sábado, 11 de novembro de 2023

"SEU" ANTÔNIO, DISCÍPULO DE NASSIM NICHOLAS TALEB

           O que aconteceu foi o seguinte.

Contrataram “Seu” Antônio, lá para as bandas de Crateús, para confeccionar e pôr no lugar a escada helicoidal do Teatro Rosa Moraes. Seu Antônio é um homem simples. Seu ego é tão raso que, usando uma do Nelson Rodrigues, uma formiguinha atravessaria a pé com água pelas canelas. Seu aprendizado veio da prática diária em seu ofício. Nada de curso superior, nada de pós-graduação, nada de mestrado... Como se diz por aqui, Seu Antônio aprendeu com o dele na reta. Sempre. Quero crer que tenha fracassado a não mais poder.

Assim, lavrado o contrato, ele e seus empregados colocaram mãos à obra na valiosa peça que ligaria o andar térreo ao superior daquela casa de espetáculos.

Certo dia, terminado o trabalho na oficina, a escada – uma estrutura única, indivisível e inseparável – foi levada para ser colocada em seu devido lugar, um estreito espaço previamente designado e planejado a ela. Lá chegando, Seu Antônio e seus colegas deram de cara com outros trabalhadores que também estavam envolvidos na obra do teatro. Eram engenheiros civis, engenheiros elétricos, engenheiros hidráulicos..., enfim, uma penca de gente bem “curriculada” e deveras “intitulada”. 

Estes, vendo o séquito de Seu Antônio carregando aquele monte de ferro à moda Watson & Crick, saíram a opinar e especular.

Um deles disse: –“Isso não se encaixa aí...”

              Outro opinou logo a seguir: –“Não vai caber no espaço...”

O terceiro já foi sugerindo a solução: – “Vai ter que cortar pra entrar...” “

Um baixinho encorpado e esculpido já criticava o séquito do homem: – “Esses caras são doidos...”

O último, meneando a cabeça em desalento, fuzilou: – “Não vai dar...”

Seu Antônio com a mão esquerda alisava o queixo e o bigode em sua humilde e resignada paciência, ouvindo o que diziam os doutos senhores da engenharia em seus péssimos e irretratáveis prognósticos.

Aos poucos foi silenciando o burburinho, ao que Seu Antônio falou, dirigindo-se a seus humílimos e compenetrados colaboradores: –“Vamos lá, meninos...”

E, em manobras circulares inclinadas e alternadas num vai-e-vem sincronizado, harmônico e como se bem ensaiado denotando toda uma experiência e skill, esses homens instalaram e puseram em seu lugar a pesada estrutura de ferro. Tudo isso sem nenhum dano, um arranhão sequer, a qualquer parede ou outro componente físico do teatro.   

            O silêncio dos títulos deu lugar à evidência e excelência da força do que faz. Todos saíram dali sem dar um pio. Comenta-se que até pararam de respirar ao sair do recinto.

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