segunda-feira, 5 de maio de 2014

Parabéns para mim!

                ONTEM fiz 53. Que são 53 diante da infinitude do tempo? Resposta: - nada são diante da imensidão do Altíssimo os meus poucos e minguados 53.
                Dirá alguém que tento me arredar da assunção de uma certa velhice. Afinal, mostram-se-me as cãs e certos cansaços, os físicos e os da paciência, estes bem maiores que aqueles. É preciso, ademais, não confundir o esgotamento da resignação com a intolerância. Isto porque, como reza o senso comum, a velhice deve(ria) sempre trazer a hipertrofia da condescendência. Tolera-se qualquer coisa quando se a compreende. E, com efeito, o que se deve esmerar na velhice não é a tolerância, mas a capacidade de compreender.
                E, admitamos: - compreender não é fácil. Fácil fosse, não se digladiariam as gentes. As audiências, repletas de gente compreensiva, resultariam, quase sempre, em vantajosos e sábios acordos entre as partes litigantes. Sim, porque também quase sempre é possível compreender. Há, contudo, após o exercício da compreensão do outro, e para a boa vontade decorrente daquela, a aceitação. Porque nem sempre a compreensão resulta em aceitação ou acatamento das razões e motivos alheios. Aceitar ou acolher as causas e os porquês, isso sim, gera tolerância.
                Por outro lado, também admitamos: - há coisas intoleráveis e abomináveis. É possível compreendê-las, mas não suportá-las nem aturá-las. 
                Eis que à velhice – não mais falemos em velhice – eis que à maturidade é possível ou, melhor, é altamente desejável que se tolere o tolerável e que se decida, de uma vez por todas e definitivamente, ampliar a lista do inadmissível e do insuportável. Visto que o ser humano é, o mais das vezes, transigente com o erro e até com o crime, é imperativo, à certa altura da vida, repelir e execrar o crime e o abominável.
                A certa altura – não necessariamente aos 53 – percebe-se que compreende-se mais, mas nem por isso tolera-se na mesma proporção. Tolera-se qualquer coisa quando se a compreende, repito; mas não se tolera tudo o que é compreensível. Eis o corolário de uma reflexão cinqüentona. 
                Há amigos que lamentam o tempo transcorrido sobre si; que se embrenham em cavas e profundas amarguras e tristezas; que não resolvem os empecilhos que sua intolerância lhes causa porque insistem em não compreender. Ora, há reflexões essenciais a um cinqüentão. (Poderíamos nos referir aos cinqüentinhas já que há alguns que se apequenam em lucubrações medíocres, improfícuas e inúteis. De que adianta e para que serve o entristecer-se ante o horizonte da finitude? Somente crendo na finitude.)
                Um de meus amigos que se entristecem ao ver passar o tempo – seu nome é Amorim – escreveu-me o seguinte: -"Meu profundo 'pesar'... Foi-se mais um ano". Ele foi, como se pode perceber, vítima de um freudian slip já que, de fato, quis dizer que perdi mais um ano. Poderia ter dito que estou mais moleque; ou que estou mais sabido; ou que estou mais sábio ou menos imbecil; mas não. Disse, com todas as letras, que perdi mais um ano de minha vida. 
               Relendo a frase percebo que não houve nenhum ato falho por parte de meu amigo. Com efeito, ele expressou exatamente o que quis expressar. (No legítimo freudian slip diz-se o oposto do que se quer dizer, traindo-se as reais intenções e pensamentos.) Desta forma, estou mais velho, mais acabado, mais decrépito... (Percebam o macabro e grotesco cenário onde me vejo obrigado e me inserir.) 
                Ora! Pergunto: - de que me serve isto? E mais: - perdi mesmo mais um ano de minha vida? Respondo admitindo o óbvio: - de nada me serve a reflexão de meu amigo, se a levar a sério e já antecipando aos caros e parcos leitores ser ela uma gozação e uma pilhéria entre nós. Ainda mais, não foi um ano perdido: - foi um ano de ganhos, muitos e infindáveis ganhos. (Diz o adágio que o homem não deve mostrar o fundo da alma nem o fundo do bolso.) E antes que os afoitos se apressem a tirar as inevitáveis, precipitadas e equivocadas conclusões, assevero: - há tesouros que nem todo o dinheiro do mundo pode comprar. 
                Quer o Amorim postar-se precipitadamente à fila para o barco de Caronte? Diria que não, que ele não é nem besta... Ademais, Caronte é nada mais nada menos que um mito, uma personagem lendária cuja existência engrossa a crença fantástica dos que rejeitam a reflexão inteligente e útil. 
                Será que me fiz entender?, eis o que me pergunto. Se não, que me resta? Apenas o chavão para o momento: - parabéns para mim!

