quarta-feira, 9 de agosto de 2023

O INCOMPETENTE

                       Chamou-se o sujeito de incompetente.

                É verdade que ele não tinha nem tem as qualificações necessárias às funções que exerce. Não tem educação em gestão de pessoas, nem em administração de empresas, nem em recursos humanos, nem em nada semelhante. Seria como o sujeito dizer-se engenheiro civil e tentar construir um edifício de dois andares.

                Eu mesmo sou um incompetente para construir tal edifício ou mesmo uma casa. Não saberia erguer uma parede, a bem da verdade. Um muro de meio metro de altura feito por mim, baseado em meus cálculos, não se sustentaria por dois minutos. Então, sou de fato um incompetente neste mister. Sou um incompetente para pilotar aviões. Se me dessem a pilotar um ultra-leve, seria um desastre. Literalmente. Sou um incompetente para pilotar ultra-leves. E para tocar oboé? A mesma coisa. Sou um incompetente.

                A bem da honestidade, todos nós indistintamente somos incompetentes para muitas e muitas coisas. É normal. Não estamos habilitados a realizar todas as tarefas e funções especializadas dentre as ocupações humanas. Onde está a razão para se sentir magoado ou melindrado com a pecha de incompetente? Não há razão, eis a verdade. Eu poderia enumerar mais de uma centena de atividades para as quais sou um completo incompetente.

                O problema começa quando o sujeito começa a achar possível exercer determinada função ou executar determinada tarefa para a qual não foi treinado. E geralmente ele o faz porque a princípio a função lhe parece fácil ou possível, ou parece-lhe que os danos advindos do mau exercício desta não seriam tão evidentes ou tão impactantes. Então, cresce no indivíduo em questão uma falsa auto-estima às avessas: sente-se perfeitamente capacitado e ninguém pode questionar ou duvidar disso. Esse indivíduo só chega a esta função em duas situações: em empresas familiares ou no serviço público brasileiro. Na empresa familiar ele exerce cargos por ser parente do dono da bola; no serviço público porque a empresa pública no Brasil é objeto de loteamento político por apadrinhamento de correligionários e aliados. O indivíduo não tem competência para exercer a função mas lá é colocado de forma a que o partido político do poder possa manipular a empresa ao seu bel-prazer. Trocando-se o partido do poder na próxima eleição, troca-se a “panela”.

                Este é o caso com o sujeito de quem falo. Está lá por apadrinhamento político. É bem verdade que os partidos poderiam selecionar eminências técnicas para exercer cargos com funções especializadas, mas não o fazem, na maioria das vezes. Colocam lá o incompetente. Seu currículo profissional não é considerado na escolha. Considera-se apenas o partido ao qual está afiliado.

                Contudo, haverá sempre quem defenda que as coisas podem dar certo mesmo feitas à margem da ciência e das boas normas. Para estes temos que lembrar-lhes que nada pode falar contra a evidência implacável dos resultados. Os resultados são fatos, e contra fatos não há argumentos. Portanto, há sempre como demonstrar que um incompetente curricular é um incompetente de fato: através de seu resultado.

                Se eu fosse construir um muro, ou uma parede, ou um edifício eu chamaria o meu querido amigo Alex Matos. Ele é engenheiro e atua no ramo. Eu posso construir um muro, se quiser. Contrataria o expertise de meu amigo. O muro seria meu mas a obra seria de meu assessor. É uma maneira de exercer uma função para a qual sou incompetente. Mas nem isso fazem os incompetentes do serviço público. O incompetente traz outro incompetente para lhe assessorar. Imaginem qual será o resultado. Então, não pode se melindrar o incompetente gestor do serviço público por ser chamado de incompetente. Não há aqui sentido pejorativo no uso do termo. São os resultados a aparecer. Seria o óbvio ululante de Nelson Rodrigues.

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