o analfabetismo também, e sua cunhada, mulher de seu irmão, é a impoluta figura que controla o programa Bolsa Família.
Continuo ou o palavreado já vai esticado demais?