sexta-feira, 5 de setembro de 2014

VÁRIAS PERGUNTAS CRETINAS

          Muito me impressionou o artigo do senhor Neal Gabler, do The New York Times de 21 de agosto passado, intitulado A enxurrada de enganosas grandes ideias (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-enxurrada-de-enganosas-grandes-ideias,761580,0.htm). Acabo de deixar o link onde se o pode ler na íntegra, mas duvido que alguém o faça. Por duas razões. A primeira delas diz respeito ao que o artigo traz em seu bojo: - queremos informação inútil, e rapidamente. A segunda é que não queremos degustar ideias, ainda mais quando alguém escreve que nossa aversão a elas é visível e inegável. Não queremos ler esse maldito texto. 
          Haveria talvez uma terceira razão: - poucos quererão ler um texto que tem caráter positivista. Quanto a este aspecto digo que também a mim ele não agradou, mas isso não lhe tira os méritos. É preciso conhecer as ideias que nos contrariam. Aventuro-me a imputar à ignorância do senhor Gabler esta característica marcante de seu texto. 
          Embora cite ideias revolucionárias em vários campos do conhecimento humano a fim de demonstrar talvez sua relativa antiguidade, o senhor Gabler parece ignorar, como a maioria dos viventes ignora, as inúmeras falhas da ciência em explicar os problemas essenciais da existência humana. Cita a teoria do Big Bang que imputa a esta singularidade a existência de tudo. Sabe ele que os cientistas positivistas – essa seria uma escrachada tautologia não fosse a minha intenção proposital – debocham do criacionismo científico ao perguntarem onde estava Deus antes de criar o universo e seu esplendoroso conteúdo. 
          Ora, onde estava a partícula de densidade infinita antes que explodisse num gigantesco caos inicial, e que se desdobraria em sistemas organizadíssimos, contrariando, já àquela época, a segunda lei da termodinâmica? É possível que minha pergunta seja de uma estupidez bigbânguica, mas ainda assim ela estaria desde já justificada, já que os cientistas são ases em matéria de enxertar novas e estúpidas ideias no intuito de obrigar seus modelos a serem totiexplicativos. Que fazer? O mesmo que eles – adjuntar todas as possíveis cretinas perguntas e lançá-las a um texto como este. Talvez o senhor Gabler devesse saber que esta pergunta sobre onde estaria a densíssima partícula existe, e que ela faz tanto ou mais sentido que a outra. Como a responderam, a outra? Simples. Aboliram todas as leis naturais na singularidade, até porque é por esta razão que a denominaram singularidade. Pronto e ponto final.
          Mas o senhor Gabler vai bem quando fala de nossa ânsia por informação sem a menor utilidade prática e sobre nossa aversão por boas ideias. Nessa linha não poupou as redes sociais, propagadoras preferidas da informação peito-de-homem. Sobre a escassez de ideias atribuiu-a à troca delas pela informação fajuta. E estamos conversados. Eis aí um resumo resumidíssimo do excelente artigo do senhor Gabler. 
          Diante de tal alerta, cabe outra pergunta cretina: - por que será que as novas ideias, notadamente as científicas, as que nos fazem repensar o mundo e o universo, não mais surgiram? Faltam eisnteins, freuds, stephens? Certamente não faltam. O que faltam mesmo são as malditas ideias. Escassearam mesmo as tiradas da imaginação que pretendiam resolver problemas pendentes em teorias científicas acrobáticas e incompreensíveis. Por quê? Há outro telescópio maior e mais potente que o Hubble, que em breve irá substituí-lo. Lançará os olhos do homem a ainda mais remotos confins do cosmos. 
          Enquanto isso os cientistas criacionistas estão repletos de ideias palpitantes sobre tudo isso e ninguém dá a mínima. Esta será, por agora, a minha última pergunta cretina: - por quê?

Fernando Cavalcanti, 01.09.2011 

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