quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Um texto longo demais para ser lido



         Um amigo, hoje, reverberando o que disse tempos atrás uma amiga, "acusou-me" de escrever textos longos. Falou que a linguagem da mídia exige textos menores, condensados, de três ou quatro parágrafos no máximo. E finalizou, cuidadoso: -"Essa é uma crítica construtiva"! Agradeci.
         O amigo acertou em cheio. Não escrevo textos curtos. Ele, talvez, estaria certo também se dissesse que meus textos são tediosos dada sua suposta prolixidade; mas erra ao pensar que quero espaço na mídia e que, para o conseguir, devesse usar a "linguagem" apropriada. Não quero espaço na mídia porque nela já tenho meu espaço. Mais espaço? A ambição deve ter limite.
          Agora, me digam: - como escrever um texto de quatro parágrafos após assistir a matéria da TV CULTURA? (Sigam o link acima e a assistirão na íntegra.) Os comentaristas não falam senão a verdade sobre o que está a ocorrer em nosso pobre Estado do Ceará e, por extensão, ao resto do nordestão brasileiro.
          No que se refere a nós, a reportagem parte do desabamento da marquise do recém inaugurado hospital em Sobral, pouco mais de um mês após sua espalhafatosa inauguração através de um show da Ivete Sangalo. O bicho custou 227 milhões de reais aos cofres públicos, aos quais se somaram mais 650 mil reais do cachê da cantora. A reportagem faz ainda referência aos 3 milhões de reais pagos ao Plácido Domingos no show de inauguração do Centro de Eventos do Ceará, ao final do ano passado. E mais: - refere-se, jocosamente e não sem razão, ao temperamento "excêntrico" de sua Excelência, o governador Cid Gomes – que eles alcunharam de "El Cid" –, quando ordenou que se parasse o jato onde viajava à cabeceira da pista para descer rapidamente a fim de não se atrasar a um compromisso agendado. 
          Afora a comparação ao guerreiro castelhano Rodrigo Díaz Vivar, que viveu no século XI e é, até hoje, alvo de lendários protagonismos, o resto do relato dos comentaristas é fato. Tudo isso sobre milionários cachês é a mais pura verdade. Por isso os comentaristas passaram a mirar sua artilharia na direção dos que concedem a "El Cid" toda a sua liberdade para fazer o que bem entende: - o "Legislativo" cearense, lotado à Assembléia de deputados estaduais, o tribunal de contas do Estado (TCE), e o povo, o velho povo. 
          Segundo esses sérios jornalistas, nossa Assembléia é uma igreja cujo deus é o governador: - todos dizem "amém!", com exceção de um único deputado. (Pensei logo no Heitor Férrer, mas pode bem ser outro.) É possível que a bancada da oposição seja composta por mais gente, mas o que se sabe é que os governantes brasileiros estão destituídos e pobres de oposição, e no Ceará isso tem ficado cada vez mais evidente através desses fatos. 
          Os conselheiros do tribunal de contas aprovarão os gastos de El Cid? É óbvio que sim!, concluíram os debatedores, com poucas chances de que estejam errados. Até agora lá funciona outra igreja, cujo deus é o mesmo, e onde a última palavra é "amém!" mais uma vez.
          Por último, e principal responsável por toda essa lambança e desgoverno, o povo, que reelegeu "El Cid" para seu segundo mandato logo no primeiro turno das últimas eleições. 
          De quebra, a reportagem fala da penosa situação de pobreza em que permanece esse velho Estado do Ceará e de sua principal e maior cidade, Fortaleza, com seus pouquíssimos bairros ostentosos e portentosos de riqueza ao lado de bairros pobres e miseráveis, a grande maioria. (O engraçado é que eu já falei tudo isso inúmeras vezes!) 
          Não me recorda agora se foi falado sobre a imprensa local e seu papel no vicejar de nossa eterna politicalha. Se não falaram, deixo o registro: - a imprensa local é folhetim de todas as nossas "igrejas". Pode até não falar "amém!", mas está sempre no "culto".
          Os nobres comentaristas encerram a matéria falando das Alagoas e da cidade onde nasceu o atual e recentemente eleito presidente do Senado, o senhor Renan Calheiros: Murici. A pobreza lá é endêmica, o analfabetismo também, e sua cunhada, mulher de seu irmão, é a impoluta figura que controla o programa Bolsa Família. 
          Continuo ou o palavreado já vai esticado demais?

Um comentário:

  1. Pode continuar! Aliás, esse é uma tema que deveria ter relevância constante, afinal, os desmandos do executivo atingem diretamente o nosso bolso, e indiretamente a nossa qualidade de vida, quando não comprometem injustamente o futuro dos nossos filhos. Afinal, a insegurança em que vivemos tem raízes históricas em egoístas escolhas dos mandatários, biônicos, ou "eleitos".
    Algumas discussões, que estão colocadas a elevada distância do povo, para deliberadamente deixá-lo alheio ao que se pretende, tratam justamente de propor melhorias aos sistema político que se apresenta deveras viciado atualmente. A reforma política precisa chegar até as pessoas. E a quimera do financiamento público de campanhas precisa ser desmistificada, dando-se ciência de como o o sistema é financiado atualmente. Assim, todos irão entender como foi possível o STF anular duas das mais importantes operações da polícia federal: A Satiagraha e a Castelo de Areia, ambos muito distantes do imaginário popular, pois não foram devidamente pautadas pelo péssimo jornalismo produzido pela mídia partidarizada, que se esmera em não enxergar os crimes de seus aliados. Com a CPI do Cachoeira não foi diferente. Terminou em pizza e a Delta continua com mão peluda cima do erário.
    É justamente por isso que a sociedade civil deve se organizar para exigir a democratização dos meios de comunicação.

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