Fábio Motta, o nosso Mesquita sempre foi meio dado ao distúrbio hoje conhecido como TOC, transtorno obsessivo-compulsivo. Ele, de todos nós, é o que mais teme doenças, e o que mais adoece. Digo isso com excessivo pesar posto que me faça mal ter amigos a adoecer. Foi Robert Kiyosaki quem disse que "você recebe o que você teme". Fica, então, bem comprovada a tese do eminente guru das finanças: o nosso Mesquita recebe o que mais teme, no caso as doenças. O homem tem hipertrofia prostática benigna; artrose do joelho não sei qual - talvez de ambos; artrose da coluna cervical por trauma em acidente de carro - já operada, mas com seqüelas, já que funcionou como cobaia do cirurgião que operava; micose numa unha do pé não sei qual - talvez ambos; laringite crônica - que o fez faltar ao último racha -; e outras mazelas menores e recidivantes que servem-lhe a dar desculpas para faltar a eventos que não lhe interessam ir. Lembrar que o homem é adepto das idéias de Hippolyte Rivail, vulgo Allan Kardec. Por isso realizou há alguns anos uma "cirurgia espiritual" com um curandeiro formado na Universidade do Além. Diz ele que o joelho está na mesma, mas o fato serve a ilustrar a obsessão de nosso Mesquita em doenças.
Semana passada Mesquita cogitava internar-se por causa de sua laringite e me dizia ao telefone portátil numa voz fugidia, quase inaudível: -"Primeiro a saúde! Primeiro a saúde!" Que é que se pode fazer, meu chapa, diante de quadro tão lamentável e típico de transtorno obsessivo-compulsivo? Entretanto, ninguém, nem mesmo o Mesquita, tem culpa de adoecer, ou de ter o tal transtorno. Roberto Carlos, o cantor, tem o transtorno. Luciana Vendramini, a linda atriz e modelo, também. Não têm culpa disso. Que se pode fazer? Tratar, eis a resposta. Mesquita devia ir ao psiquiatra e tratar seu transtorno. Mas ele não o faz. E o que faz? Vai ao dermatologista tratar a micose da unha. E o que o dermatologista faz? Passa remédio. Dos mais tóxicos para o fígado, por um período de quatro ou cinco meses, salvo engano. E dá recomendações expressas ao Mesquita: -"Não me vá beber, hein? Veja lá!" E Mesquita passa quatro ou cinco meses obsessivamente tomando um remédio que não chega à unha – lá não há vasos sangüíneos – em completa abstinência de sua cerveja. Resultado: micose na unha persistente. Não poderia ser de outra forma.
E o joelho do Mesquita? O espírito que encarnou no médium que o "operou" faltou a essa aula na faculdade. Quando vivo, é claro. Em todo caso, presume-se que quem morre e passa a gozar da infinitude da sabedoria deveria saber operar com competência um joelho podre. Mesmo que não tenha sido médico em vida, herdará toda a sabedoria do universo. E o que aconteceu com o joelho do Mesquita? Continuou podre. O outro joelho, operado por um reles mortal que estudou às pampas, curou. Não sei se nesse caso a obsessão de meu amigo era nos joelhos doentes ou se na busca de prova de vida além-túmulo. Confesso que não me chegou ao conhecimento o desfecho final da história desse joelho, mas amanhã saberei. Nada como um jogo de futebol para se testar joelhos.
A doença prostática do Mesquita é a mais normal do mundo. Explico: muitos homens em sua idade a têm. É normal. Ou melhor, se o sujeito a tiver estará dentro de uma estatística esperada. Não me lembra se Mesquita tem obsessões estatísticas, mas as tiver entrou em uma delas. Mas – vejam lá! – não espalhem por aí essa hipertrofia, que ela se descobre através de uma manobra nada agradável: o "toque" retal. Ninguém vai querer sair por aí alardeando sua hipertrofia prostática, sob pena de se saber "tocado". Aliás, usar o verbo "tocar" para manobra tão brutal é mais um eufemismo da prática médica. Que me perdoem os médicos, e principalmente o meu querido amigo e irmão Fernando Cavalcanti, mas "tocar" é outra coisa. Isso que eles fazem é uma brutalidade, um ultraje, uma invasão. Nunca um "toque"! E já começo a me preocupar se meu querido Mesquita tem obsessão no "toque".
Não nos esqueçamos que o Fernando Cavalcanti largou a Proctologia porque os doentes tinham para com ele uma relação de amor e ódio. Quase todos os seus doentes terminavam no divã do psiquiatra. Não me entendam mal: não era o toque do Cavalcanti que os levava ao psiquiatra. Era a dubiedade de sentimentos que nutriam por ele. Uma hora queriam beijá-lo; no momento seguinte queriam matá-lo. Cavalcanti começou a perceber que sua vida social começava a amofinar, a definhar, a encolher. Seu círculo de amizades já não era o mesmo. Alguns se afastavam. Fui testemunha ocular e auditiva.
O que ocorreu foi o seguinte. Estávamos Cavalcanti e eu numa dessas festas nababescas. E, coincidência, muitos médicos colegas dele presentes. Começamos a notar que muitos desses colegas eram comemorados quando encontravam seus pacientes: -"Olha, Fulano, aquele ali é o doutor Sicrano, que operou meus peitos caídos! Olha como ficou uma maravilha! Ele é ótimo!" Ou: -"Menina, aquele é o doutor Beltrano, que fez os partos do Zezé e da Mariazinha! Ele é perfeito!" Ou:- "Suzana, venha conhecer meu dermatologista. Tirou aquelas manchas que eu tinha na cara, lembra? Ele é um amor!" E assim por diante com cardiologistas, clínicos, cirurgiões, oftalmologistas, etc. etc. Exceto o Fernando Cavalcanti. Não veio ninguém comemorar o Cavalcanti. Ao contrário, alguns desviavam o caminho quando percebiam que iam passar perto dele. Concluímos, então, que o proctologista é um ser deplorável e detestado. Mexer nas partes íntimas das pessoas não é uma tarefa fácil. Urgia mudar de rumo. Conclusão: Fernando Cavalcanti foi fazer cirurgia vascular. Mandou os "toques" às favas. Os que ainda estão aí a fazer devem ser respeitados, em que pesem as considerações que fiz acima sobre o eufemismo. Afinal, alguém tem que fazer o serviço sujo. Graças a eles existem os que precisam amar e odiar ao mesmo tempo para viver.
Por C. Amorim, em 06.11.2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário