terça-feira, 11 de junho de 2013

Fortaleza Apavorada apavorada!


          Achei muito engraçado. Vejam o que é o Brasil. Ou melhor, vejam o que era o Brasil ao tempo em que Felipe II reinava, lá pelos idos de 1600. 
          Vigiam as chamadas Ordenações Filipinas, um documento jurídico da União Ibérica e de suas colônias, incluído aí o Brasil. Por esse documento, a pena capital para certos crimes considerados graves era a morte, sendo que havia quatro tipos de morte: a morte cruel, a morte atroz, a morte natural ou simples, e a morte civil. Nesta última o sujeito permanecia biologicamente vivo abstraindo-se-lhe, contudo, todos os direitos. Presume-se que o indivíduo perdia seu registro de nascimento e todos os outros documentos pessoais que à época atestavam sua existência "legal". O réu, condenado, tornava-se um zumbi, um morto-vivo, uma sombra, uma espécie de assombração.
          A segunda maior penalidade era o degredo para o Brasil. Os que eram flagrados em falso testemunho – considerado um crime muito grave também punível, às vezes, com a pena de morte – eram, nos outros casos, apenados com essa viagem sem volta. Assim, é fácil concluir que o Brasil era o cu do mundo ou, melhor, era o cu da União Ibérica. Outra conclusão possível e tentadora é a de que quase todos os nossos políticos atuais tiveram ancestrais degredados para cá. Seus herdeiros não têm feito outra coisa aqui que não seja mentir. 
          Hoje a imprensa local, que come como uma galinha faminta na mão do poder público e econômico, divulgou matéria em que dá conta de nota publicada pelo Governo do Estado do Ceará, onde o mesmo denuncia a presença de "grupos partidários e marginais de uma milícia" que supostamente pretende se infiltrar no Movimento Fortaleza Apavorada para "provocar violência e 'gerar repressão' que escandalize a opinião pública".
          Eu, de cara, já me escandalizei. Toda a nota é um bordejado danado, endereçada a uma população alienada e ignorante dos descasos deste poder acostumado ao populismo, clientelismo, patrimonialismo, paternalismo, e todos os "ismos" viciosos da nossa velha e boa politicalha estatal (http://www.opovo.com.br/app/fortaleza/2013/06/10/noticiafortaleza,3072151/governo-ira-monitorar-manifestacao-contra-a-violencia-na-capital.shtml). Como não poderia deixar de ser, a nota aponta os "feitos" do governo na área da segurança pública. Jacta-se, por exemplo, de ter bem atuado para mitigar o número de seqüestros antes em alta, "esquecendo-se", como lhe é bem conveniente, que só se seqüestram os abastados e que a violência atual é hodierna e intolerável porquanto tem atingido a todos independentemente da classe social. 
           Entretanto, o que me escandalizou na nota foi precisamente o trecho que transcrevi acima. O grupo que está no poder, e que perdeu todo o senso de sua função pública, será capaz de ir além dos limites a ponto de implantar, ele próprio, o terror? Seus ardis estarão implícitos nesse trecho, como um incontido Freudian slip que escapou ao controle do superego do redator/autor da nota? 
          Mais precisamente, a nota diz que "chegou ao conhecimento desse Gabinete" (do Governador do Estado) etc. etc. etc., e segue-se o já referido trecho. Ora, como será que essa informação tão privilegiada e assustadora chegou ao Gabinete do senhor Governador do Estado do Ceará? De uma fofoca é que não foi, excetuando-se talvez aquela forjada pelo irmão-desempregado-fantasma do Governador, Ciro Ferreira Gomes.
          Ciro recentemente acusou o vereador e egresso das fileiras da Polícia Militar, o Capitão Wagner Sousa, de ser o líder de uma milícia ligada a traficantes de drogas. Disso nenhuma prova apresentou, como também nenhuma em sua defesa quando acusado publicamente pelo senhor Roberto Pessoa, ex-perfeito de nossa vizinha Maracanaú, de ser um cocainômano de carteirinha. 
