sábado, 20 de dezembro de 2025

PENSE NUMA CARNIÇA ENCANTADORA!

        Esse pessoal fofoca demais, além da conta, se é que há um limite aceitável para se fofocar. Fofocar? Mas, o que é exatamente fofocar? Fala-se tanto no substantivo e no verbo que talvez valha a pena relembrar os respectivos significados. Diz lá no pai-dos-burros sobre fofoca: bisbilhotice, mexerico. Conclui-se daí que fofocar é bisbilhotar e, por inferência, falar nos assuntos alheios sem a devida noção do que se passa de fato.

        Eis aí a palavra: fato. O fato fofocado é, via de regra, diferente do fato real. Justiça se faça: aos dias de hoje é mais fácil averiguar da veracidade de “fatos fofocados”. E por quê? Porque aos dias de hoje todo mundo se deixa fotografar. Sendo ainda mais exato, todo mundo adora se fotografar. Tem até o anglicismo apropriado: fulano tirou uma selfie no restaurante. Quando não é a selfie o sujeito pede a alguém, um transeunte, que lhe faça o favor de o fotografar. Resulta daí uma fotografia que, para todos os efeitos, é algo que pode tornar uma fofoca em fato consumado. A única coisa que supera a veracidade de uma fotografia é a confissão lavrada do fato por parte do “fofocado”.

        No caso da fofoca sobre o Serjão a coisa foi diferente: havia uma fotografia e a confissão do feito. O que aconteceu foi o seguinte. Há alguns dias – semana passada, creio – Serjão posta num grupo de amigos uma foto de si mesmo defronte a um estádio de futebol de fachada rôxo-amarela. O homem estava de casaco de frio, donde se podia presumir que o negócio era de estação outono-inverno, e, por conseguinte, de hemisfério sul. Nem precisou esperar tanto – dali a poucos dias o homem confessa: – “Fiquei 2 dias... cheguei há pouco morto de cansado...” E completou: – “Só deixaram a torcida sair bem depois do fim...” Matei a charada incontinenti – o homem se tacou de Fortaleza para Buenos Aires, onde ficou somente dois dias, para assistir a um jogo de futebol entre a carniça do Fortaleza e a carniça do Boca Juniors argentino. Enfim, nada de fofoca. Era fato.

Concluí indubitavelmente – o homem é um apaixonado, um deslavado apaixonado por um time de futebol. Dirão alguns que a paixão do amigo não é pelo time, mas pelo esporte e direi que há controvérsias gritantes. Por exemplo: eu. Sim, eu mesmo. Gosto do esporte e gostaria muitíssimo de voltar aos velhos e bons rachas com os amigos, mas detesto futebol. Mas... como assim? – hão de indagar alguns. É o seguinte. O jogo de futebol em si é fantástico, é lúdico, é aglutinador, é eficaz no alívio dos estresses da vida e tem muitas outras boas qualidades. Entretanto, desde que entrou para promotor do comércio que dele se vale, perdeu tudo isso e muito mais. Ao esmiuçar “Estrela Solitária”, uma biografia de Manoel Francisco dos Santos, o Garrincha, de Ruy Castro, pode-se ter uma noção de como era e como é hoje o futebol.

Agora, vejam bem – não fiquem os torcedores do maior rival local deste time felizes porque estou a “encarniçar” o Fortaleza Esporte Clube porque, garanto, também o Ceará Sporting Clube é da mesma laia “carnicenta”. Ora, o que detesto é isto em que o futebol dito profissional se tornou. É bem provável que o grande problema que acomete o futebol seja precisamente esta profissionalização. Eis aí tudo.

Mas, em que pesem todos os argumentos sobre o fato em que se tornou o chamado futebol “profissional”, não é proveitoso, nem adequado, nem sábio, nem nada que se diga, ficar a falar mal dele. Aliás, tudo o que se diga de mal do futebol é inútil para convencer quem quer que seja de que nem pra lazer se presta o futebol “profissional”. O cabra se tacar de Fortaleza pra Buenos Aires, uma cidade linda e aprazível para um lazer perfeito para ficar dois míseros dias por conta de uma partida de futebol, diz tudo. Serjão ficou uns bons dias sem botar o pé na calçada, mais liso que os tobogãs do Beach Park. Já os jogadores das carniças voltaram com mais uns milhões nos bolsos.

        Agora digo, como bom cearense que sou: – Arre égua!! 