11 comentários:

  1. Amigão, parabéns. Acompanho-o há tanto tempo e reconheço que você ficou mais sábio, mais humano, mais cristão. Ser teu amigo é uma bênção. Forte abraço.

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  2. Parabéns, sábias palavras. Vou guardá-las e usá-las (com os devidos créditos) quando fizer meus 53.

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  3. Querido amigo FERNANDO - Vocé está muito jovem - Como meu avô as vezes falava '' VOCÊ ESTÁ UM POLTRO ''. Parabéns que DEUS o conserve sempre sendo essa pessoa maravilhosa que és. Acho tuas crônicas fantásticas. Great Hug.
    Luis Cardoso

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  4. PARABÉNS !!!!!

    Dia 2 de outubro chego lá também !

    Como sou daqueles chegados ao surf, ao tenis etc... sinto uma dor crônica no joelho, também uma lombar que é muito chata sem falar no ombro que está sempre me lembrando que passei dos cinquentinhas, mas o que incomoda mesmo é uma tal de epcondilite que teima em não me abandonar...

    Mas voltando a você, desejo um feliz aniversário atrasado, muita paz, saúde e felicidade e peço a Deus que derrame sobre o amigo toda a sabedoria que vem do Seu trono.

    Um grande abraço, e obrigado por compartilhar conosco seus textos sempre muito inteligentes e divertidos.

    Fernandes Filho

    Zorrinho

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  5. Ola, dr. Fernando!!!
    Acredito q manifestações de carinho são atemporais...por isso, FELIZ ANIVERSÁRIO atrasado...saúde em todas as áreas da sua vida!

    Sinta o meu abraço!



    E até que a gente se encontre fique pois com tudo o que acalma o coração.

    Marcia Santiago

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  6. Meu eterno Presidente,
    Tentei responder pelo blog, mas pediram meu CPF, conta bancária e o telefone da minha madrinha…
    Gostaria de dizer aos seus 53 anos que, uma vez que tenho o prazer de usufruir de sua amizade há mais de
    40 anos, eles ratificam sua maturidade, seu bem estar com a vida e consigo mesmo…! Parabéns, SEMPRE!!!
    Billy

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    1. Caríssimo e antiquíssimo amigo Billy,
      Esse pessoal do Google é fogo. Umas frescuras de rabo, umas besteirinhas inúteis, coisa de viadagem...
      Obrigado pelos votos. Publicarei eu mesmo no blog, dando ao amigo os devidos créditos, teu comentário.

      Forte abraço,

      FC

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  7. Caro Fernando, nesse ano passei batido pelo seu aniversário, mas como a distancia "separa os amigos mas não as amizades" continuo com você nas nossas boas lembranças da velha amizade que não tem idade e nem envelhece. Grande abraço do sempre amigo Gilmar e parabéns meio atrasado...

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  8. Caro Fernando, nesse ano passei batido pelo seu aniversário, mas como a distancia "separa os amigos mas não as amizades" continuo com você nas nossas boas lembranças da velha amizade que não tem idade e nem envelhece. Grande abraço do sempre amigo Gilmar

    Gilmar
    85-8957.5301

    Se as coisas são inatingíveis... ora!
    Não é motivo para não querê-las...
    Que tristes os caminhos, se não fora
    A presença distante das estrelas!

    Mario Quintana

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  9. Bela conclusão Amigo e independentemente do sentimento do "Amorim" - , tanto o pensamento dele com tb seu belo texto, amplia e aprofunda a refletir toda a nossa existência.

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