quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O salseiro do Mesquita

    Eis que hoje, 22 de dezembro, faz anos o Mesquita. E quantos anos faz ele? Faz 50. Bato-lhe o telefone para os parabéns e o que descubro? Mesquita estava, no exato momento em que liguei, chegando a São Salvador da Bahia para um merecido descanso de férias com a família. 
          Bem se vê que fazer aniversário a essa época do ano é ainda mais excitante, tendo em vista o clima de festa que se apodera das pessoas. Vamos e venhamos – não é a mesma coisa que aniversariar ao dia, digamos, 04 de maio. O que há em torno do dia 04 de maio? Resposta: nada. Assim, fazer anos a essa época é uma festa só. Tanto é que o Mesquita resolveu "comemorar" a data somente ao próximo mês, lá pelo dia 20. 
          Expliquemos, de modo que o assunto não se torne um mistério.
          O Mesquita está apenas começando as comemorações de seu aniversário. Viajou com a família e vai ficar fora por pelo menos uma semana. Quando digo "família" alguém pode supor que viajou o Mesquita com a mulher e os filhos. Tolo engano. 
          Quando o Mesquita viaja leva meio mundo. Vão seus pais, os pais da mulher, os irmãos com as respectivas consortes e filhos, as cunhadas com os maridos e filhos, as amas-secas dos meninos, e talvez vá também o papagaio e o cachorro de alguém. Seu cunhado, homem pouco afeito a essas erupções familiares, vai à força das circunstâncias, mas vai. Lá chegando pega-se-o olhando o céu a pensar: -"Que diabos estou fazendo aqui?..." Ônus do casamento. Ajoelhou tem que rezar.
          A segunda etapa da comemoração será daqui a aproximadamente um mês – uma festa de arromba a troar o dia inteiro e escorregando noite adentro. Assim, Mesquita comemora com a família e depois ajunta os amigos.
                                                                         ****
          Empino minha motocicleta para adentrar o estacionamento do prédio e o porteiro me faz parar. Entrega-me uma sacola que deixaram para mim. Diz o nome do entregador – foi o Mesquita. Dentro, uma garrafa de Johnny Walker Red Label ainda lacrada e um convite.                         
          Subo. Passados quase trinta dias – hoje é 12 de janeiro de 2012 – descubro o rascunho das anotações que fiz, acima, sobre o aniversário do Mesquita, de modo que a entrega da encomenda e o rascunho me avivaram a memória para o evento que se aproxima – o rega-bofe de proporções tremendas. 
          Não sei se já comentei. Se já, nada me custa comentar novamente. Os Mesquita adoram comemorar, adoram festas. Comemoram de aniversário de mudança a aniversário de divórcio, não perdoando nem a comemoração do primeiro chifre nem do aniversário de morte. Tudo relembram e celebram com uma alegria e um humor contagiantes. Tanto é que, entre eles, não há sofrimento nem se reclama de nada. Vamos e venhamos, não é toda família que é dada a essa visão tão positiva da vida e de seus acontecimentos mais funestos.
           Cá em cima, já em casa, abro a sacola e me deparo com o conteúdo já relacionado. O destilado foi a sobra dos festejos do Ano Novo que ficou em poder de meu amigo. O convite era o de seu rega-bofe. E – olha – que convite! Parecia o convite de casamento de um príncipe. Não sei já viram um convite de casamento de príncipe. Eu nunca vi, confesso, mas tenho a mais absoluta convicção de que aquele seria um convite para o casamento do filho de um rei. Logo concluí – aquilo era coisa da mulher do Mesquita. 
          A mulher de meu amigo o cobre de todos os cuidados e zelos possíveis. Minto. Não são cuidados nem zelos – são mimos e paparicos. Diga-se de passagem, o Mesquita é dos homens mais bem casados que conheço. Sim, porque agüentar o Mesquita e ainda lhe ceder aos caprichos não é coisa pra qualquer ser humano normal. Sua mulher é uma santa da mais elevada hierarquia. Perde apenas para a Virgem maior. Ela seria, em minha opinião, a única responsável por aquela obra de arte que jazia em minhas mãos. 
          Não me darei o trabalho de o descrever aqui. Eu o farei na festa. Tomarei do microfone – sim haverá, sem sombra de dúvida, um microfone nessa festa – e farei um discurso, usando de toda a minha mais refinada retórica e eloqüência, com o propósito de elogiar o convite. Tomei o cuidado de não o danificar ao abrir, já que preciso tê-lo à mão no momento de minha fala. Minha memória não seria capaz de guardar tantos detalhes estéticos e gráficos do impresso, de modo que o improviso deve se alicerçar apenas e tão-somente nele mesmo. 
          Após o salseiro prometo relatar seus pontos mais elevados aos que não forem. É aguardar pra ver.

Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkk

    Quando eu for casar, precisarei do telefone da esposa do Mesquita, posto que deve ser "ás" em termos de experiência em organização de eventos, rs.

    (eu primeiro, óbvio, preciso arrumar um candidato...)

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