quarta-feira, 20 de abril de 2016

QUEDÊ MADAME SERJÃO?

               Madame Serjão se aquietou.
                (Há leitores que sequer imaginam quem seja Madame Serjão, razão pela qual me sinto impelido a lhes dar uma explicação bem sucinta e direta: Madame Serjão é o meu querido amigo Sérgio Moura.)
                Antes da votação do processo de impeachment da presidente Dilma pela Câmara Federal, o homem era considerado – ele se considerava – o analista político. E fazia previsões. Poucos dias antes da sessão no parlamento, vaticinou:
 –“Ela não cai”. (Referia-se à presidente da República.)   
Tudo isso acontecia na rede social. (Saibam que a realidade da rede social é mais real que a vida real. Esta se tornou quase como uma existência onírica, como um daqueles sonhos tão vívidos dos quais nem nos damos conta de ter acordado quando toca o despertador.)
Toda previsão lacônica soa solene e podíamos, ainda que ausentes das vistas uns dos outros, quase perceber em Madame Serjão a profundidade e seriedade de seu olhar. A profecia caiu como uma bomba. Nossas esperanças de um Brasil melhor se esvaíam como água entre os dedos, e os participantes da rede se condoíam em ais e gemidos. Eu mesmo, confesso, quase não preguei o olho a noite inteira.
(É, de fato, uma coisa que não se explica – Madame Serjão não acertava uma.)
Veio a votação e o país inteiro percebeu a verdade incontestável – Dilma Rousseff está com os dias contados em seu cargo. É verdade que ainda não caiu, mas a cada dia e mesmo em reuniões de condomínio sente-se nos ossos a inexorabilidade de sua queda. O povo foi às ruas, vibrou com a decisão dos deputados, comportou-se civilizadamente, e o país acordou no outro dia respirando o puro ar da esperança. Aguarda-se agora a decisão do Senado.
Neste mesmo dia, o dia seguinte ao da votação, o silêncio de Madame Serjão era maior que o que reina no espaço sideral. Acabaram-se as predições e os vaticínios. Sentindo um certo incômodo com a quietude do amigo e imaginando-lhe sentado à sua mesa redonda usando seu turbante cor-de-rosa diante de sua bola de cristal, enviei-lhe uma mensagem provocativa. Ele respondeu sucinto:
 –“Ainda faltam o Senado e o STF”.
"De fato", pensei. Mas não senti na resposta aquela contumaz convicção de Madame. Desapareceu e escafedeu-se, por assim dizer, a Madame Serjão convicta, peremptória, positiva, pedante até. Sumiu. Como disse ao início, aquietou-se. De lá para cá nenhuma previsão fez, nenhum palpite arriscou. Andou aí, soube depois, montando banca de apostas para adivinhar o placar. Contra suas próprias certezas, não quis apostar a favor de sua profecia. Preferiu admitir a derrota de Dilma na Câmara e ater-se apenas e tão-somente ao placar da surra.
A novidade que corre é a de que ganhou a aposta, um almoço regado a um Chianti em restaurante chique. Ou seria uma cervejada com batatas fritas ali na Zena? Não me recordo. E para punir ainda mais o perdedor convidou-me a acompanhá-lo a fazer parte da farra por conta do pobre e incauto apostador. Não sei é como vai fazer para cobrir as minhas despesas, já que não participei da banca. Vai ver já apostou na derrota da mulher no Senado. Definitivamente, parece que, além de Dilma Rousseff, Madame Serjão também está no fim de seu período de glória. Ou já morreu, inumaram e ainda nem percebi... 

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