quinta-feira, 9 de maio de 2013

O mesmo do sempre e o mesmo do nunca


           Os queridos leitores, se é que os tenho – e aqui não vai plágio ao Nelson –, deverão pensar que sou um desses energúmenos incorrigíveis e recalcitrantes; que sou do contra e vivo a gritar aos quatro cantos que “Hay gobierno? Soy contra!”. De minha parte e em minha defesa, garanto: - não é o caso e, repito, não é por aí.
          Esperando ansiosamente que as autoridades tomassem uma atitude à altura da gravidade do problema da (in)segurança pública, o que se viu? Que novidade se nos foi apresentada hoje através da imprensa? Resposta: - o governo do Estado anunciou ontem à tarde que vai liberar R$ 68,9 milhões para investimento no setor. Mais especificamente “para compra de viaturas e equipamentos e a realização de novos concursos para as instituições policiais”(http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2013/05/09/noticiasjornalcotidiano,3053052/seguranca-publica-recebe-r-68-9-milhoes-para-frear-violencia.shtml). Em outras palavras, deverão comprar mais Hilux (61 viaturas), mais motocicletas, mais fardamento, mais equipamento de videomonitoramento urbano, majorar o efetivo da tropa, etc. etc. etc. Enfim, mais do mesmo, o mesmo cujo resultado é o que está aí. Alguém duvida da ineficácia dessas medidas?
          O jornalista Fábio Campos tem trazido ao nosso conhecimento as conclusões de estudos sérios que apontam as soluções para o problema e casos concretos de cidades que o tiveram sobre controle e que reduziram em muito suas taxas de criminalidade. Em sua coluna de hoje ele nos apresenta mais do mesmo, só que um mesmo diferente, um mesmo ainda inédito para o fortalezense, o mesmo que ainda não vimos por aqui. Embora anuncie um novo movimento da prefeitura na abordagem do problema, parece não haver indícios de se essas ações serão pontuais ou se fazem parte de um plano sério e elaborado nos bastidores(http://www.opovo.com.br/app/colunas/fabiocampos/2013/05/09/noticiasfabiocampos,3052860/as-obrigacoes-do-senhor-prefeito.shtml). Assim, seguimos aguardando.
          A violência é hoje um problema tão sério para nós que se tornou, literalmente, um caso de polícia. Ela tem crescido tão rapidamente e assustadoramente que nas próximas horas ou nos próximos poucos dias veremos se as “medidas” anunciadas pelo governo do Estado e as já implementadas pela prefeitura estão surtindo algum efeito. Sim, porque a população de Fortaleza não quer mais esperar. Esperar pelo quê? Por mais mortes? Por mais mutilados? Por mais humilhados? O povo espera e só aceita medidas imediatas, sem licitações, sem a serôdia liberação de recursos, sem essas velhas e mesmas desculpas esfarrapadas que o governo dá quando quer se esquivar de sua responsabilidade. O povo está de saco cheio de palavras, de discursos, de debates, de reuniões infindáveis e improdutivas. O povo não agüenta mais tanta indiferença e incompetência, além de não mais tolerar viver sob a constante ameaça dos bandidos.
          Agora pergunto: - sou do contra? Estou a jogar lenha à fogueira pelo simples apreciar ver o circo pegar fogo? Não precisa que alguém ateie fogo à lenha. Os senhores gestores já o fizeram durante anos a fio. Sua insensibilidade é tanta que não me surpreenderia se ainda mantivessem o coração empedernido. Fortaleza, em particular, e em geral o Brasil, nunca foram foco de projeto algum. O único projeto a que pertencem está na rota do enriquecimento fácil dos que deveriam zelar pelos recursos públicos.
          A propósito, matéria veiculada há poucos dias no mesmo jornal O Povo dá conta de que nosso glorioso Estado do Ceará é a unidade da Federação em que há mais condenados por peculato. Não se anunciaram quantos desses senhores estão a deitar-se sobre um catre à noite e a verem o sol quadrado à aurora no cumprimento de suas penas. Sabe-se apenas que há uma avalanche de prisões temporárias cujo propósito é desconhecido para nós, reles mortais. Talvez sirvam a nos inspirar a esperança da realização de justiça. O que interessa é que aqui se rouba a valer, em todos os nichos e estratos sociais. Como diria o Bezerra da Silva, “se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão”!
         E os pobres e coitados vereadores que reclamaram por terem sido taxados pela mídia de pertencerem à “bancada da bala”, grupo de parlamentares que se elegeram com o discurso antiviolência, mas que pouco fazem para mitigá-la (http://www.opovo.com.br/app/opovo/politica/2013/05/09/noticiasjornalpolitica,3052852/vereadores-reclamam-de-rotulo.shtml)? Coitadinhos...! Reclamam, mas os fatos estão aí: - eles gostam mesmo é de aparecer em seus programas televisivos a mostrar os cadáveres das vítimas que produzimos diariamente. Seus discursos até são inflamados na Câmara, mas lá preferem mesmo é fazer a velha e conhecida politicalha a atapetar, dia-a-dia, seu caminho de volta, nas próximas eleições, à cadeira que hoje ocupam. Os fatos mostram que praticamente nenhum projeto de lei antiviolência redigiram, confirmando o que afirmou a reportagem. Na fachada são contra a violência – seria o cúmulo se fossem abertamente a favor –, mas dela tiram muito proveito em audiência e em votos.
          Conclui-se, para nosso horror, que políticos brasileiros se locupletam de tudo o que não presta. Da mesma forma que os ratos gostam de lixo e podridão. 

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