segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O IMUTÁVEL ÔNUS DO CRIME

          Foi com indignação e horror que li a matéria no blog do senhor Fernando Ribeiro (http://www.blogdofernandoribeiro.com.br/index.php/9-categorias/1599-pcc-e-comando-vermelho-estao-prontos-para-deflagrar-guerra-pelo-trafico-em-fortaleza#sthash.D1YrlDwy.dpuf) dando conta da proibição, por parte do governador do Estado, a que policiais civis e militares não dessem entrevistas admitindo a existência de uma "paz" selada entre as várias facções criminosas do tráfico de drogas da cidade de Fortaleza. O "pacto" entre eles vem a bem de seu "negócio".
    Hoje, confirmando o que disse o blogueiro, o marrom periódico "O Povo" (http://mobile.opovo.com.br/app/opovo/dom/2016/01/30/noticiasjornaldom,3569037/faccoes-em-tregua-uma-paz-as-avessas.shtml) anuncia que o burburinho do acordo entre os criminosos tomou conta da cidade e traz o relato de alguns policiais militares confirmando o fato. O detalhe que salta aos olhos na reportagem é a solicitação dos policiais que se manifestaram para não serem identificados.
          Ora, o reconhecimento da existência de grandes organizações criminosas em nossa cidade já nos deixa perplexos e indignados e sua associação em uma organização ainda maior, mais complexa e poderosa, temerosos; agora, a ordem da maior autoridade do Estado para que a população não tome conhecimento do risco a que está exposta é simplesmente tenebrosa e nojenta. Prevendo a negação das autoridades quanto a essa proibição, vem bem a calhar o pedido dos policiais, na matéria do "O Povo", a que não tenham suas identidades reveladas levantando elevadas suspeitas de que a ordem do senhor governador seja a mais pura, singela e tenebrosa realidade.
          Vejam os escassos e raros leitores que estamos numa enrascada. Os policiais estão com medo! Estão com medo de serem retaliados por seus superiores e, quem sabe, pelos próprios bandidos. Vivemos sob a égide de um código penal incompetente, inócuo, leniente e, em última análise, serviçal do crime. Com penas leves, patéticas, risíveis à luz da função de fazer justiça à vítima, nosso código penal é uma piada. Se um policial não se sente seguro porque seus chefes estão a proteger os criminosos, o que dizer de nós que nem uma arma é permitido empunharmos?
          Eu estava para apôr aspas em todo o trecho acima, de seu início ao fim do parágrafo anterior, e explico: – vão-se lá meses que o escrevi, precisamente à época dos fatos narrados. Passou o tempo e até hoje não se sabe da verdade sobre tudo isso. De fato, fará, amanhã, 1 ano da fatídica e vergonhosa matéria. O que houve de lá para cá que possa nos aplacar a angústia? O que se fez daquele momento para hoje em termos de combate ao crime neste país e nesta terrível cidade? Seja quanto ao crime organizado ou ao desorganizado mesmo, o que nos importa?
          Dizem os tratados que o ser humano normal nasce e cresce com um inato sentimento de princípios morais, uma espécie de vontade do bem. Mesmo que venha ao mundo em condições precárias, há no ser humano normal a semente do bem e a vontade de fazer o bem. Dizem também os mesmos tratados que aqueles que foram submetidos a maus tratos e que acabam por sofrer danos ao cérebro podem desenvolver defeitos do caráter de gravidade variável que podem resultar em comportamentos antissociais mais ou menos intensos. Outros já nascem desprovidos de tais dotes devido a defeitos genéticos e passam a apresentar desde a mais tenra infância sinais de comportamento antissocial, com ausência de alteridade, de afetividade e de compaixão em graus variáveis.
          O que quer que se possa aventar como causa, e sem já lançar sobre tais indivíduos a pecha da culpa, o efeito do comportamento dessas pessoas é sabidamente devastador. O crime é sua sina, a cadeia o seu destino. Isso nas nações onde o problema foi encarado de frente. Culpa é um termo jurídico que vem depois de um inquérito e um julgamento.
          Ora, cresce o conhecimento sobre esses indivíduos. Ao início os chamaram de psicopatas ou sociopatas. Hoje há outros nomes para designá-los, mas suas características não mudaram. O psicólogo polonês Andrew Lobaczewski deles tratou quando descreve como se organizam para tomar o poder de uma nação. Suponho que, da mesma forma, também se utilizam das mesmas "técnicas" para fundar e gerir organizações criminosas, ou mesmo para se manterem livres individualmente o tempo que puderem na  sociedade dos homens normais, praticando seus golpes ou cometendo crimes mais brutais.
          Infelizmente, para essas pessoas não há um tratamento que reverta seus graves distúrbios mentais, restando como única alternativa seu isolamento da sociedade. Enquanto cresce o conhecimento sobre tudo isso, patinamos em discussões inúteis e improdutivas sobre como lidar com o crime. Queremos inventar a roda. Queremos debater enquanto milhares sucumbem. Queremos...queremos não sabemos o quê.
          Será que ali, nas cúpulas do poder, não haverá uma súcia de tipos como estes? encastelada a gerir e a fazer leis? a suscitar seus paramoralismos que servem a confundir os desavisados? Eis que em 1 ano se fez um silêncio quase completo sobre a matéria acima. Acomodaram-se os agentes dessa trama? Acordaram-se entre si de fato? O que não me sai da cabeça são as palavras do Capitão Nascimento: –"O 'sistema' é foda... Ainda vai morrer muita gente inocente". O país inteiro viu a ficção que imitou a vida real e ninguém fez nada. 

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