          Em resposta às acusações feitas pelo Fantasma do Palácio da Abolição, Capitão Wagner saiu em busca, na Câmara Municipal de Fortaleza, das quinze assinaturas de parlamentares necessárias para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a si mesmo. Conseguiu dezesseis, as quais posteriormente caíram para doze. Fantasmas assombram e é bem provável que o Fantasma da Abolição tenha saído de seu ataúde uma noite dessas no intuito específico de atordoar os quatro vereadores que inexplicavelmente retiraram suas assinaturas da proposta de criação da CPI. Ponto para Capitão Wagner. Uma CPI que acabaria por provar o contrário seria uma vergonha para o governo totalitário que ora exerce o poder no Estado, embora o Fantasma não passe de um Fantasma, e ainda que um Fantasma de sangue azul. Ou, por outra, vai que a CPI encontrasse rastros do próprio Fantasma em conluio com os traficantes? Que seria do círculo do Palácio? Seria um Palácio que daria abrigo não a um, mas a dois Fantasmas. 
          Mas voltemos à fonte que forneceu informação bombástica ao Gabinete do Governador. Outra possibilidade é que ela seja produto de uma investigação cientificamente levada a cabo pela Inteligência dos quadros policiais do Estado. Ora, meus caros! Sabemos que esses quadros estão esvaziados de seus serviços de Inteligência. Não fosse assim o Movimento Fortaleza Apavorada jamais teria nascido por pura falta de objeto. A criminalidade já teria sido foco dessa Polícia Científica e a coação do Estado se teria feito sentir. Mas qual! Eis aí o Fortaleza Apavorada a exigir a cabeça da incompetência e da leniência estatal. De outra forma poder-se-ia concluir que o aparato policial detém o equipamento técnico e os recursos humanos para uma investigação científica e, se não os está utilizando, seria o caso de se pensar pura e simplesmente, e mais uma vez, em terrorismo estatal. 
          O trecho da nota explica ainda que o Gabinete do Governador admite a possibilidade de repressão, por parte do Estado, ao momento da manifestação pública prevista para a  próxima quinta-feira, 13 de junho, caso esse "grupo marginal" se faça presente incitando a violência. Ora, quem garante que não seria o próprio Estado a "plantar" os supostos "partidários de grupos marginais" para justificar uma já  planejada ação violenta contra as pessoas de bem que participarão deste ato cívico? 
          O documento do Governo anuncia que já compartilhou as informações que detém com autoridades do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Assembléia Legislativa a fim de que estas enviem observadores à manifestação popular com o objetivo de garantir a segurança e a tranqüilidade de todos. Olhando com zelo, parece-nos à primeira vista que o Governo está de fato preocupado conosco ao envolver, aparentemente, os outros Poderes estatais no problema que diz ter em mãos. Resta-nos saber quem, nominalmente, serão os representantes dessas autoridades e se lá comparecerão de fato. Ou o Governo está fazendo cortesia com o chapéu alheio.
          Por fim, pede o Governo que não se levem crianças à manifestação, dando o claro recado que não pode garantir a segurança dos cidadãos a este ato público pacífico. Isso todos já sabíamos. Não é nenhuma novidade. É para isso que lá estaremos, para pedir ao governo que nos dê segurança. 
          Queremos, agora, saber se os agentes a serviço desse governo – um governo que não há porque lhe confiar nada e em nada – serão capazes de agredir a população e seus filhos. É bom que ele tome cuidado para que a bomba não lhe explora ao colo, como a que explodiu ao do Sargento Guilherme Pereira do Rosário e do então Capitão Wilson Dias Machado no estacionamento do RioCentro na noite de 30 de abril de 1981. A sensação que temos é a de que a ditadura branca oprime e fere mais que a militar armada.

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