Fortaleza, abril/2024

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

DOUTOR MOREIRA E DOUTOR FULANINHO

    Na sessão da cirurgia geral, na sexta-feira, Dr. Moreira pediu para trazer o caso de um paciente, um idoso, que fora vítima de umas facadas na barriga. O homem era dono de um bar na periferia e lá entraram uns elementos tentando assaltar. Resultado: o homem – tinha lá seus 69, 70 anos – foi esfaqueado não sei quantas vezes no abdômen.
    Trazido à emergência, foi imediatamente operado. A equipe cirúrgica encontrou, depois de uma minuciosa inspeção da cavidade, duas ou três lacerações no intestino, que foram cuidadosamente saturadas. Tudo ocorreu numa quarta-feira à tardinha, já entrando a noite. No domingo o paciente faleceu na UTI, onde estava desde que saíra do centro cirúrgico.
    Dr. Moreira fazia questão de trazer o caso à discussão. Achava e suspeitava que uma ou mais de uma das suturas do intestino havia rompido levando a uma peritonite, septicemia e morte. Ainda que a vítima houvesse recebido um exemplar atendimento em todas as etapas de seus cuidados, no pós-operatório inclusive, ele acreditava que houvera uma falha pelo pessoal da cirurgia que o avaliava nesta fase, ou seja, o pessoal teria deixado passar uma peritonite mortal sem diagnosticá-la devidamente. E batia pesado em sua crença: – Um erro fatal! E perguntava eufórico: – Como isso pôde acontecer?
    Dr. João, chefe da cirurgia, cutucava o residente responsável pelo caso e, sussurrando, num tom de brincadeira, provocava-o: – Fulaninho, o Moreira quer que esclareças o causo... quer te pegar. Fulaninho se mexia na cadeira do auditório mais inquieto que alguém enfezado e pensando: "Nem qu'eu tenha que ir atrás do laudo cadavérico!" Passou.
    Dito e feito, ou melhor, pensado e feito. Na semana que se seguiu Fulaninho não contou pipocas. Numa brecha das atividades deu um pulo no Instituto Médico Legal. Lá chegando identificou-se e foi atendido por um legista de plantão que, depois das devidas justificativas do jovem colega, traz-lhe uma cópia do laudo da necrópsia do falecido. Chispou de volta pro hospital. Afinal, já era a sexta-feira seguinte àquela das cutucadas do Dr. Moreira e ele ansiava entregar-lhe o documento. Afinal, o homem era, além de tudo, o diretor do hospital. Tinha direito de tudo saber.
    Inicia-se a sessão e os casos mais críticos começam a ser apresentados. Lá pelas tantas, ao que se presumia ser o final da apresentação do último caso, Fulaninho ergue a mão e lhe é dada a palavra. Ele pigarreia como a limpar a voz a ser emitida e diz: – Queria pedir aos queridos mestres para ler o laudo do exame cadavérico do sr. Beltrano da Silva, nosso paciente que foi ao óbito e cujo caso foi discutido aqui na semana passada. Uns poucos segundos se passaram até que todos assentiram positivamente.
    A leitura se resumiu à parte do exame do conteúdo do abdome e da conclusão final da causa mortis: – As suturas intestinais estavam íntegras, não havendo deiscências nem sinais de peritonite. A causa da morte foi tromboembolismo pulmonar.
    Dr. Moreira levantou-se e disse, calmamente e enfaticamente: – Vocês então fizeram um excelente trabalho!! Estão de parabéns!

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

UM FORA REGADO A VINHO... E POLÍCIA

O turno de serviço ia bem, sem intercorrências ou ocorrências. Plantão de policial militar requer um ansiolítico prévio, quiçá dois. Digo, dose dobrada do remédio. Mas há de ser uma que não mexa com o estado de alerta, com o nível de consciência, com o Glasgow. Em cidade com elevado nível de violência, ao policial que está na rua em serviço tudo pode ocorrer, inclusive jamais voltar para casa.

Sabedor disso, Naej, ou melhor, sargento Naej sempre advertia ao patrulheiro e ao motorista da viatura que ficassem ligados. Não podiam dar moleza aos bandidos, notadamente os que se fazem passar por cidadãos honestos e de índole impecável. Estavam parados na viatura numa rua residencial. Ele estava em pé na calçada, ao lado do veículo, enquanto o patrulheiro e o motorista, soldados da força policial, permaneciam dentro.

Dali a pouco vê uma mulher sair de um condomínio bem à frente. Era jovem e olhava para ele. Fez um sinal acenando com a mão e pediu permissão para se aproximar. Ele assentiu e ela veio encontrá-lo ao outro lado da rua.

– Pois não, senhora... em que podemos ajudar?

Ela se mostrava nervosa, inquieta, apreensiva.

– Queria saber se posso contar com a ajuda de vocês para resolver um probleminha...

– Houve alguma coisa?, ele quis saber.

– Na verdade nada houve, mas estou muito temerosa que haja em breve...

– Mas... como assim?

– É o seguinte, vou tentar explicar para que o senhor entenda...

Esfregava as mãos e olhava apreensiva para os lados como e se certificar da privacidade daquela conversa.

– Meu namorado está vindo para cá. Eu o chamei para termos uma conversa. Eu não disse do que se tratava, mas nessa conversa pretendo terminar com ele... já até fiz a mala colocando tudo o que dele tinha aqui no meu apartamento...

– Mas, senhora, isso não configura uma ocorrência policial..., ele interrompeu calmamente e já anunciando que nada tinham com isso enquanto policiais de serviço. Ela balançou a cabeça positivamente e nervosamente continuou:

 – Sim, sim, compreendo perfeitamente! Mas, veja... por favor, deixe-me explicar! O nervosismo da jovem senhora era cada vez mais perceptível.

