segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

BANANAS

     O que está havendo com as bananas, alguém pode me dizer? 
Estou seriamente comprometido em descobrir o mistério. Estou pensando em consultar o Bacana, profundo conhecedor da fruta e propagador de seus benefícios, ainda que não seja biólogo ou engenheiro agrônomo. Não importa. Quem conhece a fruta é quem a aprecia, como o Bacana. 
Devo lançar mão da opinião de outros. Por exemplo, tenho uma amiga que pediu uma graça e fez promessa ao santo – se a recebesse, passaria um ano sem comer... bananas! Isso bem demonstra como bananas são frutas desejadíssimas. Ela nada tem reclamado. Vai completar um ano sem comer uma mísera e única banana – o santo providenciou-lhe a graça.
Devo, antes de continuar, e para que não pensem que estou de chacotas e folguedos, explicar a razão de minha angústia sobre as bananas. O caso é que já vão aí umas três ou quatro semanas que só compro bananas de má qualidade. Mudei de supermercado e – crau! – bananas de má qualidade novamente. Conclusão: os supermercados não têm culpa no cartório dessa vez. Só por ser um chato resolvi visitar três ou quatro supermercados diferentes. Querem adivinhar o resultado? Nem precisa.
Então, a única coisa que se pode deduzir de toda essa história das bananas é que alguma praga atacou todas as plantações da fruta no país. Somos um país sem bananas. Já estou me programando para maio, quando irei à Europa – lá matarei meu desejo de comer bananas. Sei de um lugar nos Países Baixos, um supermercado, onde comprei, na última vez em que lá estive, suculentas e roliças bananas-prata. Sobre elas, amarelíssimas na casca e com aquele talo esverdeado, a etiqueta “Brazilian Bananas”. O sabor não era esses balaios todos, mas há de ser melhor do que comer banana estragada.
Vamos começar pelo começo. Comprei bananas estragadas e pensei: o Alzheimer me pegou. Tão novo e abatido na flor dos quase cinqüenta por distúrbio tão degradante. Sim, porque quem escolhe não há de escolher o estragado. Escolhe o estragado quem perde a capacidade de escolher. Até então só escolhia bananas perfeitas, de vez, para não estragar logo. Elas amadureciam ali, na fruteira, bem amarelas, até ficarem prontas ao abate. De repente, as cascas amarelas, se observadas melhor, apresentavam pontos escurecidos, e a consistência já não era tão firme. Ao descascar, a surpresa: banana estragada. Não toda ela, mas parte. Tinha de dissecar a fruta, extirpar áreas feias e amolecidas, como se fora um tumor maligno.
A repetição do fato em vários supermercados me livrou do diagnóstico funesto. Doente mesmo só as bananas. Do país inteiro, do Oiapoque ao Chuí, do Xapuri a Cabedelo, um país inteiro de bananas doentes e podres. Outro dia – terei sonhado? – li que a safra havia sido perdida. Se foi perdida a safra, de onde vieram as bananas podres? A safra está sendo vendida assim mesmo?
Alguém pode me dizer o que acontece com as bananas?

Fernando Cavalcanti, 11.03.2011

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