Dirão alguns que sou um homem de obsessões momentâneas, e responderei que, sim, é verdade. Pois como não o ser, ainda que momentaneamente, se estão sempre a inflar minhas teimosias? Um homem resiste a muitos e muitos desejos, mas não a todos. Aí reside a sua fraqueza, a sua eterna vulnerabilidade, a sua sina de sofrer em conspurcações contínuas. Os arautos da libertinagem soçobram nesse oceano apenas para se afogar em suas águas negras e eternas. Então, não sejamos libertinos. Deixem-me apenas com minhas compulsões sobre o ideário da vida. Vai-me bem assim.
Eu tanto falei das tais redes sociais que alguém comentou, outro dia, que um evento qualquer de uma rede social reunia – sempre, pelo que entendi – mais comentários que este blog. Emiti um silêncio profundo diante de meu interlocutor. Estamos sempre tentando catapultar nosso self marketing, e nada mais a calhar para tal propósito do que uma rede social. Não é o meu caso. Não sei se lembram do João Batista de Oliveira Figueiredo, último presidente da ditadura militar. Perguntado sobre o que diria aos brasileiros, ao final de seu governo, fuzilou: -“Que me esqueçam!” O homem queria se entocar lá não sei onde com seus cavalos – gostava de cavalos – e ser sumariamente esquecido. De um pecado não podem acusá-lo, a vaidade. Não buscava exaltação pessoal.
Agora, vejam como o dia seguinte é o lapso de tempo muitas vezes necessário a que se provem as teses de ontem. Fomos todos a um sarau em casa particular. De fato não seria um sarau, já que não se abriram livros. Foi, na verdade, uma festa entre poucos amigos. E, entre eles, lá estavam alguns que vivem imersos nas redes sociais, e outros que se relacionam à moda clássica. E por que faço tal distinção? Por uma única razão digna de nota: - os amigos das redes chegaram tarde e saíram cedo.
Uma festa entre poucos amigos possibilita fazer o que de melhor há entre amigos: - jogar conversa fora. E mais: pessoalmente, ao vivo e a cores. Podem se abraçar, trocar ósculos, aparar arestas, matar saudades, debater sobre a novela e, entre as mulheres, fofocar e falar da vida alheia. Podem gastar a noite inteira na festa fazendo tudo isso. Não foi, todavia, o que fizeram os amigos das redes. Por pouco mais de uma hora lá permaneceram.
Anunciei, conclamei, implorei em alto e bom som: -“Mais saraus e menos redes sociais!” A história é ainda pior porque é sabido da dificuldade, hoje em dia, de se promoverem festas como esta última. Nos anos ’70 existiam as tertúlias e os amigos se batiam nas casas alheias quase que diariamente. Surgiu, naquela época, o “penetra”, aquele que entrava na tertúlia de desconhecidos. Legiões de penetras perambulavam pelas ruas à procura da tertúlia da sexta ou do sábado, onde quer que fosse. E os anfitriões não davam a mínima. Acabavam fazendo novos amigos, de modo que ao final da década não mais existiam os penetras, não havia mais desconhecidos para invadir a tertúlia.
Na festa do último sábado sobraram cinco amigos que permaneceram até o raiar do dia e mais um pouco. Vocês das redes sociais não sabem o que perderam.
A gente só encontra tempo para ficar doente, nada mais. Aos amigos e próximos, sobram os recados trocados via msn ou redes sociais. Até as interlocuções via celular ou telefone residencial estão escassas.
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