– Meu namorado é um homem muito forte e muito alto... tenho muito medo e receio que a reação dele seja a pior possível, entende?

– Entendo, senhora. Mas devo enfatizar e repetir que isso não é uma ocorrência policial. Entendo que a senhora tema uma agressão física, mas até que isso ocorra de fato nada podemos fazer.

Ela então explicou que apenas queria que eles permanecessem ali perto até o momento de ela terminar a conversa com o namorado. Ele já estava a caminho e rogava a que eles dali não saíssem antes de tudo ser dito por ela a ele.

Naej coçou a cabeça e assentiu, dizendo que poderiam ali permanecer por no máximo mais uns 20 minutos. Depois teria que seguir a ronda estabelecida.

– Fico muito grata a você e seus parceiros! Não sabe como isso me tranquiliza!

Ela agora parecia mais calma e completou:

– Por favor, não querem subir para tomar uma água, um café?... ofereço até um pouco de vinho se quiserem!

O patrulheiro se animou:

– Vixe, sargento!... Bora lá só dar uma bicadinha!

Naej, o sargento, lembrou ao soldado que não podiam ingerir álcool estando em serviço, mas que aceitavam de bom grado um copo d’água gelada e refrescante.

Enquanto o soldado motorista seguia na viatura já que ela não poderia ser deixada ali sem ninguém da força policial, Naej e o segundo patrulheiro entraram no condomínio da jovem senhora.

No apartamento contemplaram uma bem fornida adega de vinhos de boa referência e origem, deixando o patrulheiro a lamber os beiços mal intencionados.

– Sargento, só um golinho, vá lá..., pediu ele choroso e sôfrego, ao que Naej cedeu enfatizando:

– Só um gole, viu??

Desceram para a viatura a seguir. Na saída pediram ao porteiro para lhes avisar quando o jovem namorado chegasse. Imaginando o que os policiais estariam para fazer foi logo dizendo em tom de alerta:

– São só vocês dois para segurar o homem?? E completou:

– É pouco. Não vai dar certo..., e meneava a cabeça negativamente.

Passaram-se, 10 minutos, 20 minutos, 30 minutos... e nada do homem chegar. Sargento Naej já se impacientava a ponto quase sair dali “à revelia” da jovem senhora desprotegida. Mas se conteve.

Só depois de mais uns 20 minutos o porteiro acenou da guarita, apontando para a direita da rua onde um carro acabara de estacionar ao meio-fio. Eles seguiram em direção ao veículo e observaram um homem que saía pelo lado do motorista. Era um sujeito espantosamente alto e forte como um Hulk. Naej imaginou que um soco do homem era capaz de matar um cidadão comum por trauma craniano gravíssimo.

Aproximaram-se, cumprimentando-o com um caloroso “boa noite”, ao que ele respondeu respeitosamente:

– Boa noite!... Algum problema, senhor policial?

– Podemos falar um minutinho, senhor?

– Claro, sem problema. Posso ajudá-los em alguma coisa?

Estavam, frente a frente, Naej e seu soldado e o temível gigante. Tinham a vantagem de estar armados e ainda contar com a cobertura do motorista que, de dentro da viatura, observava o desenrolar da “missão”. Naej foi direto:

 – Temos um assunto que poderá incomodá-lo, mas espero que compreenda...

 – Em absoluto, senhor! Estou à sua disposição! Do que se trata?...

– Bem, é seguinte... pigarreou tentando arrumar o discurso direto. “Sua namorada nos procurou porque irá terminar o namoro com o senhor tão logo suba ao seu encontro e teme a sua reação”. Dois ou três segundos se seguiram e continuou.

– Queremos saber se o senhor se incomodaria se subíssemos com o senhor...

O homem baixou a cabeça olhando para o chão e disse sem alterar a voz.

– É isso? Mas não precisava disso... eu seria incapaz de qualquer coisa contra ela... por favor, me acompanhem até lá.

Depois que ele partiu levando a mala o soldado patrulheiro se animou e perguntou.

– Sargento, vá lá! Deixa eu acariciar mais uma dosezinha daquele vinho delicioso!

Naej olhou para a jovem e ela sorria plena e feliz, dizendo:

– Qu´é isso, sargento?... deixa o rapaz aliviar a tensão do momento... eu até o acompanho!

Saíram de lá tendo o patrulheiro entornado a garrafa inteira.

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

UM SUMIÇO EXPLICATIVO

 

         Era psicóloga.

              O marido, neurocirurgião brotado em família de médicos, demorava-se no leito. Haviam acabado de acordar de uma noite de sono profundo e reparador.

– “Não vais trabalhar”?, ela quis saber, no vai-e-vem entre o quarto e o banheiro

Tirando os lençóis do rosto, ele disse, com as palavras saindo de um longo bocejo:

– “Sinto-me meio cansado... não sei...”

