Eis que me bate o telefone o Amorim após ler a minha crônica em que conto sua vida recém-conjugal. Dela muito gostou, e até me elogiou o estilo. Como já há algum tempo não me ligava, inicialmente pensei que me mandaria às favas ou coisa que o valha. Mas não. Gracejou e riu-se muito do modo cômico como expus o problema do amigo. Eu, que desde o início tinha intenção de apenas tornar o drama em arte, muito me regozijei por o ter conseguido. Não sei se sabem, mas o Amorim é às vezes belicoso e implicante. Felizmente me aprovou.
E aproveitou para me municiar de mais dados sobre a matéria da pauta. Passou, pacientemente, a enumerar todos os compromissos que sua recém-mulher e família já agendaram para este mês. E com todas as datas! Tudo como numa agenda de trabalho, só que com compromissos para o lazer. Para sua má sorte, segundo a sua visão, neste mês fazem anos ele e a ex-noiva, agora sua mulher. Ela em 08, ele em 19, se não me trai a memória. Ele, que até já esqueceu como se comemora o próprio aniversário, já se sente entediado daquela lenga-lenga dos convidados. Sim, porque não haverá escapatória para ele. -"Não sairei ileso!", foi o que me disse referindo-se à sua certeza de que a mulher e seus parentes e aderentes lhe obrigarão a festejar a data com algum tipo de farra. Se para o aniversário dele a mulher já está a fuçar nos bufês da vida, imaginem o dela, que já está às vésperas! Estava tão nervoso a me relatar seu périplo que esqueceu-me de convidar para as festanças de ambos. Quero crer que tal lapso se deva à força do hábito: há uma ou duas décadas não comemora seu natalício. Explica-se tudo, então.
E rogou-me discrição para um fato recente ocorrido em sua família: os irmãos - pelo menos meia dúzia, pelo que pude entender - recentemente promoveram um rega-bofe em sua cidade natal, lá pelas bandas do Sul. E lhe requisitaram uma fotografia recente de corpo inteiro a ser enviada para estar presente na festa para que lhe pudessem relembrar a fisionomia. Pareceu-me que estes irmãos, únicos consangüíneos vivos, já lhe conhecem as excentricidades e obsessões. Acabou, então, por confessar-me outro extraordinário dilema: será obrigado a comemorar o dia dos pais - em agosto se o comemora - tendo já o pai morto há exatos 30 anos! Um absurdo! Será compulsório parabenizar todos os pais da família da mulher! Não lhe faltava mais nada.
Não esqueceu de me lembrar as viagens. Sim, a da Itália, que felizmente ainda tarda - o embarque é em dezembro -, e a de agosto para Campos do Jordão. Vejam vocês: não bastasse toda a agenda local, ainda o levarão a viajar no mês corrente.
Contudo, ao final de nossa agradável conversa recuperou o bom humor e me repreendeu. Quanto àquela história de dizer que a partir do casamento estava obrigado a comer apenas a mulher, fuzilou: -"Há controvérsias!" E desligou com uma sonora gargalhada.
Fernando Cavalcanti, 06/08/2008
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