sábado, 15 de março de 2025

POBRES DE NÓS...

 Já nada sei sobre amizade. Já nada sei sobre o amor. Já não entendo o relacionar-se. Mas aprendi o quanto somos responsáveis pelo que recebemos. E por ter bem entendido o assunto é que me retraio. Encolho-me em casulo. Já não quero sair. Já me sinto obrigado a tornar cartesianas minhas companhias, meus “amigos”, meus “amores”. E já me eriço os pêlos qual um gato quando à vista de um cachorro. E me escondo na música e neste texto. Quero mais e mais estar pleno deste e neste texto. Quero mais e mais submergir na música, nos acordes, nas levadas, nas escalas, nos improvisos. E almejo o dia em que estarei tecnicamente independente, para me perder nos improvisos de um solo sem fim. Almejo o dia em que não me importarei com a platéia porque cônscio de minhas idas e vindas nas notas. E não se me endurecerão os dedos. Flutuarei em ares só meus, e que farei ouvir aos que me assistem.  Minh’alma se enlevará na expressão de minha mais profunda dor, ou gozo, ou pranto, que minha música falar. Como me libertar das convivências diminuidoras que me rondam? Como me libertar dos conceitos superficiais de meus convivas, se os “amigos” partiram para sempre? Como expor novamente a minha alma a espíritos insensíveis e blasfemos? Ou a outras almas que penam na escuridão de seus pequenos mundos? Como, nesta curta vida que já se esvai de mim, livrar-me-ei do opróbrio dessas consciências toscas e abjetas? E não serei eu mesmo o mal maior? Por acreditar? Por amar? Ou por não amar? O que farei?

Não sei o que farei. Mentir é sempre uma alternativa. A pior de todas. Dizer-se insensível ante a falta dos “amigos” seria a maior de todas elas. Dizer-se carente do amor de uma mulher seria outra, porquanto esses amores são vazios de amizade. Ou, se fossem possíveis tais amores, quantas mulheres me bastariam? E para quantas mulheres mentiria antes de lograr o meu objetivo de macho? Julgaria que elas não pensam, não sentem, não sofrem. Onde se passa a verdade? Em que plano? E a vida passando sobre as águas dos nossos rios de angústia... contendas e mais contendas! Por querer ajudar e acertar somos manipulados. E uma manipulação vil te leva a “mares nunca d’antes navegados”! O jogo de forças te bate à porta sem que saibas o que significa, ou o que está por trás, por vir. Descobrirás, finalmente, que eras necessitado no jogo da vida de alguém, amiúde alguém que julgas que te “ama”. Pobre de ti! Farás tudo para não perder o teu “amor”, o teu “amigo”, o teu “pai”, a tua “mãe”! e já tudo estará perdido... pobre de ti!

Já nada sei sobre essas coisas dos seres humanos. Estudei para saber das doenças. E jamais saberei sobre as doenças, porque quanto mais sei menos sei. Não mais se deve morrer. Não mais se pode morrer. Já se não aceita a morte natural. Não se morre, dizem os causídicos. Em toda morte há que se responsabilizar alguém. Não se morre. Vive-se eternamente. Nem mesmo há que se envelhecer. Não é permitido. Quem envelhece tem culpa. Deve ser punido. Deve ser execrado. Os que cuidam das doenças e do envelhecimento que paguem judicialmente por permitirem o envelhecer, e o decair da beleza, e o “anormal” que envelhece.

Os insensatos, os idealistas, que se julgam defensores dos fracos e dos pobres, são canalhas abjetos que os que têm noção aprovam por não sei quê razão. Julgam, os que têm noção, que os fracos são mesmo fracos e que não podem se defender. Tolos! Os fracos, que pensam nada saber, sabem tudo. Mas são chamados de “fracos” por supostamente não saberem buscar seu alimento. Ora, até os bebês sabem onde buscar seu alimento: na teta materna. Como não saberiam os “fracos” onde buscar seu alimento? Eles sabem, sim. Continuam a buscá-lo na teta... do governo, que os quer ali a buscá-lo para trocar com eles o seu continuísmo de “fracos”! e seu continuísmo nos palácios... pobres “fracos”! Nem os animais são tão fracos. Os que “têm noção” são os idealistas abjetos dos “fracos”! Doutores, entendidos, “sábios”! Promovem os fracos! Desafiam a natureza que se aperfeiçoa com a “survival of the fitest”! Querem que a natureza prolifere os “fracos”! Não pensam em educar os fracos a que se tornem fortes e estejam aptos a competir pela “survival of the fitest”! Os sábios se esquecem dos “Barbosas” que aproveitaram as oportunidades. Os “Barbosas” são fortes que floresceram do meio dos “fracos”! Tolos esses que se dizem “sábios” e defensores dos “direitos” dos “fracos”! Tolos e néscios! Olhem os “Barbosas”, imbecis! Leram tudo o que lhes foi dado a ler! Aprendam com os “Barbosas”, idiotas! Mirem-se nos “Barbosas”, ingênuos! Esses “Barbosas” mostram insistentemente que o mérito individual é o que conta! Que “quem espera nunca alcança”! Mostrem-lhes os “Barbosas”, tolos inconseqüentes!

A mesmice e a teimosia por protesto é insana. Por isso devaneio. Por isso mergulho neste texto. Pobre de mim! E de vocês que me lêem...

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                Por Fernando Cavalcanti, 19/07/2008

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