Mal completara a frase, pulou da cama e disse:

– “Vamos à luta!”

– “Então vou preparar um café pra gente...”, retrucou ela com um sorrisinho meio amarelo.

Dali a pouco ele chega à mesa e se depara com um desjejum de hotel cinco estrelas. Era capricho de mulher apaixonada.

– “O seu carro está atrás do meu”?, perguntou ele mordendo o bico do pão.

Era um prédio com duas vagas na garagem para cada apartamento, desses em que as vagas são alinhadas, como numa fila.

- “Está, sim. Você pode ir no meu. Quando eu sair, uso o seu”.

Estava resolvido. Ele podia sair antes dela. Não tinha problema. Se estivesse apressado, claro. Neurocirurgião anda sempre apressado, é o que se pensa a princípio. Ou talvez não. Ele não parecia ter pressa. Não ia operar ninguém. Combinaram de cada um sair no tempo que cada um demorasse para se aprontar, tomar banho, escovar os dentes, se vestir...

Ao final de uma hora ele estava de maleta na mão, bem vestido, cheirando a um Lacoste comprado no freeshop de Standsted dois ou três anos atrás.

-“ Tô indo”..., e lhe beijou a testa, ela ainda sentada à mesa tomando café preto.

Era cedo. Ele só voltaria ao fim do dia.

 

                                                              ***

 

Ele teve sua rotina de praxe no trabalho. Ao longo do dia não havia recebido mensagem alguma da mulher. Poder-se-ia dizer que era algo meio estranho, fora do padrão. Ou nem tanto, já que, como psicóloga, tinha o consultório para dar conta. Ainda assim, lhe pareceu esquisito, já que habitualmente ela lhe enviava pelo menos uma mensagem ao longo do dia querendo saber como ele estava.

Voltava para casa por volta de 20 horas, após um consultório laborioso e cansativo. Ansiava revê-la, jantarem juntos, contarem reciprocamente sobre seu dia.

Ao adentrar o estacionamento do prédio concluiu que ela já havia voltado para casa, já que seu carro estava lá. A curiosidade lhe instigava. Por que razão incapacitante passara o dia numa ausência fantasmagórica e aparentemente interminável?

Ao abrir a porta já foi chamando seu nome. O apartamento não era grande, de modo que ela ouviria seu chamado de qualquer aposento onde estivesse.

Nenhuma resposta. O silêncio era absoluto. Foi direto para a suíte; ela poderia estar no toalete de porta fechada.

O quarto estava bem arrumado como se a funcionária tivesse passado por lá para fazer uma limpeza geral de rotina. Mas, não era dia da limpeza. Seguramente nenhuma funcionária lá estivera. Tirou o telefone portátil do bolso na busca de uma mensagem dela. Nada. Tampouco uma chamada não ouvida e não atendida. O aparelho estava no silencioso. Ela poderia ter ligado.

Melhor seria ligar para ela e saber se estava tudo bem. Cidades não muito seguras sempre levantam suspeitas quando de ausências prolongadas e inexplicáveis.

O telefone chamou até cair na caixa postal.

Ligou para o consultório. Ela poderia estar lá atendendo algum paciente e não estaria podendo falar ao telefone, mas a atendente foi taxativa – ela ligara bem cedo pela manhã cancelando toda a agenda do dia. Não aparecera por lá.

O próximo passo foi ligar para a sogra, que morava noutra cidade. Pelo menos com a mãe ela teria falado. E, de fato, falara. Há poucos minutos. Dissera estar tudo bem, tudo em ordem, tudo nos conformes. Ele se furtou a lhe dizer que presumia haver algo errado, já que ela sumira... para ele, somente para ele. A mãe saberia de algo? Das razões de ela estar agindo assim? Ele não fazia a menor ideia, já que não brigavam, não discutiam, tratavam-se bem e com respeito, enfim, sua relação seria perfeita.   

 Resolveu descansar e esperar. Mais cedo ou mais tarde tudo viria à tona. Pelo menos sabia nada de mais ter-lhe acontecido. Tomou uma ducha e deitou-se para um sono reparador.

 

                                                             ***

 

Uma semana se passou e nada de notícias dela. Não que ele não tivesse tentado por várias e várias vezes. O telefone chamava até desligar e ela não atendia. No consultório a atendente informou que ela cancelara todas as consultas por tempo indeterminado, mas que já voltaria a atender na semana seguinte, dali a três dias. Ele pensou em lá ir para conversar com ela, mas considerou que não seria um lugar muito apropriado para isso. Aguardaria. Lembrava-se de que ele estava com o carro dela. O dele estava parado no estacionamento do prédio desde que ela sumira. Em algum momento ela viria resolver.

 

                                                           ***

 

Num domingo o telefone tocou. Era ela.

– “Vou passar aí amanhã para pegar as minhas coisas...”

– “Mas, Odila, o que está havendo”?

– “Passarei quando você já tiver saído para trabalhar, tá bem”?

