Esse pessoal fofoca demais, além da conta, se é que há um limite aceitável para se fofocar. Fofocar? Mas, o que é exatamente fofocar? Fala-se tanto no substantivo e no verbo que talvez valha a pena relembrar os respectivos significados. Diz lá no pai-dos-burros sobre fofoca: bisbilhotice, mexerico. Conclui-se daí que fofocar é bisbilhotar e, por inferência, falar nos assuntos alheios sem a devida noção do que se passa de fato.
Eis aí a palavra: fato. O fato fofocado é, via de regra, diferente do fato real. Justiça se faça: aos dias de hoje é mais fácil averiguar da veracidade de “fatos fofocados”. E por quê? Porque aos dias de hoje todo mundo se deixa fotografar. Sendo ainda mais exato, todo mundo adora se fotografar. Tem até o anglicismo apropriado: fulano tirou uma selfie no restaurante. Quando não é a selfie o sujeito pede a alguém, um transeunte, que lhe faça o favor de o fotografar. Resulta daí uma fotografia que, para todos os efeitos, é algo que pode tornar uma fofoca em fato consumado. A única coisa que supera a veracidade de uma fotografia é a confissão lavrada do fato por parte do “fofocado”.
No caso da fofoca sobre o Serjão a coisa foi diferente: havia uma fotografia e a confissão do feito. O que aconteceu foi o seguinte. Há alguns dias – semana passada, creio – Serjão posta num grupo de amigos uma foto de si mesmo defronte a um estádio de futebol de fachada rôxo-amarela. O homem estava de casaco de frio, donde se podia presumir que o negócio era de estação outono-inverno, e, por conseguinte, de hemisfério sul. Nem precisou esperar tanto – dali a poucos dias o homem confessa: – “Fiquei 2 dias... cheguei há pouco morto de cansado...” E completou: – “Só deixaram a torcida sair bem depois do fim...” Matei a charada incontinenti – o homem se tacou de Fortaleza para Buenos Aires, onde ficou somente dois dias, para assistir a um jogo de futebol entre a carniça do Fortaleza e a carniça do Boca Juniors argentino. Enfim, nada de fofoca. Era fato.
Concluí indubitavelmente – o homem é um apaixonado, um deslavado
apaixonado por um time de futebol. Dirão alguns que a paixão do amigo
não é pelo time, mas pelo esporte e direi que há controvérsias gritantes. Por
exemplo: eu. Sim, eu mesmo. Gosto do esporte e gostaria muitíssimo de voltar
aos velhos e bons rachas com os amigos, mas detesto futebol. Mas... como assim?
– hão de indagar alguns. É o seguinte. O jogo de futebol em si é fantástico, é
lúdico, é aglutinador, é eficaz no alívio dos estresses da vida e tem muitas
outras boas qualidades. Entretanto, desde que entrou para promotor do comércio
que dele se vale, perdeu tudo isso e muito mais. Ao esmiuçar “Estrela
Solitária”, uma biografia de Manoel Francisco dos Santos, o Garrincha, de Ruy
Castro, pode-se ter uma noção de como era e como é hoje o futebol.
Agora, vejam bem – não fiquem os
torcedores do maior rival local deste time felizes porque estou a “encarniçar”
o Fortaleza Esporte Clube porque, garanto, também o Ceará Sporting Clube é da
mesma laia “carnicenta”. Ora, o que detesto é isto em que o futebol dito
profissional se tornou. É bem provável que o grande problema que acomete o
futebol seja precisamente esta profissionalização. Eis aí tudo.
Mas, em que pesem todos os argumentos sobre o fato em que se tornou o
chamado futebol “profissional”, não é proveitoso, nem adequado, nem sábio, nem nada
que se diga, ficar a falar mal dele. Aliás, tudo o que se diga de mal do futebol é inútil para convencer
quem quer que seja de que nem pra lazer se presta o futebol “profissional”. O cabra
se tacar de Fortaleza pra Buenos Aires, uma cidade linda e aprazível para um
lazer perfeito para ficar dois míseros dias por conta de uma partida de
futebol, diz tudo. Serjão ficou uns bons dias sem botar o pé na calçada, mais liso
que os tobogãs do Beach Park. Já os jogadores das carniças voltaram com mais uns milhões
nos bolsos.
Agora digo, como bom cearense que sou: – Arre égua!!
Fortaleza, abril/2024
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