segunda-feira, 1 de junho de 2020

A DOENÇA QUE MATOU AS DOENÇAS

          “Robert Liston era a faca mais rápida do West End, em Londres. Podia amputar uma perna em dois minutos e meio”.
Assim começa o Capítulo 1 – Nocaute Triplo – entusiasmo cirúrgico desastroso de OS GRANDES DESASTRES DA MEDICINA, de Richard Gordon, também autor de A ASSUSTADORA HISTÓRIA DA MEDICINA.
                Fui reler isto a propósito de alguns desastres da medicina atual, em particular um quase-desastre que quase leva à campa uma pessoa próxima. Devo dizer que este é um quase desastre, ou pode assim ser chamado, por não ter resultado o pior para o paciente. Nem por isso houve menos sofrimento. Quase-desastre, neste exemplo específico, seria, de fato, um enorme e cruel eufemismo, já que fere um dos mais elementares princípios hipocráticos que manda ao médico “curar às vezes, mas confortar sempre”.
Sim, não se enganem. O leigo, em seu laicismo de leigo, pensa leigamente que sabe tudo o médico. Esquece o leigo que de quase nada sabe o médico. Em seu O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS, de 1995, Carl Sagan propõe que a ciência seja vista como uma velinha que queima ao centro de uma infinita escuridão. Ou seja – de nada sabemos e, em particular, de nada sabe o médico. Por tudo isso e muitas outras coisas mais é que deveria o médico cada vez mais, em seu crescente e contínuo obscurecimento, sair ao encontro do princípio correto e confortar.  Sim, confortar não requer diploma, não requer esforço mental. É preciso apenas alteridade e empatia.    
Eu ia sugerir, já agora, que o médico, todos os médicos, se ajoelhem e, de cabeça baixa e coração contrito, confessem sua completa ignorância. Sim, é grande, é fenomenal, é imensurável todo o desconhecimento. Ia fazer tal sugestão ao final, no arremate, nas conclusões, mas há um nó na garganta, um “sapo” querendo descer-me ao íntimo do ventre, e não pude me conter a fazer o pretenso inusitado convite.
Vejam, por exemplo, este senhor, Sir Robert Liston – nem sei se Sua Majestade assim o intitulou, remetendo-o à nobreza –, seus atos e respectivos resultados. No tempo em que o tempo cirúrgico era de suma importância a fim de abreviar o sofrimento do paciente – “podia-se escolher entre embriagar-se com ópio ou rum, ou morder um pano enrolado em bastão” –, ele era um dos ases da cirurgia europeia. O que ocorreu em seu terceiro mais famoso caso, no relato do senhor Gordon, diz muito:
Discussão com seu residente. Aquele tumor vermelho e pulsante no pescoço do garoto era um abscesso na pele? Ou era um perigoso aneurisma da artéria carótida? “Ora!”, exclamou Liston impacientemente. “Quem já ouviu falar de um aneurisma em um garoto tão jovem?” Tirando rapidamente um bisturi do bolso de seu casaco, ele o puncionou. Nota do residente: “Jorrou sangue arterial, e o garoto foi-se.” O paciente morreu, mas a artéria está viva, no Museu de Patologia do University College Hospital, objeto número 1256.
Não fosse a inexorável falibilidade de cada um dos médicos, diríamos que tal conduta foi um assassinato legitimado sob o manto de um ato intencionalmente terapêutico de resultado desastroso. É bem possível que tenha sido com essa ideia que o senhor Richard Gordon intitulou seu livro – desastre...
A senhora idosa chegou ao hospital por ter tido em casa o que o meu querido professor Oto Leal Nogueira chamaria de “uma síndrome cólera-like”. Após uma espera aparentemente interminável, veio “sua sumidade”, o médico. (Estou sendo injusto. Era um jovem cuja inscrição no conselho da classe me fez ter o seguinte pensamento – formou-se ontem.) Foi amável, conversou, explanou, examinou minimamente, e aqui teve início o quase desastre. Tendo em vista a pandemia do vírus chinês, só pensou segundo a clínica do vírus chinês, e o exame físico se limitou à ausculta do tórax com a paciente sentada à cadeira de rodas e vestida em seus vestidos amarfanhados de quem saiu às pressas do conforto do lar.
Os exames complementares seguiram todos a hipótese “mandatória” do vírus chinês como agente etiológico. Exames caros, em aparelhos complexos que fornecem imagens deslumbrantes, foram desnecessariamente solicitados sem, contudo, evidenciar o que tanto aqueles jovens médicos queriam encontrar. A gastroenterite desidratante com seu distúrbio hidroeletrolítico associado não se fazia “ouvir”. Tinha que ser, precisava ser, necessitava ser, era imperioso que fosse o vírus chinês. E nem um tratamento de reposição à altura, mandatório naquela situação, foi iniciado. A bem da verdade, não se aventava interná-la. Por quê? Ora, cada vez mais ficava claro – não era o vírus. Ali, naquele hospital, só os doentes do vírus estavam realmente doentes.
Paro por aqui. Digo mais apenas o seguinte – a internação só foi levada a cabo como resultado de uma pressão da família. Arrisco dizer – não fosse isso ela teria sido mandada para casa. Sabe-se lá o que poderia ter acontecido. Nunca saberemos. Ex ante se toma uma decisão; ex post se julgam seus resultados. Nunca se pode avaliar os resultados de uma decisão que não se permitiu tomar. Mas, naquele hospital, tentaram corromper princípios seculares da boa prática médica – queriam porque queriam que a clínica se curvasse ao vírus que matou todas as outras doenças.

Um comentário:

  1. Um título realista que os govs (est e mun) tentam, a que custo for, encobrir!
    Quem são esses médicos mercenários? O que foi prometido a eles, em troca dessa conivência? O cabeça disso tudo, recai em Dória, o paranóico sonhador, alpinista do “Pico do Planalto”...!!!
    E quem seria o estimulador dessa sanha?
    Quem poderia obrar este milagre, tendo em vista a sua impopularidade?
    Só mesmo alguém (algo) com muito dinheiro!
    Mas é muita, muuuita, muitíssima grana pra calar a boca de muuuuuuuuita gente e mandar às favas, quaisquer supostos sentimentos de moral, ética e patriotismo!!
    Tento, nesses últimos dias, não considerar essas duas letrinhas ‘tc’ mas nem tudo é teoria da conspiração...
    Os tentáculos do partido chinês têm alcance medido a peso de ouro, considere isso!
    É tanto dinheiro que não duvido que, ao canalha e cínico gov de SP, um recado oficial do “Oriente” tenha dito:
    “Pode deixar o comércio quebrar que temos dinheiro suficiente pra reerguer esse país!
    O que importa agora é derrubar o gov federal!!!”
    O silêncio, a mando do dinheiro, não precisa de ‘pedido de sigilo’!!
    O maior bandido do Brasil, o Lula, fez isso com maestria...
    Beira meio trilhão de reais, o assalto ao nosso erário!!!
    E esse lesa-pátria ainda deixou estruturada, a sua Suprema banca advocatícia!!
    Em suma:
    Se não combatermos essa ala de bandidos no setor médico, jurídico, jornalístico, etc, o Brasil terá esse nome apenas como fachada, nome de fantasia, pois o oficial será chinês...

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