Ele ficou mudo, sem saber o que dizer. Alguns segundos se passaram e ela completou:

– “Não quero mais... não vou mais voltar... já deu... aproveito e pego meu carro.”

E desligou.

Doutor Alarico até hoje não sabe o que se passou com sua esposa Odila.

domingo, 20 de abril de 2025

MESQUITA, O COBAIA

            Muitos dos queridos amigos estão a ver navios após ler minha última crônica comentando sobre os médicos que faturam em associação a empresas. Vou explicar. Ocorre que a intitulei "As cobaias do Mesquita", e, no desenvolvimento do assunto, nada falei sobre as cobaias do Mesquita. Dirão que o título nada tem a ver com o tema. Eis que agora me proponho a esclarecer o aparente engodo.

Antes, contudo, devo lembrá-los que Nelson Rodrigues escreveu uma peça que, quando de sua primeira produção e apresentação, intitulou-a "Otto Lara Resende ou Bonitinha Mas Ordinária". Estava escrito assim mesmo, desta forma, na placa do teatro. E, se não me trai a memória, não havia realmente nada entre o Otto, seu grande amigo, e o tema da peça. O caso é que ele vivia a mexer com o amigo. Vivia a brincar com ele em suas crônicas. Não é o que acontece aqui.

 Tudo começou há vários anos quando o meu querido amigo Mesquita sofreu um acidente de carro. Numa de suas fragorosas farras, o carro caiu numa ribanceira e ele sofreu um traumatismo na coluna cervical. Poderia ter morrido, mas Deus guardava-lhe vida longa e de sucesso. Com o tempo, as articulações de algumas de suas vértebras do pescoço entraram num processo degenerativo de desgaste, uma artrose, que necessitou de tratamento cirúrgico. Lá foi o Mesquita para a mesa ser operado por eminente cirurgião das bandas paulistas, que passava algum tempo por aqui fazendo não sei quê. Aqui abro um parêntese para lembrar que, nessa época, ele não era dado a se consultar com entidades do além, de forma que optou por tratamento por cirurgião vivinho da silva. Ora, o cirurgião foi escolhido por indicação de outro cirurgião da praça local que, em sua franqueza e honestidade, confessou ao Mesquita sua pouca experiência naquele tipo de operação. Assim, feitos os arranjos necessários, o cirurgião paulista e o cirurgião cearense foram juntos operar o Mesquita. O cirurgião cearense funcionou como auxiliar do pica-grossa paulista.

Não sei se por obra do destino, ou por estar vencido o sedativo que deram ao nosso Mesquita, ou se o anestesiologista estava a dormitar, o fato é que ele ouviu quando o paulista sussurrou ao cearense: -"Faz você que eu te ajudo." Ora, o cirurgião cearense é profissional respeitadíssimo, pessoa de reputação irretocável, competência técnica inegável, um excelente e honrado médico de branco, como diria o meu amigo Casoba. Dali em diante Mesquita esteve sob os efeitos de anestesia geral. Ao acordar horas mais tarde, no entanto, passou a ruminar sobre o que ouvira. Ruminava igual a boi no pasto a mastigar aquele mato verde e inquebrável, a engolir várias e várias vezes, com o mato lhe voltando obstinadamente à boca repleta daquela saliva espessa e pegajosa. Não lhe saía da mente o paulista a dizer ao cearense "faz você que eu te ajudo"; e ruminava também o que lhe dissera o franco e honesto cirurgião cearense: "não tenho experiência nesse tipo de operação". Entretanto, tudo correu bem e nosso querido Mesquita saiu de alta em perfeito estado. O talho que lhe fizeram no pescoço cicatrizou que quase não se percebe. As dores no pescoço cederam completamente. Enfim, curou-se o Mesquita do incômodo problema, exceto por um mínimo detalhe: uma seqüela para deglutir.

Ora, o Mesquita come mais do que os bois ruminantes. Olhem os bois no pasto. Não param de mastigar e comer. Passam ali o dia inteiro a comer e a fazer cocô. Quem não conhece o Mesquita creia: a comparação é perfeita! Exceto pelo cocô, que o meu amigo não come e evacua ao mesmo tempo como os bois, ele come o mesmo ou mais que eles. Isso fez realçar ainda mais sua seqüela deglutiva: sempre que engole, o homem vira a cabeça para o lado, sempre o mesmo lado, como a dirigir o bolo alimentar na direção correta. Não importa onde esteja, se na cozinha de casa, se no Picanha do Cowboy, se no restaurante do Waldorf Astoria, é sempre a mesma coisa: o Mesquita engole sua comida com a cabeça a pender para o lado. E é aí que entram as frases dos exímios médicos que o operaram e que ele nunca deixou de ruminar: "faz você que eu te ajudo" e "não tenho experiência nesse tipo de operação". Chegou, então, à conclusão fatal e inevitável: funcionou como cobaia do cirurgião cearense. Sim, fizeram-no de cobaia, de objeto de teste e de treinamento de um profissional médico. Passou, então, a alardear em todos os lugares – em festas, em reuniões, no estádio de futebol, no avião em suas viagens à América, na sauna, na academia, nas reuniões de seu condomínio, nos batizados, no confessionário ao padre, nas sessões espíritas ao médium, para os surfistas ao seu lado sobre as ondas - enfim, para todos, que adquiriu esse "pequeno defeito" por ter sido cobaia de um médico. A coisa ganhou tal e qual dimensão que o apelidaram de "cobaia".

