Contou-me hoje no ambulatório – vários assassinatos
ocorreram no último mês na Cidade 2000, onde mora. Aos leitores alhures,
esclareço que é um bairro desta miserável capital alencarina. (E que me perdoe
o escritor...) O último, há pouco menos de um mês, foi a duas casas da sua,
vizinha a uma vizinha, tudo relacionado ao tráfico e uso de drogas.
Perguntei-lhe do
policiamento, se aumentara após esses fatos. “Os policiais fazem parte do
esquema, doutor... recebem uma ‘ponta’”, respondeu-me sem hesitar. Busquei cá
em minha memória e nada nela achei sobre isso. Afinal, não leio jornais nem
assisto aos noticiários e telejornais. Ainda assim, aos dias de hoje as pessoas
dão conta, nas redes sociais, dos acontecimentos omitidos pela imprensa marrom.
Ainda assim, nada. Não ouvi falar de mortes naquele bairro há um mês, nem há
dois, nem há um ano.
Sugeri-lhe uma
mudança para outro bairro ou para o Tocantins, estado onde mora o filho mais
velho. Mudar de bairro não resolve, ela disse. “Tá tudinho igual. Estamos
entregues às baratas”!
Antes
estivéssemos. Baratas não são venenosas, nem mordem, nem picam... Antes
tomássemos banho com as baratas ou banho de baratas, como outro dia vi os artistas fazerem num
programa de TV. Após o banho, fediam a metano, a substância a que elas cheiram.
(Dizem que barata solta pum, e pum com cheiro de metano.) Assim, peçamos ao
governo que nos entreguem, literalmente, às baratas, mas nos retirem desse mar
de violência onde mergulhamos.
Quanto ao
Tocantins, é mais quente que o inferno, segundo ela. Se a temperatura ambiental
sobe por lá, sobe a temperatura da maldade e insensatez dos homens por aqui. É
uma questão de escolha. Há que se ter a coragem de se achar a solução pessoal,
individual, que atenda ao instinto de sobrevivência de cada um.
Saiu pela porta meneando a cabeça como a assumir sua tolerância à situação. Se havia solução, talvez pensasse, não estava ao seu alcance. Quanto a mim, suspirei, desejando o fim daquela jornada matinal. Dias há em que não se quer sair ou, sim, se quer sair, mas para outro lugar, distante desse lugar...
Saiu pela porta meneando a cabeça como a assumir sua tolerância à situação. Se havia solução, talvez pensasse, não estava ao seu alcance. Quanto a mim, suspirei, desejando o fim daquela jornada matinal. Dias há em que não se quer sair ou, sim, se quer sair, mas para outro lugar, distante desse lugar...
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