sábado, 20 de dezembro de 2025

PENSE NUMA CARNIÇA ENCANTADORA!

        Esse pessoal fofoca demais, além da conta, se é que há um limite aceitável para se fofocar. Fofocar? Mas, o que é exatamente fofocar? Fala-se tanto no substantivo e no verbo que talvez valha a pena relembrar os respectivos significados. Diz lá no pai-dos-burros sobre fofoca: bisbilhotice, mexerico. Conclui-se daí que fofocar é bisbilhotar e, por inferência, falar nos assuntos alheios sem a devida noção do que se passa de fato.

        Eis aí a palavra: fato. O fato fofocado é, via de regra, diferente do fato real. Justiça se faça: aos dias de hoje é mais fácil averiguar da veracidade de “fatos fofocados”. E por quê? Porque aos dias de hoje todo mundo se deixa fotografar. Sendo ainda mais exato, todo mundo adora se fotografar. Tem até o anglicismo apropriado: fulano tirou uma selfie no restaurante. Quando não é a selfie o sujeito pede a alguém, um transeunte, que lhe faça o favor de o fotografar. Resulta daí uma fotografia que, para todos os efeitos, é algo que pode tornar uma fofoca em fato consumado. A única coisa que supera a veracidade de uma fotografia é a confissão lavrada do fato por parte do “fofocado”.

        No caso da fofoca sobre o Serjão a coisa foi diferente: havia uma fotografia e a confissão do feito. O que aconteceu foi o seguinte. Há alguns dias – semana passada, creio – Serjão posta num grupo de amigos uma foto de si mesmo defronte a um estádio de futebol de fachada rôxo-amarela. O homem estava de casaco de frio, donde se podia presumir que o negócio era de estação outono-inverno, e, por conseguinte, de hemisfério sul. Nem precisou esperar tanto – dali a poucos dias o homem confessa: – “Fiquei 2 dias... cheguei há pouco morto de cansado...” E completou: – “Só deixaram a torcida sair bem depois do fim...” Matei a charada incontinenti – o homem se tacou de Fortaleza para Buenos Aires, onde ficou somente dois dias, para assistir a um jogo de futebol entre a carniça do Fortaleza e a carniça do Boca Juniors argentino. Enfim, nada de fofoca. Era fato.

Concluí indubitavelmente – o homem é um apaixonado, um deslavado apaixonado por um time de futebol. Dirão alguns que a paixão do amigo não é pelo time, mas pelo esporte e direi que há controvérsias gritantes. Por exemplo: eu. Sim, eu mesmo. Gosto do esporte e gostaria muitíssimo de voltar aos velhos e bons rachas com os amigos, mas detesto futebol. Mas... como assim? – hão de indagar alguns. É o seguinte. O jogo de futebol em si é fantástico, é lúdico, é aglutinador, é eficaz no alívio dos estresses da vida e tem muitas outras boas qualidades. Entretanto, desde que entrou para promotor do comércio que dele se vale, perdeu tudo isso e muito mais. Ao esmiuçar “Estrela Solitária”, uma biografia de Manoel Francisco dos Santos, o Garrincha, de Ruy Castro, pode-se ter uma noção de como era e como é hoje o futebol.

Agora, vejam bem – não fiquem os torcedores do maior rival local deste time felizes porque estou a “encarniçar” o Fortaleza Esporte Clube porque, garanto, também o Ceará Sporting Clube é da mesma laia “carnicenta”. Ora, o que detesto é isto em que o futebol dito profissional se tornou. É bem provável que o grande problema que acomete o futebol seja precisamente esta profissionalização. Eis aí tudo.

Mas, em que pesem todos os argumentos sobre o fato em que se tornou o chamado futebol “profissional”, não é proveitoso, nem adequado, nem sábio, nem nada que se diga, ficar a falar mal dele. Aliás, tudo o que se diga de mal do futebol é inútil para convencer quem quer que seja de que nem pra lazer se presta o futebol “profissional”. O cabra se tacar de Fortaleza pra Buenos Aires, uma cidade linda e aprazível para um lazer perfeito para ficar dois míseros dias por conta de uma partida de futebol, diz tudo. Serjão ficou uns bons dias sem botar o pé na calçada, mais liso que os tobogãs do Beach Park. Já os jogadores das carniças voltaram com mais uns milhões nos bolsos.

        Agora digo, como bom cearense que sou: – Arre égua!! 


Fortaleza, abril/2024

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