Então, escrevi o último texto falando da questão dos míseros honorários pagos aos médicos por parte dos planos de saúde e o intitulei "As cobaias do Mesquita", querendo sugerir que, em verdade, os médicos é que estão sendo cobaias de seus pacientes, nas mãos dos planos de saúde. Está aí explicado todo o caso. Não esqueçam que o Mesquita adora adoecer de pequenos males. Para ele, um resfriado ganha proporções tsunâmicas dadas as implicações que pode ter. A conclusão a que chego é que o homem adora dizer-se seqüelado. É coisa mínima e quase imperceptível. Só serve mesmo às nossas gozações. A ele serve a se manter minimamente doente eternamente. E isso ele adora!

 

Por Fernando Cavalcanti, 21.11.2008   

AS COBAIAS DO MESQUITA

               Ora, estive a matutar, a remoer, e ruminar igual boi no pasto com aquela mastigação toda, e aquela baba pegajosa e elástica a escorrer pelos cantos do focinho. Mais parecido com isso não poderia ser. Quase igual, sem tirar nem pôr. E por quê? Simples: a conversa em nosso último almoço no qual esteve presente o estimado amigo Luís Miranda, marista de última hora, mas de alma marista enquanto estava no Militar. Não há a menor sombra de dúvida. Ele, Alexandre Matos e eu entramos a falar da desgraça da prática médica devida aos míseros honorários pagos por planos de saúde. E o Luís se perguntava e me perguntava como estávamos conseguindo sobreviver. Fiz lá as minhas considerações, mas, ao final, senti não haver dissecado completamente o assunto. Óbvio é que não tinha intenção de fazê-lo agora.

 No entanto, estive conversando com dois amigos e colegas de profissão e eles me deram algumas dicas para explicar maneiras pelas quais o médico pode ganhar dinheiro, mesmo percebendo os baixos honorários. A mais poderosa delas é através de sua "associação" com laboratórios de exames complementares, clínicas radiológicas, fornecedores de materiais e equipamentos de alta tecnologia, e "associação" com a indústria farmacêutica. Como funciona? Igual ao mensalão. Ganham parte do lucro através da solicitação de exames complementares, da prescrição de medicamentos e da indicação do uso, nos pacientes, de materiais protéticos de elevado custo. Isso pode ser feito através de dinheiro vivo, viagens com todas as despesas pagas, ou as duas coisas. Aqui o assunto merece uma maior apreciação, sob pena de se sermos injustos com os médicos.

A biotecnologia muito avançou e a bem dos pacientes. Hoje se dispõem de próteses que substituem artérias, membros, válvulas cardíacas, ossos; máquinas que mantêm a circulação e a oxigenação do sangue em operações com o coração aberto; pinos, parafusos, porcas e fixadores ósseos para artrodeses e fixação de fraturas; colas biológicas que unem retalhos de incisões cirúrgicas e ossos da calota craniana; isso para dar apenas alguns exemplos. Longe de serem prejudiciais aos pacientes, esses equipamentos trazem enormes benefícios quando bem utilizados visto que podem até evitar operações de grande porte que de outra forma seriam necessárias para corrigir problemas ameaçadores da vida. Grandes procedimentos cirúrgicos foram substituídos por procedimentos menores trazendo grandes benefícios aos pacientes.

O problema começa quando determinado dispositivo é utilizado não para beneficiar o paciente, mas o vendedor e o médico que indica e realiza o procedimento. Nessa circunstância ocorre o oposto: submete-se o paciente a riscos desnecessários, e lesa o plano pelos elevados custos desses materiais. O dinheiro do lucro dessa "venda" vai para o bolso do vendedor do equipamento e do doutor.

Da mesma forma, laboratórios de exames complementares e clínicas radiológicas remuneram os médicos que solicitarem bastantes exames. Como estão a ganhar uma miséria pela consulta, a consulta é substituída pelos exames que, mais uma vez, podem implicar em riscos desnecessários para o paciente. Não se estabelece uma relação entre o médico e seu paciente e, para obter as informações que precisa para chegar ao diagnóstico, o médico lança mão dos exames "complementares" laboratoriais e radiológicos. Em troca, essas pessoas jurídicas repassam parte de seus lucros a esses médicos "solicitadores" de exames.

Todas essas afirmações que fiz merecem uma ressalva de importância tremenda: a grande maioria dos médicos não compactua nem se "associa" a estes "esquemas". Ao contrário, pagam pelo erro de seus pares desonestos num feedback cruel e desonroso para sua boa índole. Boa parte deles atende rápida e mal o seu paciente na intenção de "fazer volume" em número de consultas, e assim tentar transpor o desonroso honorário. Eis aí, meus caros amigos, o que está a acontecer.   

