sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Hoje eu quis...


Hoje quis me esconder, me cobrir de lençóis e panos, e me encolher. Hoje quis ser nada, nem um grão de areia, nem um átomo, nada. Porque queria saber dos amores que nutrem por mim, me anulei. Quis despir-me de tudo o que me qualifica, de tudo o que pretendem me engrandecer, de tudo o de valor que me imputam. Se sendo nada me ainda amassem os que dizem me amar, então verdadeiramente me amariam.
            Hoje quis desenhar em minha face uma máscara odiosa, assimétrica, repleta de imperfeições e sulcos da marcação do tempo, para que sentissem por mim repugnância e asco. Porque queria saber dos amores que por mim nutrem, queria me deformar. Quis despir-me de qualquer traço físico que incitasse por mim atração ou desejo. Se sendo um ogro ainda me amassem, então verdadeiramente me amariam.
            Hoje quis me desfazer da tralha material que ajuntei na vida, estar nu como quando vim a ela, estar desprotegido do calor e do frio, sem mesmo uma árvore que me desse sombra. Porque queria saber do amor com o qual dizem me amar, quis me empobrecer. Quis tirar de mim, de meu poder, toda matéria que, sendo de minha posse, me atraísse a ganância dos amores que não amam. Se na mendicância ainda me amassem, então verdadeiramente me amariam.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O NARCISO DO MEIRELES

Moravam numa bela casa no Parque Manibura.  Ela implicava com ele quase que diariamente. Era da velha guarda, do tempo em que o homem saía c...