segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Um fato (de cabritos)

               Manchete esportiva no jornal de hoje: "Ferroviário não resistiu ao poderio do Horizonte". Oitocentas e setenta e três pessoas assistiram, ao vivo, no "Arena", a esta fantástica partida de futebol. Renda: - pouco mais de quinze mil reais. Suponhamos a eqüitativa divisão da receita entre os vinte e dois atletas. Para cada um seiscentos e oitenta e um centavos. O diabo é que há que-se pagar outras tantas contas, a energia elétrica, a água, os funcionários do estádio... Mas, digamos que se dê um calote na COELCE, na GAGECE, nos trabalhadores e se paguem apenas os jogadores. Cada um receberia essa magistral quantia.
               Vejam que, desse público, pouco mais de oitenta entraram sem pagar. Se levarmos em conta que a torcida do Horizonte é uma miragem dessas que avistamos no asfalto em dias quentes, a torcida do Ferrim não se qualifica melhor. Pela televisão dá para comprovar tudo isso. A cada gol – o Horizonte meteu-lhe 3X0 – não se ouviu ninguém vibrar na arquibancada. Conclusão: - os quase oitocentos torcedores corais entraram mudos e saíram calados. Não vibram com o gol porque o time não os faz, nem vaia sua performance que, diga-se de passagem, foi a pior possível.
               Com o epíteto de "O Tubarão da Barra", o Ferroviário mais se assemelha a piaba de aquário ornamental. Em dois jogos o time levou sete gols e não fez unzinho sequer. E nem lembremos que perderam um pênalti no penúltimo jogo e tiveram um jogador expulso neste último. No cômputo geral, dir-se-ia que o escrete apresenta um comportamento de time de várzea. 
               O técnico disse: -"Alguns jogadores têm que se doar mais. Os jovens têm potencial para fazer mais e acabam ficando no campo, andando”. Por seiscentos e tantos reais só dá mesmo pra andar, né não? Doar sangue é de graça, mas vá pedir ao Neymar pra jogar profissionalmente por seiscentos reais!... Ele até que joga, mas uma peladinha. E por apenas cinco minutinhos. Afinal, para ele, qualquer ato futebolístico lhe é promocional. O técnico precisa entender, também, que os jogadores andam porque não há outra alternativa.  Pior seria se sentassem ao gramado e ficassem a papear. Os jogadores do Ferrim, mal sabe o técnico – e a torcida –, foram fazer, ontem à tarde, sua caminhada diária à guisa de lazer. Trocaram a Beira-Mar pelo gramado do novo estádio. Foi isso.
               Agora vejam: - eu nunca soube desse "poderio" horizontino. Escrito numa manchete, imagina-se um Flamengo de Júnior e Zico, um Palmeiras de Leivinha e Ademir da Guia, um Santos de Pelé e Clodoaldo e, vá lá, um Ferrim de Simplício e Cocacola. Pois eis que elevou-se o Horizonte ao status de poderoso irresistível e imbatível. (Que me perdoem a ignorância e intransigência os amigos e leitores que apreciam o futebol local.)
               Na véspera estive com o Chico e o Marcelinho. O Chico estava fulo com a última derrota coral, para o Fortaleza, domingo passado, mas não cogitou "virar a casaca". Como é sabido de todos, o torcedor do Ferroviário não vira a casaca. Sofre – ou não sofre – bem caladinho. E dizia sábado o Chico: -"Cabrito bom não berra"! Há de ser esse o lema da torcida do Ferrim. Somente, então, vi tudo: - a torcida do Ferrim é um fato (de bons e excelentes cabritos). 

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