É minha sincera opinião, após vinte e três anos de formado, que exercer medicina não pode mais ser encarado como um meio de vida. O médico já não é mais um profissional liberal na acepção mais completa da palavra. Entre ele e seu paciente estão o governo irresponsável e os planos de saúde. Ele nada mais arbitra sobre seus salários e honorários. Pode aumentar sua renda apenas à custa de mais trabalho, sendo necessário para isso subtrair mais tempo de sua vida. Portanto, é minha sincera convicção que os novos acadêmicos e estudantes de medicina sejam cada vez mais orientados a ter outro negócio além de sua profissão, a fim de que dele possa ganhar dignamente e não seja assim tentado a essas práticas que mancham a nobre atividade de cuidar dos males alheios. Não condiz com profissional que deve ter ampla cultura geral, equilíbrio pessoal e emocional, competência técnica, habilidades sinestésicas, visuais e auditivas e conhecimento científico contínuo e atualizado.          

Para encerrar, envio fotos do que fazemos na labuta diária no centro cirúrgico de um grande hospital desta decadente cidade, na tentativa de aliviar o infortúnio do sofrimento e da dor. O primeiro caso é o de um jovem de 25 anos vítima de choque elétrico de alta voltagem quando tentava salvar seu companheiro, que morreu instantaneamente. Ele teve a mão, o antebraço e braço direitos literalmente eletrocoagulados necessitando sua desarticulação do tronco. O segundo é o de uma senhora de 61 anos, diabética e hipertensa, com uma lesão aterosclerótica obstrutiva típica do diabético, das três artérias da perna, levando à gangrena do antepé e necessitando a revascularização do membro (inferior direito) com uma ponte de veia safena invertida que agora levará sangue oxigenado para seu pé e perna, desviando-o das obstruções. As imagens obtidas numa angiografia pré-operatória servem como guia do cirurgião, que agora sabe para qual das artérias vai desviar o fluxo. As fotos mostram a ponte confeccionada partindo logo abaixo do joelho e indo até o tornozelo. As últimas imagens mostram um coto de amputação sangrante e com boas perspectivas de salvamento do membro.

Quanto acham que os planos de saúde pagariam por cada uma dessas operações? Se bem me informo, juntando as duas não dá para ganhar mil e duzentos reais brutos. E os clínicos, que não operam? Não nos esqueçamos que o MÉDICO é o clínico. Este é o grande médico. Os senhores médicos, infelizmente, estão perdidos entre a intranquilidade e a extrema responsabilidade. Creio que a intranquilidade dos míseros honorários deve ser substituída pela recobrar da consciência e autoestima, o lembrar-se de quem somos, aonde chegamos como técnicos, a obrigação de sermos humanistas e o recobrar da humildade de se saber gigante. Façamos o trabalho, mas não podemos continuar morrendo por esta causa. A sociedade tem a obrigação de lutar por uma excelente medicina. Esta excelente medicina passa necessariamente por seres humanos que são médicos, nunca por um aparelho que fecha um frio diagnóstico como em "Guerra nas Estrelas".  

 

Por Fernando Cavalcanti, em 18.11.2008

AS MAZELAS DO MESQUITA... E DO FERNANDO CAVALCANTI!

 Fábio Motta, o nosso Mesquita sempre foi meio dado ao distúrbio hoje conhecido como TOC, transtorno obsessivo-compulsivo. Ele, de todos nós, é o que mais teme doenças, e o que mais adoece. Digo isso com excessivo pesar posto que me faça mal ter amigos a adoecer. Foi Robert Kiyosaki quem disse que "você recebe o que você teme". Fica, então, bem comprovada a tese do eminente guru das finanças: o nosso Mesquita recebe o que mais teme, no caso as doenças. O homem tem hipertrofia prostática benigna; artrose do joelho não sei qual - talvez de ambos; artrose da coluna cervical por trauma em acidente de carro - já operada, mas com seqüelas, já que funcionou como cobaia do cirurgião que operava; micose numa unha do pé não sei qual - talvez ambos; laringite crônica - que o fez faltar ao último racha -; e outras mazelas menores e recidivantes que servem-lhe a dar desculpas para faltar a eventos que não lhe interessam ir. Lembrar que o homem é adepto das idéias de Hippolyte Rivail, vulgo Allan Kardec. Por isso realizou há alguns anos uma "cirurgia espiritual" com um curandeiro formado na Universidade do Além. Diz ele que o joelho está na mesma, mas o fato serve a ilustrar a obsessão de nosso Mesquita em doenças.

Semana passada Mesquita cogitava internar-se por causa de sua laringite e me dizia ao telefone portátil numa voz fugidia, quase inaudível: -"Primeiro a saúde! Primeiro a saúde!" Que é que se pode fazer, meu chapa, diante de quadro tão lamentável e típico de transtorno obsessivo-compulsivo? Entretanto, ninguém, nem mesmo o Mesquita, tem culpa de adoecer, ou de ter o tal transtorno. Roberto Carlos, o cantor, tem o transtorno. Luciana Vendramini, a linda atriz e modelo, também.  Não têm culpa disso. Que se pode fazer? Tratar, eis a resposta. Mesquita devia ir ao psiquiatra e tratar seu transtorno. Mas ele não o faz. E o que faz? Vai ao dermatologista tratar a micose da unha. E o que o dermatologista faz? Passa remédio. Dos mais tóxicos para o fígado, por um período de quatro ou cinco meses, salvo engano. E dá recomendações expressas ao Mesquita: -"Não me vá beber, hein? Veja lá!" E Mesquita passa quatro ou cinco meses obsessivamente tomando um remédio que não chega à unha – lá não há vasos sangüíneos – em completa abstinência de sua cerveja. Resultado: micose na unha persistente. Não poderia ser de outra forma.

E o joelho do Mesquita? O espírito que encarnou no médium que o "operou" faltou a essa aula na faculdade. Quando vivo, é claro. Em todo caso, presume-se que quem morre e passa a gozar da infinitude da sabedoria deveria saber operar com competência um joelho podre. Mesmo que não tenha sido médico em vida, herdará toda a sabedoria do universo. E o que aconteceu com o joelho do Mesquita? Continuou podre. O outro joelho, operado por um reles mortal que estudou às pampas, curou. Não sei se nesse caso a obsessão de meu amigo era nos joelhos doentes ou se na busca de prova de vida além-túmulo. Confesso que não me chegou ao conhecimento o desfecho final da história desse joelho, mas amanhã saberei. Nada como um jogo de futebol para se testar joelhos.

A doença prostática do Mesquita é a mais normal do mundo. Explico: muitos homens em sua idade a têm. É normal. Ou melhor, se o sujeito a tiver estará dentro de uma estatística esperada. Não me lembra se Mesquita tem obsessões estatísticas, mas as tiver entrou em uma delas. Mas – vejam lá! – não espalhem por aí essa hipertrofia, que ela se descobre através de uma manobra nada agradável: o "toque" retal. Ninguém vai querer sair por aí alardeando sua hipertrofia prostática, sob pena de se saber "tocado". Aliás, usar o verbo "tocar" para manobra tão brutal é mais um eufemismo da prática médica. Que me perdoem os médicos, e principalmente o meu querido amigo e irmão Fernando Cavalcanti, mas "tocar" é outra coisa. Isso que eles fazem é uma brutalidade, um ultraje, uma invasão. Nunca um "toque"! E já começo a me preocupar se meu querido Mesquita tem obsessão no "toque".

Não nos esqueçamos que o Fernando Cavalcanti largou a Proctologia porque os doentes tinham para com ele uma relação de amor e ódio. Quase todos os seus doentes terminavam no divã do psiquiatra. Não me entendam mal: não era o toque do Cavalcanti que os levava ao psiquiatra. Era a dubiedade de sentimentos que nutriam por ele. Uma hora queriam beijá-lo; no momento seguinte queriam matá-lo. Cavalcanti começou a perceber que sua vida social começava a amofinar, a definhar, a encolher. Seu círculo de amizades já não era o mesmo. Alguns se afastavam. Fui testemunha ocular e auditiva.

O que ocorreu foi o seguinte. Estávamos Cavalcanti e eu numa dessas festas nababescas. E, coincidência, muitos médicos colegas dele presentes. Começamos a notar que muitos desses colegas eram comemorados quando encontravam seus pacientes: -"Olha, Fulano, aquele ali é o doutor Sicrano, que operou meus peitos caídos! Olha como ficou uma maravilha! Ele é ótimo!" Ou: -"Menina, aquele é o doutor Beltrano, que fez os partos do Zezé e da Mariazinha! Ele é perfeito!" Ou:- "Suzana, venha conhecer meu dermatologista. Tirou aquelas manchas que eu tinha na cara, lembra? Ele é um amor!" E assim por diante com cardiologistas, clínicos, cirurgiões, oftalmologistas, etc. etc. Exceto o Fernando Cavalcanti. Não veio ninguém comemorar o Cavalcanti. Ao contrário, alguns desviavam o caminho quando percebiam que iam passar perto dele. Concluímos, então, que o proctologista é um ser deplorável e detestado. Mexer nas partes íntimas das pessoas não é uma tarefa fácil. Urgia mudar de rumo. Conclusão: Fernando Cavalcanti foi fazer cirurgia vascular. Mandou os "toques" às favas. Os que ainda estão aí a fazer devem ser respeitados, em que pesem as considerações que fiz acima sobre o eufemismo. Afinal, alguém tem que fazer o serviço sujo. Graças a eles existem os que precisam amar e odiar ao mesmo tempo para viver.

 

Por C. Amorim, em 06.11.2008

PENSE NUMA CARNIÇA ENCANTADORA!

          Esse pessoal fofoca demais, além da conta, se é que há um limite aceitável para se fofocar. Fofocar? Mas, o que é exatamente fofoc...